quarta-feira, 31 de julho de 2013

O cotidiano do quintal


Joguei minhas rimas no quintal
E elas resvalaram para o fogo
Que aturde a paz morna e vegetal

Das coisas que rastejavam; -Bestial
Era o silêncio das lesmas em jogo
Perante o sal sádico e jogral,

Espargindo-se na vigília receosa
Da erva hesitante e daninha,
A contrastar perante a andorinha
Que esvoaça livre e ambiciosa.

Quantos caracóis, no vão da escada
Criaram suas emoções viscosas
No chão, de forma tão despreocupada?
-A luz que não se explica desce rançosa;

O musgo soletrava as minhas vogais
Com um sotaque liquenoso e rampeiro 
E as formigas me colhiam consoantes inteiras,

Com o ar contábil dos economistas, 
Pois estas sim sabem o quanto é mista,
A vida composta só de luz e escuridão.

Sem noção de meridiano as moscas vão às frutas
Como executivos apressados vão a sua labuta
E as horas, perplexas, são bebidas por este fluxo 

Sem fim de inúmeras gentes atarefadas
Em seu mundo diminuto e sem constelações
Cada um à sua maneira, sem precisar de procurações

Para a partilha das folhas que são levadas
Pela brisa que me rouba o sonho não sonhado
E joga no horizonte mais rimas não rimadas.

By: Bruno

domingo, 28 de julho de 2013

Soneto da vida urbana

As nuvens que cegam o sol evasivo do entardecer
Me despejam sua lâmina de água desnuda,
Lembranças pensadas se fundem mudas
Com memórias evocadas sem meu querer 

Inquebrantáveis são as marés do tempo
Onde peixes estranhos roçam suas eternidades
Em nossos pés redimidos com a efemeridade,
Que dão passos receosos contra a vontade do vento

Um socó paira, triturando o transitório, 
Voando pelas estrelas, candeias lançadas contra mim
Em fímbria intimidade com o merencório,

Colorindo a constelação da minha vida urbana
Sou viajor sem bagagem, pelas horas que enfim
Dormem sem me despertar das avenidas ufanas. 

By: Bruno

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Teus pés

Lívidos, quentes e de laborioso aspecto
Pés imaginados por delírios vagos
Vindos do mistério da carne e do afeto
Que és tu, que meus receios apaga...

Sensações inéditas que em mim se propagam
Desde o momento do devaneio
Aguardando o dia do nosso eterno veraneio,
Segundos de eternidade que nos inflamam...

Pés que integram um corpo febril 
Imagem onírica de anatomias claras
És uma estrofe augusta e subtil 

A inspirar a sorver da vida o desejo,
Minh'alma por tua figura alva, apaixonada
E por tua mente, igualmente cativada...

By: Bruno

Soneto egomaníaco

Respiro entre meus dons confusos
A magia tecnológica da computação
Capital da moderna alienação,
Que contunde meus sentidos em profusão

Sopro onde posso, a minha retórica
De amor e de fantasia, sobre as horas.
O pranto que transbordo é aurora
Cíclica das emoções ourobóricas.

Estou sempre onde chovem docemente
As incógnitas escabrosas, as quimeras
Do vocábulo que rugem incoerentes.

Sou e serei sempre a dúbia potestade inerente
À fragmentação e livre associação vivente,
Da linguagem de todas as eras.

By: Bruno 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Pretérito, te deixo!

Pretérito indefinido, te deixo para trás!
A bailar, em meu céu fictício,
Lanço-me à vida, em louco lilás,
Não mais me ocupo, tenho escárnio

Do sol que achava maduro, perfeito busto
Que maldizia-me um caminho ideal
E me fazia negar o rito real
Do universal sentir, amor augusto

Que eu tanto quis, tanto procurei
Sem saber me inventar,
Pífia certeza a proclamar

Fantasia que muito sustentei
Até sentir o que é de fato amar,
Escritura que lavrei e é de se celebrar.

Bruno Borin 

quarta-feira, 17 de julho de 2013



Choro, acabo molhando 

a minha eternidade,

sobre essa tal maldade

ainda morro pensando.


By: Bruno

Sumiço


Teu corpo de gato canta o escuro
Que ressona uma lua madura e pronta
Para receber tua forma infinita de mundo
Metáfora perdida que colore o fardo humano.

Tentei dizer a mim, a meu choro resistido,
À destilação das luzes da alvorada
Que tu voltarias bem de madrugada,
E ainda tento dizer, sem saber o que pensar.

O que sentir sobre o tempo que marcha como homem,
Ao meu lado como uma sombra irremediável?
-Será que ela também te espera?
Sei que guarda de mim um segredo
Talvez sujo de sangue ou sujo de verdade
 Ainda sim... um segredo?

Juncado à lembrança e ao porvir, te espero
Não canso e não sei o que sentir
Será que essa sombra personificada de segredo
Chorou a tua saudade? Talvez ela não
 Mas eu sim.

