domingo, 30 de setembro de 2012

Ainda não é tempo de colheita...


Algumas de minhas poesias estão amadurecendo
Ainda não é tempo de colhê-las de seus galhos
E dá-las a este mundo falho
Para que ele não continue apodrecendo

Mesmo que algumas folhas amarelem
E caiam, a fotossíntese nunca para
Porque os acontecimentos que a propelem
Levados são ao alento do acaso que sempre dispara

A nível celular, os meristemas poéticos
Da mitose das palavras e dos crescentes
Assuntos, e, as vezes dispermáticos
Como os meus vários sóis poentes

Minhas visões, destroçadas
Como os tronos dos reis,
Depostos por suas próprias leis
Imploram tão alvoroçadas

Por um lugar maior na minha sanidade
Alimentadas pela minha irritada vaidade
Que ainda não decorou a hermenêutica da loucura
Que me quer com tanta diabrura!

E a imagem gasta que tenho do céu,
Proveniente dos meus olhos sóbrios
Quase não tem lembrança minha, que ao léu
Das minhas madrugadas vivia sem ódio

E agora, colhendo o orvalho versicular
Que deitou-se nas minhas folhas
Observo uma pequena Rolha
Que agora voa de forma circular
Na minha cheia cabeça...

Gosto do céu bem nublado,
Pois só as mais tenebrosas tempestades
Entendem como é selvagem
O clima aqui dentro deste templo tombado
E só o sol sabe o quanto eu fujo da claridade 

Mas em dias de vento forte
É mais difícil atear fogo
E é só o fogo me dá a euforia
De esquecer e ir embora logo,
O fogo é meu eterno passaporte

Para a ardente metafísica 
Da arquitetura aurórica
Das sonoras labaredas,
Remédio infernal e opórico 
Para os paranóicos em astrofísica!

E entre os bocejos dos deuses
Percebo o riso de segundos
Refletidos no lugar mais fundo
Dos meus próprios olhos
Que eu sei que um dia serão seus

Quando lerem neste poema a conciliação
Dos orientes da minha realidade
Que, com toda possível crueldade
Despeja em suas mentes, a minha rústica constelação!

E então eu pergunto as horas
A uma aranha que passa quietamente na parede,
E inesperadamente ela me grita:
  – É hora de parar!

By: Bruno

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Border Village Dali


No piso de rocha os passos impressos 
Sob o entoar mais solene que o homem jamais produziu
Marcaram tantos corações com sentimentos inconfessos;
Nada iguala ao valor purpurado da nostalgia que me pungiu!

Num momento ínfimo, apenas por mera passagem
Talvez nem houve tempo de se descobrir que a única árvore
Estava dando frutos, nem de também se perguntar se era de mármore
A pedraria que compunha as poucas casinhas da paisagem.

Mas nem o som dos Chocobos encobriu os sujos mistérios 
Que a vilinha muito bem disfarçava, até a facinação pelo moinho
Os levar a descobrir que estes tais segredos eram muito mais sérios,

Entremeando assim, aquela pequena vila no tear delicado
Da trama, à medida em que eu adensava na continuidade 
Daquelas lutas e fugas sem destino marcado;

Para nunca mais retornar para aquela melodia
Nunca mais ver aquele poço, aquele laguinho 
E percorrer aquelas rústicas portas, como uma galeria... 

By: Bruno

*Leia com a música!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Estiagem


Em uma xícara pesada 
Deposito meus lábios
Enroscando na pequena asa
Meus dedos trêmulos

Enquanto lá fora
O céu nublado
Se faz nasalado
Levando embora

A chuva que eu queria
A tempestade que não podia
Aparecer e nos envolver
A tempestade que eu tanto queria ver!

Queria eu tocar os telhados
Como tu tocas em sua passagem
Tão breve, em tão escassa folhagem
Nestes mundos tão afilados!

Nas telas das minhas pupilas
Pintada foi a serenidade
Peculiarmente destilada
De etéreas eternidades...

E em um pequeno copo
No qual deposito
Todo o meu escopo
Incerto e sem propósito

Espero sem pressa
A estiagem acabar
E assim se produza a nova remessa
De flores a desabrochar! 

By: Bruno

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Lapso Matutino


Olhando fixamente os desenhos do azulejo
Desapego-me dos oceanos de lamento
Dos quais desembocam o meu Tejo
Aos sons de um violino bem lento.

Sem atinar qualquer razão, vai envelhecendo
Toda a vida, bem como todos os versos
Numa sinistra lucidez, constituída de padrões irreversos
Fustigando os lestes da existência conforme a vida vai acontecendo.

