terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Imolação


Poeira que sou, Here I am
Entre dois caminhos:
Apolo fita-me austero
Dionísio oferece-me vinho
Dores díspares, dissonantes ecos meus
Vagando presos em uma realidade única

Entre os invernos do sentir
É difícil fazer perguntas de tarde
Como se as belas imagens não quisessem
No fundo, me pertencer...
 me fazer delas sua morada
Descolorido within my mind
Não consigo me aprofundar
Nas minhas profundidades
Entre caldos de lava e medo
Inexorável mergulho e jorro
Antilirical melody of my soil
Pardon me eu não queria...

Malbaratar-me tanto do meu instante
Como se quisesse roubar-me de mim
Estranha equação de perdição 
Em que me ancorei insólito

Quero um céu desconhecido
Constante como uma viola de fado
Mudos acordes temperando 
A vida que quero viver 
Entremeada de sonho e visões

Adianta, Bruno, tatuar na pele
alguma alquimia verbal 
Em que não se celebra o corpo
Mas o destrói em sacrifício do rito 
Do supremo soneto?

Bruno Borin Boccia

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O meu outro


Deslizo a mão por minha pele.
Já não sei onde a cicatriz divisa;
A dor que luzia na densa neve
Era timbre ou uma lebre arisca?

Viola que dedilha destinos fundos
E guarda a porta do fim do mundo;
Afora é amor, adentro torpor agudo
Fluido cenário correndo nulinerve;

Coisa que ferve as veias infinitas
E brinca de desmesurar a paixão!
Mar de lembrar emoções tão bonitas...

Sorvendo do cálice das coisas íntimas
Busco neste meu império dos sentidos
O âmago imortal da minha inspiração!

Bruno Borin

À trova como raiz e razão de viver




As virtudes de todo bom poema
São três: o bom, o belo e o certo.
Como antigo cromado diadema:
Escreve-se com o coração perto.

Cada forte pulsar do peito quieto
Agita-se nas mãos como teorema:
Um lado, som, palavras e silêncio;
D’outro, fala, rima e dilema.

É bordar com a alma a brancura,
Alinhavar os sonhos nas loucuras,
Deixar de lado as vestes mundanas:

Buscando o bom como sua usura,
Amando o belo como sua cura
E tendo a certeza como soberana.

Bruno Borin & Maykel M. de Paiva

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Voto


Sabia, meu amor querido
Que a razão de amar-te
É de apenas amor sentir?

Sabia, um coração florido
Existe por bem querer-te;
Pulsa por seu singelo existir?

Tudo que tenho aprendido,
Aprendi em função de ter-te
Guiando a vida por teu luzir!

Tudo que tenho será dividido:
Não tem para quê estimar-te
E em brevidade, ver-te partir!

Sei bem que a tua preocupação
Não é o amor; mas veja, amar-te
Frutificou! Com o teu permitir!

Sob as cerejeiras em floração
Nossos mais profundos desejos 
Cresceram em bonita constelação!

Bruno Borin 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Horror



Que dor maior, pensar numa terra
Que não o tenha como habitante!
Meu coração haveria, no instante,
De expirar, neste futuro dissonante

De meu visceral desejo: junto viver!
Povoado dos gestos de sonho de amor,
Beijos secretos d'um veludo acolhedor;
Jamais saberia por onde me refazer!

Sem o misterioso livro do teu ser vivo
Esboroariam as cores; em rumo perdido;
A poesia não teria a mesma flama ardida!

Sem tua mística aurora mais-que-nascente, 
Eu iria dilacerar todas as minhas carnes
E só enxergaria o anelo do sol poente...

Bruno Borin

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Aluado


In an obscure night
Fevered with love's anxiety
(O hapless, happy plight!)
I went, none seeing me
Forth from my house, where all things quiet be

São João da Cruz - "Noite Escura da alma"

Eis meu último cálice de vinho
Não é muito para a diluição, 
Das velhas dores da invenção
Escritas no estimado Pergaminho...