By: Bruno

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ballade für meinen Jungen

Rosto comprido, noviço e pele tão macia
Quanto a bruma de inverno que me esfria,
Dialética alemã que eu sigo e que me agrada
Traço teu, que manejo nesta balada.
Em passos leves e voz grave e elegante
Guardo a memória deste corpo completo,
E de sua alma de poética irradiante;
-Eu admiro teu observativo aspecto.

Teu nome, oiço no gorjeio do vento,
Querendo o farfalhar do meu sentimento
Espalhar, sob tuas madeixas lourejantes
Como lumes que cintilam doidejantes,
  Numa noite romântica.

By: Bruno  

À ti.

Queria morar para sempre neste teu olhar que me desenha
Nestes teus dedos que me carregam como brinquedo
Dar voltas no contorno dos traços teus
Escorregando de tua macia tez até teu peito
Desbravando a ventura dos teus batimentos
Escalonando a métrica do teu sorriso
Envolvendo teus membros tal como vento curioso
Reconhecendo a minha morada
Em ti, verso feito de beijo
Faz de mim um livro cingido de ternura
Vida escrita no silêncio
Em invernos de cetim
E verões sanguíneos
Em versos talhados nos sonhos
Estações misturadas e mistificadas
Por oceanos de amor dedicados a ti...

By: Bruno

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Intoxicação


Com seus olhos, me você me intoxicou,
Minha doce flor de olhos venenosos
Em seus detalhes, me alinhavo em emboscadas,
Minha proteção suicidamente se desenlaçou

Desaguando em sentimentos coloridos,
O desejo de um voar intrépido e ansioso
Demarca pulsações deliberadamente improvisadas
O mau costume das pétalas molhadas e atrevidas

Se mescla ao meu de brincar de pintar vocábulos
Em orações em formato de flores estranhas
Que só encontram morada nas desenhadas montanhas 
Da paixão, como seus insondáveis tabernáculos.

Meu sonho infinito de melodia sonâmbula 
Une-se à translucidez da raiz que se afirma
Sem dimensão dentro da terra sanguínea,
Nem enleio dentro da minha imaginação espireínea

Me acometendo de uma febre líquida e incerta,
Abalando minha química suscetível e aberta
E convulsionando os meus antes,
-Não consigo mais localizar os meus depois

Naveguei sem caravela de blues em blues
Procurando razão nestas equações marítimas
Em que me perco mesmo tão ritmadas
Quanto as ondas dos mares mais azuis

Que imaginei serem azuis, mas eram acastanhados
Como um grande pinheiral amadeirado
Banhado pelo deslimite imaginário
Do céu moldado pelo solar carcerário

Que dita o ardiloso frio desses dias 
Com os raios nômades de sua carne celeste
Misturados à vertigem da linguagem,
-Ai como as letras são arredias

Quando o assunto é o amor,
As coisas entalham-se na inspiração,
Remexem-se amorfas na respiração
E regozijam na tão temida dor

Mas os sons, não são tão ardidos
Para quem os vê tão quietinhos
Dentro de seus moucos bramidos
Soando latentes e bonitinhos

Suplicando o amor desejado
Do qual me sinto intoxicado
Desejando o que não se pode legendar
E o que se tenta em vão, desmistificar

Remetendo à uma dialética diferente
Que não trata tão somente do ente
E que também coexiste reciprocamente;
E sabem como ninguém, como esta mente!

E blefa e queima tanto na lágrima quanto na vida;
Nas memórias e nas eternais cicatrizes
É um andar incerto numa movimentada avenida,
É deduzir os transeuntes, solitariamente felizes!

Nalguma pincelada, talvez soe como revelia
Os traços de pós-modernidade rumorando miragens
Sob a desnudez do tempo, em alguma estalagem
Os delineios de seu corpo, eu veementemente lia

E que represavam meus incêndios futuros 
Ou talvez passados, algo alumiado
Entre o há-de-haver e o havido, anestesiado
Pelas visões que eu ludicamente conjuro

E que seguindo o sangrar módico
Apagam-se sob ventos breves
E tão já remediados, são tão leves
Que nem fecha mais seus olhos metódicos

Range o século nas costelas,
Como reza o coração, a famosa,
Fatídica e aclamada oração,
Pura pulsação, labareda sem cautela

Ferrovia que perpassa meu crânio
E projeta meu sonho sob o amanhecido 
Clarim, um fetiche bem conhecido
Pelas mudas desavergonhadas dos gerânios

Que retificam tal boba proeminência
Que jurou ser uma reminiscência
E que eu teimei serem novas,
Posto que os sentimentos sempre se renovam!

By: Bruno

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sons não me bastam...



Visto o inverno como meu manto
Verdadeiro, como o gotejado canto
Que oiço, como vozes que passam

Me visto de emoções imantadas
Por entre respirações fragmentadas
Que atento coleto, pois sons não me bastam...

