domingo, 17 de junho de 2012

Prisma



Cores, ó cores, dos sons, do sol, das águas cristalinas
Definíveis apenas subjetivamente, nada além disso!
Flores da consciência, pensamento sem compromisso
Natureza em efluvecência, um manifesto sem disciplina

O céu parece transbordar um laranja desagradável
Meio que alegre e triste, irradiando sua instabilidade
Fazendo-se o réquiem desta desastrosa debilidade
Despertando-me a vontade de mergulhar neste sol amável

E quanto ao mar? Espelho errante dos azuis de todos 
Os olhos que amei, arrematando os doentios
Soluços que escorrem pesadamente nos rios
Que percorrem minha vida, ah, que sinuosos estes escombros!

Verdes são os perfumes da natureza
Poderosos cântigos venenosos
Fecundando os mistérios mais cobiçosos
E também os grandes sonhos sem sutileza!

E mesmo sob o quimérico concreto 
Tudo pulsa, tudo é vida, até no aslfalto
Ouvi de uma florzinha que tenta e fala alto
E mesmo não ouvida, continua com seu ímpeto

De fazer-se prevalescer diante das luzes vermelhas
Do trânsito estagnado, absorto em si mesmo
Enquanto ela vai consignando-se sem esmo
Em fotossíntese constante, já toda ramificada

Constelando palpitações graciosas 
Que colorem os olhos dos passantes
Em tão ínfimos instantes
Fazendo-os reparar por segundos preciosos

Na vida que perdem, que todos perdemos
Cambaleando sem motivo maior
Enquanto as cores retomam suas vidas sem furor
Apenas quietamente, sem que soubéssemos

Enquanto as dormências e finitudes agem contra nós
Nos abrindo chagas e anacronismos
Porém nos permitindo o silêncio do fatalismo
Porque quando percebemos, a tragédia é tão imponderável;
Tanto, que nem temos voz!

By: Bruno

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quando apenas penso no mundo.



O mundo de hoje é brilhante! Mas é demais para os meus olhos.
Então os fecho, quietamente procurando por uma memória
Que não me é mais permitida recordar, sim, poderia esta ária
Ter sido minha única luz, perdida para sempre entre os molhos

De chaves que poderiam abrir urnas das quais nunca imaginaria,
Que poderiam resguardar minhas singelas lembranças de inocência
E até mesmo minha cotidiana incoerência
Das lâminas em forma de delicadas pétalas que o destino, empregaria

Uso contra qualquer existência que simplesmente relutasse
Iluminando seu coração com qualquer ebriedade ao alcance
Como uma árvore após o inverno, refolheando suas nuances
Mesmo com um coração estilhaçado, como se o mundo congelasse!

O exemplo perfeito são as flores, que mesmo caindo
Se mantem perfeitas, despetalando sua eternidade diminuta
Aos poucos, bem aos poucos, como se aproveitassem o tempo fluindo
E assim espalhando uma pureza fantasiada de fatalidade enxuta.

By: Bruno

domingo, 10 de junho de 2012

Incoerência.


Uma boneca quebrada olha inconformada
A platéia de sombras aplaude exaltada
Uma comoção irracional toma conta 
As notas cantadas formam uma música sem ponta

É exibida uma cena de jantar onde as pessoas
Em meu olho direito falam "Incroyable!" sem parar
Já em meu olho esquerdo uma pantomima está a começar
Mas em meu cérebro ecoa um lago com muitas canoas

De repente uns burgueses percorrem minha mente
Planejando uma revolução, mas a ideia logo se dissolve
Um cabaré os atrai para ver as pequenas damas que mentem
Suas idades, sem um preço fixo, são pagas e tudo se resolve!

E quem se importa quando os meus olhos giram?
Quem é aquela pessoa chorando mesmo?
Ca va bien comme ça? Oui, comme ça.
É incrível, uma tragédia nunca é a esmo,
Mas todos no fim, se encantam quando as explosões brilham!

O rolar casual dos acidentes realmente entorpecem
O outrora vira um qualquer memorando sem decoro
O trivial cigarro, o desimportante riscar do fósforo
Podem, na mão dos que diáriamente endoidecem...

Ca c'est l'histoire.

By: Bruno

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O desabrochar da flor, o desembainhar do destino.

Capítulo 1 - Início da fatalidade.


