terça-feira, 26 de março de 2013

Ao cair da noite, me hospedo


Uma pétala que cai
É como um papel que se rasga
O vento a carrega
Mas sua cor não sai

A tinta também se rompe
Porém não se desgasta
Apenas se separa
Mas não se corrompe

Ao cair da noite, eu me hospedo
Em meu próprio coração
Numa aldeia em meio a grandes rochedos
Ouvindo o soluçar da fibrose, medito

Aqui a lua não parece tão brilhante
Quanto a que eu vi por baixo de suas pupilas
Aqui chove por toda a parte, incessante
Mas os brotos de acácia ainda jubilam

Volto para o céu, meus suspiros
A quietude que adeja à torrente
Dói a vista, mas a faz sorridente
Fenecendo a rutilância branca deste delírio

Uma pétala que cai
É como o sal das lágrimas 
É um eco que nunca se esvai.

By: Bruno

Evocação do desejo de inverno


O céu escuro é o alvo de meus olhos perdidos
Garatujando silhuetas agradáveis, me detenho
Sonhando com um inverno embevecido
Com a sua presença, sob o cenho

Da efemeridade que nos envolve
Como a chuva que risca a paisagem
Escondendo a claridade da folhagem
E do sentimento que nos percorre

Ao passo que o outono se afasta
E o luar escondido banha
A treva que o neblina
Com o calor do desejo contrasta

Corações que fragilmente oscilam
Como uma escadaria de Jade
Emanando dentro da óssea grade
Pulsões que se unem e se descompassam

Nossos lábios unidos, sob a amplitude do céu
Atuam como um delicado arpéu
Fisgando a infinitude dos segundos
Removendo a solidão do meu mundo

Embora, o embaçamento da saudade
Dos tempos que hão de vir
Faz questão de omitir
Ao meu coração apaixonado
Do destino a maldade

Que quer apressado
Me devolver ao spleen
Como as pétalas de jasmim
Que, transmitido o seu legado
Caem como se derramadas

Quando este outono se desfizer em pedaços
Bem pequenos, diante dos nossos olhos
Como pesadas faíscas de estanho
Quero estar enlaçado em seu doce abraço

Até que  o dia amanheça
Sob os cheiros da noite anterior
E quietamente transpareça
A gélida brisa e um novo frescor

Panorama não há, nem moldura
Que possa conter esse misterioso encanto
O esboço destes versos te confessam uma jura
Quero dizer-te ao ouvido: Te amo tanto!

By: Bruno

quarta-feira, 20 de março de 2013

Relentless melody


 Always no fog da verve os violinos dolentes e bêbados
 Música e poesia, poesia e música, poemúsica, musicoema
 Acordes e acordes, cortados e intercalados, belos acordes
 Gole e engole, sacode os liquids inside
 Tema medieval no carnaval
 Continuado em dia qualquer e banal
 Tentativa de Escapismo da escapada furtiva
 Do Myself fugitivo, arredio
 Que lembra do suspiro dourado do céu
 Do sol enferrujado que berrava sua cor ao léu
 Socando neste verão incerto a luminous shout
 Uma imagem borrada de lembrança embaraçada
 Vagamente arremessada contra a porta que eu bati.
 Porta que sem hesitar abri
 E nela estavam os seus olhos
 Luminous Eyes that almost took control
 Controle que eu já não tinha
 Ficcional Hemorragia
 Palavérica, cadavérica
 Real verborragia
 Dissolvida sóbriamente
 Nas sobras da mente
 Que mente
 Para ocultar
 Que se mete
 Para revelar
 Que deve a dívida
 Da dúvida
 Do ser e do não ser

 - I don't know
 - I Know, sometimes I think I know
 - But I know that I don't know
 - Really é uma bagunça!
 E se misturam os conhecimentos
 Cimento, ciumento
 Pessoa física, ficção jurídica
 Realidade bruta e inconstante
 Afastada e aproximada
 Que mata
 Mas sem matar
 Extirpa da pele
 A própria pele
 Descamação do tegumento
 Exclamação do alento!

 Soberba rima
 Que se aglutina
 Mixed in the flux
 No vortex textual
 Sonoro, inacabável
 Endless sorrow
 Tiny little joy do poeta
 Que finge que não escuta
 O som do tempo
 Que finge que não tem medo
 Da eternidade
 Que finge que não sente
 A dor do mundo em seu peito
 Mas pega para si a dor dos outros
 E ilustra ao mundo no mesmo fog da verve
 A essência caricaturesca das tragédias
 O Quixotesco drama das comédias
 No traçado versado
 Testamento livre e crivado
 Imenso testemunho do fardo da vida.

By: Bruno

quinta-feira, 14 de março de 2013

Neste dia

Neste dia eu não me traduzo
Nem procuro no Lambrusco
A verve da minha hemoglobina
Que insiste em não falar da rotina

Neste dia eu não metaforizo
Eu apenas do ar, vaporizo
Porque são apenas de rabiscos
Que eu muito preciso

Neste dia eu apenas declamo
A sustentação oral da minha lide
O meu ríspido revide
À vida que me embalsama

Neste dia lanço a incógnita
Abro mão da certeza ambulante
Quero a mutação transitante
Quero do amor a louca estética

Que nasce renovada mas é inerente
Tão inconsequente 
Incorpórea, luminescente
Jamais evanescente

Porém quero que este dia se finde
E que a minha imagem seja refletida
Na neve convidativa dizendo: "Vinde!"
Para a enseada delineada dos Seus mares castanhos.

By: Bruno

segunda-feira, 11 de março de 2013

Súplica

 Ah lembranças das noites de astros apagadas
Como podem deixar meu coração tão vulnerável
Com mechas de visões desmanchadas?
Como isto pode ter se tornado tão irrecusável?

Ah lembranças de lugares românticos
Permeando a imaginação variada
Retirando do instrumental dos cânticos
O linho para um sonho de amor tão imaculado

Ah lembranças das estrelas tranquilas, esquecidas
Dos seus turíbulos de graça e encantamento
Vem o meu suplicante rosário memento

Meu anseio vem da brancura dos mortos lírios
Implorando que desses sonhos não saia meu martírio
E que eu possa desfrutar aqui deste sublime e mútuo sentimento.

By: Bruno 

sábado, 2 de março de 2013

Multifoco

Lentes côncavas, lentes convexas
Vertigem viva dos ângulos convulsivos
Reavivando dos já não tão sensitivos
Olhos, o enleio das pupilas perplexas

Em febre de luz, bombardeio de nitidez
Com o frêmito dos outdoors iluminando
O piso que perdia lentamente sua solidez
Gradativamente esta distorção ia me lançando

Para fora das órbitas dos astros onde normalmente pairo
Salientando múltiplos fluxos, deslumbramento tormentoso
Sinestésicamente impossível, tortuoso desvario

Ó formas míopes, astigmatas, bipolares, perpétuas
Deem lugar à saudosa e sadia visão sonorosa
De criança indomada e ingênua...

By: Bruno