By: Bruno

domingo, 7 de julho de 2013

Acordes de guitarra


Acordes, inflamados, precisos acordes 
Soluçados nas claves de fá e de sol,
A nos envolver sob a ferrugem do arrebol, 
Quebrantando aos ouvidos tal ondas nos fiordes.

Traduzindo emoções pel'alma vagueantes 
Em dolências sutis, consolo instigando;
Sonoro guia nesta caminhada errante
Eternamente nos corações inspirando

Refrões novos a se criar,
Ecos de engajamento e arte
Dos prantos e júbilos partem.

Canções a transcendentalizar
A imortal natureza humana 
Contida nestes efêmeros nirvanas!

By: Bruno

sábado, 6 de julho de 2013

Dimensionalismo


Nos tachos que aprisionam os traços de lágrimas que não caíram
Me dissocio da compreensão das dimensões, que em melodia 
Me carregam a percorrer suas superfícies trementes com os dedos
Na tentativa de colher a fermentação das matizes escuras que me delicadamente
Envolveram, corrompendo minha nauseante pureza, minha febril fraqueza, até que eu desvisse completamente a realidade.

Com isso, pude ver o delirioso sonho dos lírios, que desejavam atingir a brancura suprema;
Que é só atingida pela serenidade da neve montanhesa, onde ainda há casas de madeira, incomunicáveis em meio às nevascas e aos animais bravios que lá habitam
Eu ouvi, arrepiadíssimo o grito boreal das verdades fonéticas das palavras, elas 
não querem mais habitar os papéis, as escrituras, os ofícios, elas desejam muito ser pintadas como sons, elas querem escorrer para fora das folhas sujas dos 
cadernos dos adolescentes, enjoadas de garranchos e temerosas das borrachas 
das professoras irritadas, à alquimia devem ser devolvidas, ao místico caldeirão da retórica lírica, e certamente às cordas vocais dos bardos de outrora...

1,2,3 testando, it's working, guys!
Junto ao cadáver dos deuses Sumérios, há o milagre da multiplicação dos números, delinquentes vapores das álgebras a nos murmurar tecnologias estranhas, a escolha da morte já estava traçada, só precisamos de robôs que façam isso por nós!

O que falar das visões das vísceras pentecostais? Ruínas vivas e arcanas a decantar a profusão mística nas almas numéricas e consonantais. Ruminando 
signos e símbolos crucificados pelo tempo nas dimensões terrenas...

Foi muito antes dos pássaros que aprendemos a cantar, mas a dadivosa harmonia não nos foi simplesmente dada, o mérito nunca nasceu conosco, teve de ser arrancado das penas e colocadas nas harpas das musas nos dias de luares ternos, correspondentes à ternura falsa dos das tumbas das mitologias passadas...

Trè bien, ao bolero das mágoas, ao fado das águas devo a fermentação das 
superfícies inconstantes dos meus epitélios, já intocáveis agora nesta dimensão, 
onde corvos poisam nos galhos do oceano, à espreita de tubarões de sentimentos que os levarão à turbilhões de realidade massificada e pronta para consumo, é só abrir a lata de cerveja e esperar. As cidades dos desejos e as capelas da mocidade serão engolidas aqui. 
Sereias e tritões se envolvem passionalmente nos alcoois deste oceano molhando os segredos incontestáveis de todas as criaturas místicas já sonhadas por crianças presas em casa por mães que mais se divertem do que se esforçam nos ladrilhos da vida...

Sinos oriundos das estrelas, na estação central dessa viagem me dizem que os dias não foram vividos, eles que me viveram, e confirmo aqui o agravamento da 
síndrome da inversão, doença que me acomete fortemente o pensamento, não 
posso mais reconhecer a minha compleição física, ela, como todas as outras 
cousas, já é outra e agora no tecer desta palavra, outra ainda! A minha natural rixa é com a eternidade que cromatiza o teor dos meus versos, que amedronta as nódoas de poesia da minha vida...

Na terra dos arabescos, a bruta representação do tempo é uma figura amniótica, 
afeiçoada com o desperdício das horas que ficam espantadíssimas com o mover 
rápido dos ponteiros biológicos da vida, que se vai, que se vem, mas nunca se 
esvai, num ciclo interminável, ouroborismo irrefutável, magnético transformismo da matéria que nega o vazio, se torna o vazio, corrompe a ideia de vazio, preenchendo-o feito revistinha de colorir...

Aqui, na finitude de todas as finitudes, onde os solstícios se misturam com os 
equinócios e brincam de ser uma coisa nem outra, me percebo, me encaminho, 
também sou equinócio, solstício, uma coisa e outra, nem uma coisa nem outra, 
porquê uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa! Tanta coisa, tantas 
vezes coisa quanto se pode ser, e também, o prazer de não ser nenhuma! Eis o mito da dimensionalidade do símbolo. A fenotipicidade arquetípica toma outros rumos mansamente ao tocar tal gleba fértil das imaginações.
By: Bruno