  É neve. Eu imagino neve neste conto japonês narrado embaixo da cerejeira. Perdoe-me o atrevimento, ó espírito que se indaga sobre a veracidade da minha ambição.  Em uma época cheia de youkais, antes dos trens e antes de qualquer sentimento de revolução, na pequena casa à mercê dos cupins e dos percevejos sem educação, uma menina cravava uma espada muito mais pesada que ela no chão.  E eu aqui, embaixo da cerejeira imaginada, me pergunto o seu tão escondido por que. E olhando para as manchas de sangue da espada, que acompanhavam as manchas de seu quimono bege claro, pode-se ouvir muito bem o bater das lâminas em um combate vicioso. Podem-se ouvir também os ventos de desespero de um coração temeroso pela própria vida, mas ainda com toda disposição para realizar a vingança.
   Suas lágrimas como pedras caíam conforme suas mãos forçavam a terra engolir sua lâmina, eram muitas memórias terríveis para um coração tão pequeno e inexperiente. Era também sofrimento em demasia para uma alma tão jovem e tão morta.
   Decidida e de rosto limpo das lágrimas, deixa aquela casa e aquela espada com um fato tão monstruoso para trás, excomungada pelo sangue derramado, solta num mundo cujas engrenagens se lubrificam com o suor dos camponeses e dos samurais. E em meio a neve, vagando ainda sem rumo por ruas que acumularam sua infância pura, depara-se com um trovador tradicional, cantando uma ode tão, tão familiar, que seu coração se comprimiu em seu peito como a chama de uma vela se comprime quando seu oxigênio se extingue. Desesperada, corre para que suas lágrimas não caiam ao som daquele grito fastio.
  Quando finalmente longe daquela cidade, daquelas pessoas, daquele canto e principalmente daquelas memórias, as copas das árvores lhe jogavam uma honesta sombra. O tronco de um paciente pinheiro resguardava ali, um lugar para se sentar e pensar. Foi o que nossa pequena amaldiçoada fez, sentou-se e aos goles de sua pouca reserva de água, pôs se a pensar. O que faria agora, sem destino certo, sem dinheiro em mãos, apenas com uma pouca variedade de coisas que carregava em sua trouxa? Para constituir o pequeno punhado de sorte que os deuses esmolavam àqueles que se vingam com espadas samurais, ela trazia consigo uma biwa sem verniz e sem qualquer decoração específica, apenas uma mancha pequena na lateral. Se sabia tocar, descobriremos quando ela se atrever a exibir as coisas aprendidas com sua avó, uma possível mestra nas artes líricas tradicionais. Mas eu me pergunto aqui, com meu copo de cerveja européia em torno dos ventos que carregam as pétalas, o que ela cantaria?
  Que coisas retrataria em suas letras improvisadas? Sabemos que não se podem dissociar os que cantam essas coisas de suas produções, já que é no improviso do pulsar do sangue que são compostas tais melodias. Enfim, as tímidas folhas do pinheiro são forçadas a acompanhar seus primeiros ensaios, testemunhas do aquecimento daquela jovem e rouca voz que tentava, apenas tentava encaixar seus primeiros tons musicais. O que será que movia suas melodias?

O que acharam? Comentem pessoal! 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

As lágrimas de Gaia



Sou feliz por minha carne ainda não ter decomposto antes que meu espírito
Corroído e cansado, raivoso mas inofensivo, esticado porém mantido clássico
Temo por um controle cada vez mais absorto da realidade, tão hemorrágico,
Tão inconstante, quanto a deserção do meu amargor manuscrito

Sempre copulando insaciável com uma garrafa de vinho, enaltecendo
Bruscamente os lampejos eclípticos que ondulam inconsistentes, 
As invocações desesperançosas dos estrelados e inconscientes
Caminhos proibidos, que atraem com a gentileza de suas mãos, tecendo

Insinuações secretas, guardadas apenas pelo meu olhar curioso
O pasto seco de outono é testemunha talvez do vazio dos meus passos
E embora os substantivos me proporcionem uma capa, é insidioso
Meu pensamento que me arremessa a umas esperanças lassas

E quando as lágrimas de uma Gaia atordoada caírem manchando minhas visões
Conversarei com essas imagens borradas, caso a cegueira delas não ilumine meus versos
De modo a não atravessar o laço do tempo apenas com um cálice sem verdes razões

É estranho ler nas gotas que enegrecem ainda mais o cimento
A alquimia do conteúdo dos cálices que abrigam mil janelas embaçadas
Sem acreditar um pouco mais em meu perdido lamento!

By: Bruno

sábado, 2 de junho de 2012

Haikais sob a concepção dos taninos.

Três endívias, apenas uma lebre
Uma taça de vinho, duas metades, música
O lanche, os taninos, podem causar uma febre?

***

Não tem borboletas, só lábios
Não tem click, não tem som
Quando velhos, nos tornaremos sábios?

***

A substância da linguiça cortada
Fragmentação, aceboleamento arroxeado
Elogio à música boa que foi aumentada!

***

Civilização manchada
Pureza? Um riso de criança
Pode explicar a ironia anatematizada!

By: Bruno