domingo, 28 de janeiro de 2018

Amor à Moda trovadoresca


Se estiveres vivendo um romance
Não deverias evocar o amor perdido
Aquele  erro à mui custo esquecido:
Não o troques por algo sem alcance!

Ao escreveres o poema tenhas Ele
E seu olhar e gestos furtivos contigo
Para que a poesia o tenha em abrigo:
Tua querência advém porque és querido!

Para as quadras finais, lembranças: 
Deixes os primevos dias de amor 
E o despontar do sorriso acolhedor

E a promessa do sempre a invadir
A emenda que se faria sem tardança
A um soneto de amor a se escandir. 

Bruno Borin

Fly me to Zenith



Do ofício e do artifício conjugados
como o faro e os cães, no dia de caça,
resta a fronteira sonora que atravesso
transformado em sintaxe.

- Lêdo Ivo

Para além do mundo
Meu olhar tece uma vida
Firmada em imaginação
Uma fauna que não contém
Somente leões e tigres
Mas Quimeras e Unicórnios
Povoando florestas jamais visitadas
Porque meus milênios dissolveram-se
No pó dos poemas épicos do passado
Onde a história e o mito se confundem
E os deuses já corpóreos, lutam nossas batalhas
E o descalabro da vida vence as leis nefastas
Que se publicam com o aval do dinheiro
Vivo num horizonte expulso de expectativas
Primoridial como o Oceano, meu desejo
Se inscreve nas tabuletas do Eu 
Como os feitos de Gilgamesh
Foram escritos nos registros Acádios
Mas não esqueço de olhar com tristeza
Para este meu país palustre 
Onde multidões mastigadas
Se divertem enquanto a poesia ecoa
Muda, tetraplégica na alma dos homens
Porque se a poesia salva um afogado
Deixou morrer Li Bai, abraçado à lua
Me deixando desprovido de símbolos
Apenas eu e o céu vertiginoso da escrita
Navegando no fel da estrelas mortas
Zênite ou Órion, soletrando a ferrugem dos dias
Em lágrimas calcinadas pela chuva...

Bruno Borin 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Soneto épico

"Àquele que o abismo viu"

Penso num longínquo pretérito
Antes mesmo da forja da espada;
Os reinos se ganhavam por mérito,
O bronze brandia na selva calada!

Ele, guerreiro, que o abismo viu
Deu forma à poesia, vinda do barro
Glória de rei eterno, o Dilúvio viu
Dos mitos o primeiro grande achado!

Mais épico que Eneida, herói nosso!
O mundo reconstruiu, portões abriu;
Humbaba o temido, destruiu!

O primeiro grande épico esboço:
A Jornada, a luta e o pesar sentiu,
A Acádia lembra seu esforço!

Bruno Borin

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Indolência


"O teu nascer constante
Traz castigo
Os teus ressuscitares
Serão prantos"

Hilda Hilst

Em meu corpo de abismo
Perdi um castelo inteiro!
Mil escadarias de achismo
E um menino bem arteiro...

Desfiei luzes revoltosas,
Dessas que tudo consomem, 
E não vingam, nodosas;
Nascem vagas e morrem...

Inventar líricos enganos:
Ofício da beleza ou fardo?
É trama de poucos insanos

A verdade tem jeito de rosa
A mentira aroma do cardo 
Na poesia viram lindos ramos...

Bruno Borin