E por mais que as estrelas refutem suas condições atemporais 
Nossas filosofias e religiões, também ditas como imortais
Não passam de piadas derramadas na essência dos viventes
( — Em suas absortas concepções estelares.)
O amor ainda assombra-se com a ausência de pureza
Deste contemporâneo, eis pleno o século da clareza.

E então, reconhecendo diversas figuras nos traços de água
Que escorrem nos relevos dos mesmos azulejos 
Reconheço-me como um escravo cardíaco dos lampejos
Astrais das estrelas; das cantigas das infinitudes opacas.

Ratifico a deliriosa certeza dos sonhos grandiosos
Deito as letras rápidas nestes versos como que invocando
A magia austera das vitrines, das praças, das ruas arborizadas

Como quem segue à risca um contrato oneroso
Sem ter devidamente acordado verbalizando
— Nada se seguiu de forma planejada.

E há quem tente especular, sobre as arribações do tempo
Inaugurando cemitérios, propagando o mistério mais sombrio
E questionando o ócio necessário da poética, que contraria
Os esforços de sobrevivência dos que apenas vagam como o vento.

( — E é este pensar que as estrelas compreendem por blasfêmia!
Porquê, certos questionamentos inevitáveis, certas mnêmias
Remotas, são fatais aos olhos!)

E então o esverdeado do azulejo me remete ao vício absíntico
De ter todas as flamas, todas as tempestades, arraigadas  
Em minha pequena essência de menino, e então cerro as pupilas castigadas
Por lágrimas que caem no sensitivo momento em que cai sobre mim o entoar cáustico,
De toda merencória tragetória do mundo e me confirma: 
Sou só um menino fitando distraídamente o azulejo.

By: Bruno

sábado, 15 de setembro de 2012

Os astros


Meus dias amontoam-se 
À deriva
Como grãos que apregoam-se
De afirmativa
Forma, uníssona.

Meus sóis congestionam-se
Ao merisma
E confusos ressonam-se
Entre furtivas
Luas altíssonas.

Estrelas repovoam-se
Não minhas
No frio, aproam-se
Sem sombrinhas
No meio da noite.

Deimos afeiçoado é
Por minha virtude 
Enlaçada em vicissitudes
Como a ociosa maré.

Fobos comenta
Sem ser notado
Sequer ouvido
E logo se ausenta.

Curioso em meio 
À tantos sons
Exclamo meu enleio,
Meu penúltimo enleio!

Ah visões, visões!
Perdi a vida
Sem verdes razões!
Talvez reste tempo,
Para embeber a última ferida!

By: Bruno Borin

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Faceless


Como me embala esta laceração!
Como meu sangue escorre mudo!
Instigando o lânguido veludo
Da minha initerrupta imaginação.

Que aflição ao ver tais pálpebras
Fechadas a mim, escondendo aquelas safiras brutas
Das infecções da minha alma poluta
Em procissão sinistra pelas minhas vértebras
Que aflição ao ver tais intenções indecifráveis!

O véu neblinoso enrruga as dobras do meu coração
E ocultamente inicia mais uma dor em nome da sua face
Interpretando mil vezes cada expressão, no eterno impasse
De resolver esse mistério que aguarda se tornar mais um clarão

E a lua envolvendo meu sonho como envolve uma boneca em ternura
Desola ainda mais meus pensamentos me trazendo seu isolamento,
Me selando ainda mais perto daqueles lábios enigmáticos e, tremendo,
Eu impassívelmente penso no caos em que está a minha nervura

Enchendo-me do turbilhão sonâmbulo destes desejos
Percebo o quanto eu não sei sobre aqueles olhos vítreos,
Sobre aquela face constelada por meu curioso espectro...

Então me pergunto, tal como jóia rara e intocada
O quanto destas memórias permanecerão enterradas?
Me fazendo abraçar a solidão e ter minhas asas arrancadas
Repetidamente...

By: Bruno

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Em um ônibus

Que formas! Que formas!
Que estas linhas tortas
Têm em suas almas mortas
De concreto.

Ó Cores e mais cores!
Que falta de amores
Em cinismo e horrores
A cidade roda direto

Mas também há elegância,
Luxo, volúpia e ganância
No ilustríssimo Iguatemi
E em sons como dó, ré, mi

Tagarelice e risada em um ônibus
Bem como rimas sem ônus
Suor espargido pelo sol refletido
Flores secas e repartidas
...

Como é bom ter dinheiro!

By: Bruno