quarta-feira, 25 de julho de 2018

Lucífugo


Que instigante simbiose esta!
Uma Orgânica sintonia funesta
Como se pela noite protegido,
Fosse, pelo fúlgido luar, ungido!

Ah frialdade vã da madrugada
São cativantes as meditações 
Oriundos dos mais inesperados
Torpores! Poéticas elucubrações!

Despido da lida arbitrária diurnal
Posso, adentrar-me no paço eternal
E nele dançar melodias excêntricas
Até me reconhecer nas doces métricas!

Adianta gritar a um Deus por sono;
Quando a alma inquieta, longe adeja
Afogar-se sem sonho como um colono,
Para não sonhar com o que se deseja?

Será medo meu de adormecer docemente
E lá, ao dobrar uma esquina bem inocente
Não ver mais traço deste povoado mundo?
Ou sou refém de uma tristeza tão sem fundo
Que não posso dormir com a alma chorando?

Bruno Borin

terça-feira, 3 de julho de 2018

O que é um soneto?


O que é um soneto, senão parte riso
E parte da lágrima que compartilho:
O instante em que a chuva nos tinge,
Sabiá com trevas e mistério de esfinge?

O momento do abraço ou do beijo,
Carinho que viaja neste proibido Tejo,
É forma presente ou já esquecida?
Qual seu sentido - Métrico ou lúdico?

Vaso chinês ou porcelanato floral?
Cadência de estrelas, rã no regato,
Vernáculos em escrita escultural?

A surpresa do verso é nunca saber
Se advém de inspirado aprender,
Ou calculado e esmerado aparato!

Bruno Borin