O que dizer? É tão vã e esparsa 
Essa verdade que nos predomina;
De gole em gole quase nem rima,
Como um coração em desgraça!

Fechando as pálpebras languentes
Procuro reunir minhas metafísicas
E no verso escandir vários segredos!

E em ramagens tristes e fatiloquentes
Descubro nas minhas ilusões oníricas:
Escrevo tateando o mais puro nigredo!

Bruno Borin

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Lucífugo


Que instigante simbiose esta!
Uma Orgânica sintonia funesta
Como se pela noite protegido,
Fosse, pelo fúlgido luar, ungido!

Ah frialdade vã da madrugada
São cativantes as meditações 
Oriundos dos mais inesperados
Torpores! Poéticas elucubrações!

Despido da lida arbitrária diurnal
Posso, adentrar-me no paço eternal
E nele dançar melodias excêntricas
Até me reconhecer nas doces métricas!

Adianta gritar a um Deus por sono;
Quando a alma inquieta, longe adeja
Afogar-se sem sonho como um colono,
Para não sonhar com o que se deseja?

Será medo meu de adormecer docemente
E lá, ao dobrar uma esquina bem inocente
Não ver mais traço deste povoado mundo?
Ou sou refém de uma tristeza tão sem fundo
Que não posso dormir com a alma chorando?

Bruno Borin

terça-feira, 3 de julho de 2018

O que é um soneto?


O que é um soneto, senão parte riso
E parte da lágrima que compartilho:
O instante em que a chuva nos tinge,
Sabiá com trevas e mistério de esfinge?

O momento do abraço ou do beijo,
Carinho que viaja neste proibido Tejo,
É forma presente ou já esquecida?
Qual seu sentido - Métrico ou lúdico?

Vaso chinês ou porcelanato floral?
Cadência de estrelas, rã no regato,
Vernáculos em escrita escultural?

A surpresa do verso é nunca saber
Se advém de inspirado aprender,
Ou calculado e esmerado aparato!

Bruno Borin

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Utopia


Bem queria ser a novidade insurgente:
Ineditude a estourar bem inocente,
Um soneto que rimasse um pós-tudo:
Mas estou aqui, arcaico, meio fulvo!

Delirando um sentido de além, sumido, 
Desafinado e furtivo, tal a modernidade:
Ambiguidade dragonesa, signo postiço;
Liquefeita e imperfeita essa verbosidade!

Queria escrever meu poema, sem lendas
Atual e político, que se fizesse gramatura
Solta, pulsante, mas não é por estas sendas

Que meu espírito deambula longe, irriquieto!
Amálgama rubra de mitos, segredos e agrura:
Perpétuo templo ou antigo copo de cianeto...

Bruno Borin

Afogamento


Mergulho

Nas funduras

Obscuras do meu ser

Para obter a mais pura luz



Singro as ondas

Revoltosas

Das emoções escondidas

Metade dívida

Metade treva

Muralha de espelhos

Postigo dos desejos



Como nuvens de fogo

No céu do meu delírio

A dor dos calendários

Confronta a lisura do papel

Beirando a lágrima do meu ser



Humana ideia de mim

Que sou só esboço

Barco bordado

No tear desconhecido...

 Bruno Borin

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Canção do errante


A vida é variavel assim como o Euripo.
Apollinaire

I

Cruzando a ponte febril de nuvens
Me espargi como um rio no oceano
E como lembranças a flutuar, surge
A vida, em cartas de um baralho decano

Nas ruas sem número do meu epicentro
O sol dos dias brilha dilacerado, tentando
As cavalarias alcoolicas que, trotando
A esmo, fiscalizam os proclamados remendos

Em vagas faces, de sombras vivazes compondo
O cipreste oloroso e destituido de sentido;
Um monumento profano é soerguido 
No lugar de uma proscita ruína sem rosto!

Enquanto dançáveis melodias variavam
Ditando os passos a serem dados
Esqueci dos comprados alambrados 
Em um padecer que os céus me alijavam...

