domingo, 25 de junho de 2017

Impugnação


                                  À Bocage

Não logrei cantar meu amor 
Tão bem quanto os trovadores,
Já a saudade, quando flor
Cantei-a tão bem em ardores;

Não glosei da vida, o mote
Mas bebi do cálice servido,
A cantiga seguiu sem nome
Na alvura dos dias vividos,

Não logrei viver a mocidade
Como os velhos cancioneiros.
Eles construíam vastas cidades
Em seus finos romanceiros:

Vicejaram os frutos vindouros
O Vate ganhou o amor professado,
Os ais não foram mais de agouros;
Contudo o medo não foi translado!

Não rebentaram os versos d'amor!
De que vale roubar de Camões 
A Aurora a despontar das monções,
da carcaça do gigante Adamastor;

Se dos altares dos afetos, registro
Não possuir; e em nobres acordes
A cítara não sucumbir ao estro
Dos mais bonitos e reais recortes?

Já que em livro Celeste, meu nome
Tenho proscrito, caberia em versos;
Em mote e glosa, mesmo sem renome,
Ter dedilhado meus dias dispersos...

Bruno Borin