sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Crepúsculo


Na poesia eu sabia fazer tantas coisas
Afinar chuvas, amolar o tempo 
Despudorar os olhares e até voar sem asa;
Trocar os inícios pelos fins
E principalmente mexer, 
fazer diabruras com os significados todos...

Mas diante de ti, de tuas mãos quentes
Que tocam meu avesso, nada sei,
Nada possuo dos feitiços da linguagem;
O toque é mestre de um reino sempre novo,
A chuva é sempre saudade do corpo que me visita.

Desaprendi a dizer adeus a um sol que não me recebia
O espero toda vez que vê-lo significa não ser só 
Enquanto a lua, esta se tornou vitalícia;
Sinal de romance e fruto de um sonho vivido;
As luzes da noite se tonaram páginas de um amanhã contigo...

Sem saber que sei, te habito na presença do beijo
Sabendo que sei, te habito no coágulo das horas
Em que espero ser presença de novo 
Para, no endereço de seus gestos, ser vivo e livre

Como a lágrima que cai do rosto de quem ama,
Como um crepúsculo que aguarda toda a tarde para
simplesmente acontecer.

Bruno Borin
Foto: Juliana Sammarco

Sobre florir


pensar é como semear flores
uma ideia precisa do solo do espírito
o adubo da criatividade à gosto

regar com carinho o estro
como se rema um barco sonhado
ao seu cais ideal, cheio de marinheiros
aptos a cuidar da frágil mercadoria

pensar é como navegar pelo tempo
sentir as ondas contra os remos
pensando na chegada à uma terra
jamais vivida - ideias praticadas 
são coisas jamais vividas

ao seu germinar incerto
colhemos os verdes versos
o começo do poema da vida
- estes sofrerão a ação do sol
e das palavras alheias

sim, ideias não são palavras
são o começo de seus novos signos
o brotamento é demorado 
mas quando alçam a maturidade

podem ser belas flores
ou frondosas árvores;
céus abertos, bem azuis
como os cabelos que tive...

são a marca do sempre
na nossa vida

são a marca da nossa vida
num sempre que não é nosso.

Bruno Borin

We make the sky envy, baby



Eu, filho do carbono e do amoníaco 
Era tão tristíssimo 
Escrevi em meu desatino 
Um novo destino
Banhado de um azul que encontrei
Na pessoa que mais na vida amei
Os signos do zodíaco que se fodam
Ao pintar meu cabelo, virei dono
Do céu, virei navegador de todos os mares
Do seu amado ser, do meu amado sonhar
Sonhei, sonho e sonharei
A epígrafe do seu ser
Desenhando à caneta 
Constelações em mim
Jogos de jasmim 
I want you so much darling
Nos livramentos de meus traumas
Liberté, igualité, vinho e cerveja já é! 
I love you I love you I love you 
Com a minha vida, velha oferenda 
Com meu ser, alma de poeta
Diante das estrelas e longe do sol
No verde corrupto desse Brasil, eu amo
No céu do meu delírio, Quetzal espera
E voamos juntos
Pro além da concha e cavalo marinho
Para o azul em ti agora e sempre!

Bruno Borin