II

Não sei o que é mais fugaz, 
Se é a vida a nos entoar
- A final canção 
Ou o coração a ditar
- A feroz paixão! 

Em mãos de outono, se perdem
Os signos colhidos do junco
As queixas de verão cedem
Ao corado sumo
E acordes bailam nos yeah yeahs da vida.

Morrem muitos cantos, muitas melodias
As portas batem sorrindo terrivelmente
O amor dura um lapso de segundo
O tempo de uma visão subliminar
Ser esquecida, mas uma eternidade
Para ser posto de lado como uma memória
Vazia.

Feias são as beatitudes, senão compostas
De sonhos honestos e romances perdidos
Do sangue dos deuses que se compõem
As artes que ferem a alma dos astros
E revelam a mentira das estrelas.

Eu me eternizarei sob o espinhal em flores
Recuso a tenra grama e os campos lilases
Do verbo quero o ritmo da existência
a bradar cem anos de consolo para uma dor
Que não se alcança.


III

Meu revelar é também um esconder.
Bruno Borin

Precisando de favos de azul
Vestido de incompletudes 
E sentindo que perdi my soul
Reconheço essa tal solitude

No desamparado castigo 
Nas próprias condolências
Acho as profundas essências 
Do meu antigo postigo!

Distanciando do matiz verde
Segmentado em res urbana
Componho minha verve
Do intransponível engano;

Desejando o purpúreo lupanar
Das ideias fátuas e merencórias;
Proclamei sem dolo um pressagiar
Instaurando o ritmo destas rapsódias

Nos verbos de ação mais fantasiosa
Para mendigar cores que nunca tive
E não absconsar na mesmice,
Perdendo minha mocidade preciosa...

Bruno Borin

Soneto do dormir junto


                                 - À João V.

Dedilho em seu ventre
A descoberta do amor,
Muitos mistérios entre
Os cânticos de clamor

E as vidas que nos juntam,
Na roda da fortuna, a girar,
Tão novas melodias a cantar,
As razões que nos caminham!

Um soneto não há de resumir
O que há tanto tenho sentido!
Mas em meu singelo bramido:

Expresso o que vêm remexido;
A cada acorde que se põe a luzir
A vidinha de amor a se conduzir...

Bruno Borin

Quadro negro


                                       - Aos amores passados

Na noite riscada de giz
Encharco minha vida
Descuidado com o verniz,
Perdido na grande avenida

Entre tanto sentir, todas as cores
Estavam soltas ao chão, diluídas
A que escolhi: Só trouxe dores,
E meu medo leva à estas cálidas

Telas, que têm a tua tinta
Em meus rascunhos de amor
A lapidar em bela escrita
Algo entre fantasia e dissabor

Tanto poderia desabrochar
O caminho por ti escolhido: 
Foi mais abrupto desmanchar,
Restou colher da falta de sentido

Expectativas quebradas, em rastilho
Se enveredando pelas raízes do sentir
E a primavera, febre, frágil ao bramir
Não deteve seu florir, castigado brilho.

Lábios assinalaram desejo de infinito
Jamais imaginando este durar mais
Que moucos segundos, manuscritos,
Tão perdidos quanto cingidos de gris...

Bruno Borin

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Agrypnia


Em formas turvas, tentaculares 
Estranhos entes de sonhos cruéis
Manifestam-se em terríveis dosséis
Ao concretizarem os meus azares!

A luz verte em ignóbil aura trevosa
E olhos fosfosrecentes me devoram
E eu navego nesta turba horrorosa
De onde as insônias que apavoram,

Nascem em noctívago, vital anelo  
Uma Eterna noite, que mataria mil sóis
E me trancaria em goticismo flagelo:

Aristocrática a sinfonia do pesar:
É Solitude da mente mouca de heróis
Verbos que libertariam do fantasiar.

Bruno Borin

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Derrota


A aprendizagem que me deram? Eu desci dela pela janela das traseiras da casa
- Álvaro de Campos - Tabacaria


Perdido em pequenos timbres de ouro
Navego no sonho com um luar errado
Eu sou o que falta na paisagem cristal
- Amontoado de vértices em verso branco
Onde singra rubro, o tropel das vibrações 
Em ritmos iriados como mandamentos...

Ó luar errado, queria acreditar  na ciência cosmopolita dos signos
 - Mas esse cansaço, como uma súbita e inexplicável ternura
Bruma o meu entendimento desgraciosamente!
E como num grande espelho quadrangular, vejo-me
Sentado a sorver o pior da humanidade, e um punhado de @@@@

Que vértices cegantes! Que calor desumano! 
Caiu um prédio na minha vida! Ninguém nem reclamou!
Eu só lembrei de baloiçar o pasmo de minha alma
Estirar uns tapetes para mais um assombro, como outros que receberei!
Mas o que sempre quis era vomitar a minha própria carne
E ver o Jaquaribe da minha vida escorrendo pela calçada

Que erro, eu nunca mais me imaginei enroscado nas serpentes do sentir
Mas estavam lá todas as mambas, Álvaro estava certo o tempo todo!
O Cansaço desbota os cetins do nosso espírito...
Ainda lembro das minhas garras de marfim e do sonho branco
Que me levavam para um êxtase infantil e prateado
Um Lord reduzido a imagens e montras com a minha dor estampada!

Hoje choram em mim cores perdidas, rimas rejeitadas
Todo um estilo de ouro esquecido, arrancado de memórias tristes
Dos poetas de outrora, gente desquitada da vida
Gente que queria virar gramaturas cansadas e arfantes
Acordes de uma Paris ainda viva e cintilante,
A latejar cristalizações enevoadas e difusas, e um cansaço
Um espasmo cardíaco que dói mais na alma que no corpo
´
Ó lua errado, me desculpe! Não tenho rituais a oferecer
Porque não há nada que possa fazer pelo Tehom do meu Vocabulário!
Veja, toda essa beleza inatingível... Não é para mim!
Eu que sou um punhado de cordas partidas 
Queria atapetar uma escada, apenas para rolar nela o meu corpo torcido
Porque mesmo se levantasse da cadeira e vivesse
A Beleza passaria por mim, mas eu jamais me tornaria a Beleza...

Bruno Borin

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Derrubada


Ah saudoso Jaguaribe, Rio de minha vida 
Águas imaginárias em que nadei...
Águas em que correm a força de Tupã
O sangue do trovão sem tempestade!

Queria ver-te mais uma vez cirandando, 
Sem o progresso da civilização 
Arco e flecha sem rumo de morte
A pureza livre de um verso inocente!

Dançam nas cordas o hiato das eras
Yamandú catequizado reza o terço
Empurrando as nuvens do céu 
Para dar sol às tíbías Caapongas 
Botões de cura em tempos negros...

Mistérios da língua Tupi, caraguatá
Para quem sabe da chaga e do luto,
Mitos que morrem entre balas e anúncios 
Mata derrubada, Adeus Poti...
Iracema é morta!
Rubra cor pinta as margens
Do saudoso Jaguaribe...

Bruno Borin

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Da pulcritude


Meu amor, quantos abraços me deste?
Navegando em azul oceano, sua luz,
Tão estimada! Foi meu grandioso leste;
Contra o destino traçado, nada opus! 

Contra mares avessos singrei corajoso
Tendo seu ideal como coloridas velas.
O "preparo do céu" se fazia bem jocoso;
A tormenta não abalaria as Caravelas!

Mas segui avulso ao país desconhecido,
Içei velas aos quatro ventos da inspiração;
Ao seu mundo adentrei e hoje, unido,

Persigo as ramagens etéreas da criação,
Onde a pulcritude ramifica absoluta;
Os gestos de amor são mais que conduta!

Bruno Borin


domingo, 1 de abril de 2018

Lembrança de Ostara


I

Viviam em uma época lúdica e antiga
Um pássaro lindo, de azul plumagem
E uma deusa amável, digna de cantiga;
Eles brincavam com crianças na folhagem

Pousada a cantar, a ave de tão mágica
Quanto a deusa, sua melodia de amores
a transformou em um coelho num átimo;
Todos celebraram o feito com clamores!

Passaram as estações, a lebre triste,
Triste ficara, nem a deusa podia ajudar 
Sem poderes durante o inverto em riste!

Quem sabe na primavera, a deusa forte
Pudesse de volta a ave transformar? 
Dito e feito! Floriu o tempo de sorte!


II

O lindo pássaro azul pôde cantar e voar
Novamente! E em felicidade real e suprema
Quatro ovos botara! Num ninho de alfazema,
Para cada estação do ano nunca se olvidar!

O pássaro, após algum tempo, em lépida lebre 
Retornara! Agradecido seus tenros ovos pintou 
Para os quatro cantos do mundo os distribuiu
A deusa tão enternecida, em seu trono de sebe

Reconheceu o ato danoso ao arbítrio dos seres
E tatuou no rosto da lua esta bela mensagem
E até hoje podemos ver estes belos saberes:

Uma silhueta de coelhinho, em nome de Ostera!
A Era de Ouro nos lega esta inocente imagem...
E Contar uma historinha destas, quem me dera!

Bruno Borin

quarta-feira, 28 de março de 2018

Derruído


O pranto é uma dança morta
Cor sangrenta de artista
Altar dos sonhos catatônicos
Onde o corpo, sudário de pele
Demarca em gotas de fogo
O sentimento vago e líquido
De não se conhecer tanto assim...

Não sei se moro na chuvosa saudade
Ou na quente presença do amado
Não sei se é falência das coisas
Um eu sempre se esboroa
E dá forma ao poema incógnito
Laivando meu corpo de algo manifesto
Construído ao acaso, do não saber
Daquele precisar escrever 

Nada sagrado arranquei com as mãos
Apenas uma cacofonia metrificada
Que me guia até você
Me convidando para um baile às cegas
Onde nosso corpo real baila
Em procissão, bordados em oiro
Miragem aguada metida em lã vermelha
Desfolhando chuvas sem molhar

Ahh... Deuses do amor 
Dentro de suas estátuas derruídas,
Já sentiram tal saudade?
Tal amor sublime e vivo dentro de si? 

Redemoinhos do meu sentir
Me preencham de phantomes
Recuso a luz branca e vazia
Não me larguem de você, amado!
Porque não sei mais ser sozinho...

Bruno Borin


sábado, 17 de fevereiro de 2018

A sad sonnet


O my sleeper echo maiden
Bright be thy sweet face:
Sorrow is a Shadow raven
Pity, is so severe thou ache!

Who consumes thou pureness
I know thou havest been imersed
In the obscure dome of sickness
Such cold, fragile touch, cursed...

Fall in love with such dead boy
No good would make, and cry
Is no longer a way, dry like soy,

Thou eyes are. If loneliness was all;
But the dead wants the pure ones
To join them in the great nightfall.

Bruno Borin


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Nigredo


À Baudelaire

"Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo"
- Virgílio

Preso na noite de um verão gélido
Sonho, numa onda calma e negra
A quadra de uma soberania hedra
A galgar os céus num voar tépido:

Ansiando fazer sentidos de grandeza
Atrapado na densa, espargíria sensação
Baudelaire! Te penso em sua rudeza
A poesia é o único abrigo da invenção!

Mas não qualquer criação! O etéreo Eu!
Aquele de paletó ideal, A quem abraça
Somente o grande inverno do plebeu
Que cultiva a dor em campo de lavra! 

Porque na folhagem incerta do destino
Floriu! Não um lugar no de todos, Mundo. 
Onde o corpo do beijo dorme, bem fundo:
Fonte do vinho mais velho, bordô menino!

Esotérico lugar, de difícil entendimento,
E o pior! Sem óbolos para o barqueiro!
A estética é o único presente rudimento,
Das auroras roubamos cores pr'o tinteiro!

Fiz deste tinteiro meu estimado ébrio barco
Porque não quero do real, os parcos cobres
Estes só salgam os coágulos de meus odres;
Perdido em brumas violentas,  reteso o arco...

Mirando nos lamentos, mataria mil sóis
Para agarrar apenas uma noite eterna!
Eu teria gostado de acordar nos arbóis
De uma nova percepção, e ser primavera

Eu teria gostado de despertar um povo...
De tecer hipocampos sem algum pranto
Mas prossigo num dançar pálido, covo...
Ainda faço do torpor o meu querido antro.

Bruno Borin



domingo, 28 de janeiro de 2018

Amor à Moda trovadoresca


Se estiveres vivendo um romance
Não deverias evocar o amor perdido
Aquele  erro à mui custo esquecido:
Não o troques por algo sem alcance!

Ao escreveres o poema tenhas Ele
E seu olhar e gestos furtivos contigo
Para que a poesia o tenha em abrigo:
Tua querência advém porque és querido!

Para as quadras finais, lembranças: 
Deixes os primevos dias de amor 
E o despontar do sorriso acolhedor

E a promessa do sempre a invadir
A emenda que se faria sem tardança
A um soneto de amor a se escandir. 

Bruno Borin

Fly me to Zenith



Do ofício e do artifício conjugados
como o faro e os cães, no dia de caça,
resta a fronteira sonora que atravesso
transformado em sintaxe.

- Lêdo Ivo

Para além do mundo
Meu olhar tece uma vida
Firmada em imaginação
Uma fauna que não contém
Somente leões e tigres
Mas Quimeras e Unicórnios
Povoando florestas jamais visitadas
Porque meus milênios dissolveram-se
No pó dos poemas épicos do passado
Onde a história e o mito se confundem
E os deuses já corpóreos, lutam nossas batalhas
E o descalabro da vida vence as leis nefastas
Que se publicam com o aval do dinheiro
Vivo num horizonte expulso de expectativas
Primoridial como o Oceano, meu desejo
Se inscreve nas tabuletas do Eu 
Como os feitos de Gilgamesh
Foram escritos nos registros Acádios
Mas não esqueço de olhar com tristeza
Para este meu país palustre 
Onde multidões mastigadas
Se divertem enquanto a poesia ecoa
Muda, tetraplégica na alma dos homens
Porque se a poesia salva um afogado
Deixou morrer Li Bai, abraçado à lua
Me deixando desprovido de símbolos
Apenas eu e o céu vertiginoso da escrita
Navegando no fel da estrelas mortas
Zênite ou Órion, soletrando a ferrugem dos dias
Em lágrimas calcinadas pela chuva...

Bruno Borin 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Soneto épico

"Àquele que o abismo viu"

Penso num longínquo pretérito
Antes mesmo da forja da espada;
Os reinos se ganhavam por mérito,
O bronze brandia na selva calada!

Ele, guerreiro, que o abismo viu
Deu forma à poesia, vinda do barro
Glória de rei eterno, o Dilúvio viu
Dos mitos o primeiro grande achado!

Mais épico que Eneida, herói nosso!
O mundo reconstruiu, portões abriu;
Humbaba o temido, destruiu!

O primeiro grande épico esboço:
A Jornada, a luta e o pesar sentiu,
A Acádia lembra seu esforço!

Bruno Borin

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Indolência


"O teu nascer constante
Traz castigo
Os teus ressuscitares
Serão prantos"

Hilda Hilst

Em meu corpo de abismo
Perdi um castelo inteiro!
Mil escadarias de achismo
E um menino bem arteiro...

Desfiei luzes revoltosas,
Dessas que tudo consomem, 
E não vingam, nodosas;
Nascem vagas e morrem...

Inventar líricos enganos:
Ofício da beleza ou fardo?
É trama de poucos insanos

A verdade tem jeito de rosa
A mentira aroma do cardo 
Na poesia viram lindos ramos...

Bruno Borin