segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pirografia


Na malemolência da fibrose cardíaca
Tamborila desde a infância
A rutilante e ininterrupta infâmia
Da alucinação piromaníaca

Imerso na bile de Chronos
Intendo transformar-me em puro carbono
E reinventar a hórrida matéria da vida
Assim, burlar o esquema de minha sina

Quadra a quadra, absorvendo a cifra
Das árvores me consolido povoado.
Mesmo com o sangue doído e escoado;
O enigma implementado entoa como mirra

Advindo dos alicerces do passado 
Tingidos de incêndio e neblinas,
Memórias doces e altivas
De invernos em versos fustigados.

E hoje, povoado também de barulhos
Eletrônicos, broslando-me ideias
Longe, longe das antigas falésias
A agitação dos passos afoitos, marulho

Me parecem, quimeras do destino
Que nos porfia caminhos distantemente
Juntos, rabiscando, vaga e dolorosamente
As páginas da vida em desatino

Com o inexato palor das estrelas
Inspirando da luz o esplendor
E da treva o maçante rumor
Atrelado a vagas distrações belas

E passam-se os dias, páginas 
Escritas lépidas como máquinas
Com o zumbido da melancolia
A tingir a solitária caligrafia

Aquecendo os fantasmas do futuro
No luxo anacrônico e noturno
Dos sonhos diamantinos e soturnos
Que nos prometem veleidades impuras...

E eu... prometendo a mim mesmo
Voltar à melancolia primitiva;
Desvairado de meus sesmos
Quase privado da inventiva 

Fórmula de minhas calamidades,
Perdido das minhas eternidades
Me pergunto, a que subúrbio fui
Internamente, sem ter sido eu que fluí?

By: Bruno

sábado, 28 de dezembro de 2013

Reaparecimento

Esta noite, por acaso
Tornei a ver meu gato Mingau
Em sua noite venturosa
Passeando com sua sinuosidade graciosa
Dono da rua como sempre
Pulava de muro em muro
Checando todas as casas de seu território
Reconhecendo o cheiro deixado em cada portão
Parando vez em quando para retificar a metragem
De seu espaço eternamente apagado pelas chuvas
Ou para contemplar alguma novidade que o tempo deixara

Presumi que estivesse vivo
E não num sonho ébrio de verão
Só me rendi ao seu desaparecimento
Quando não ouvi miado
Mesmo após termos nos cruzado
Trocando olhares vagarosamente
Então eu aprendi que o sonho acordado
E a morte são iguais:
A noite em que trocamos olhares
E não nos reconhecemos mais.

By: Bruno

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Observado


os olhos do escuro me atraem
para longe ou perto do que falta
de mim, para meu eixo de rotação
fugir à letra, fugir do avesso,
pegar a cor do vento e ir embora
sem orvalho, sem folha caída,
sem pedra e sem passo
porém no momento que arrumo as malas
me preparo para o salto 
recebo o submundo
fico limpo dos x e y...

não saio de mim!
me adentro mais
nos sargaços lacrimais
no frio chuvoso de minhas
internas ruas, inteiras e cruas
intermitências
confluências;
aqui estou
e lá também
observado
sempre 
por estes olhos.

By: Bruno

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As ideias


Como folhas ao vento
A mente se apodera
De ideias ao relento
Que a natureza delibera

Corolas sobre o horizonte
Possibilidades jogadas,
Panorama sem definida fronte
Suas concepções, coisas amassadas

São anúncios do momento e canto
Do questionamento déspota
Forjado na veia aberta à realidade,

Livre de amarras e do enquanto
Às vezes perduram, às vezes anedotizam,
Porém dialogam no tumulto da transitoriedade.

By: Bruno

domingo, 22 de dezembro de 2013

Anatomia do teu abraço

Quando teus braços me envolvem, teu alento,
Uma onda quente que toma meu espírito
Faz responder meu coração, como numa espécie de rito
Tentando à todo custo deixar o tempo mais lento.

Minhas pupilas, embora fechadas, sabem exatamente
Onde está o teu aclamado sorriso,
E meu espírito, vulto impreciso 
Ferve da alegria do encontro fulgente;

Contigo, esvaeço como o poente 
Numa floresta erma e escura,
Numa acolhedora e mágica bruma.

Dissolvo-me entre as folhas,
Na sensação que aguardo sempre,
No languir do amor em inquietos orbes.

By: Bruno

Balada dos arbustos de blueberry


Compurgado na bruma
O sotaque azul das blueberrys
Abandona o olho de espuma
Dos pequenos colibris,
Furados de zunido e beleza,
E por intermédio da mão humana; 
São levadas para as indústrias de alimentos
A fim de serem condensadas em proventos
Através de barulhos eletrônicos e sem viveza
Para satisfazer minha sede infinita e tirana.


Porém, quadra a quadra, sei de seus eflúvios
De linguagem, e acredite, fosse eu imóvel,
Não suspenso a contemplar a luz ignóbil 
Que embalsama a fotossíntese desdes dilúvios,
Estaria a envenenar os negros cimos
Das estrelas e dos sonhos, primaveras supremas
Que sempre ostentam nossos queridos lemas;
Soberbia redigida em pequenos e condensados mimos
A gotejar a indolência redimida, na colheita arrefecida
Destas blueberrys há muito adormecidas,
Tal como as Cranberrys entorpecidas;
Dirimidas por nossos fervores caprichosos,
Mãos humanas escravizadas e capciosas
A colher e colher e colher, cansadas
Dos lábios verdes, estes frescores arroxeados;
Sem nada eu poder fazer, a não ser vontade ter,
Dos beijos mortos e petalícios, amanhecer!

By: Bruno


domingo, 15 de dezembro de 2013

Inversão


O que não faço pertence ao avesso.
Sei quem sou pelo som travesso
Do silêncio que o não-ter faz

As coisas como são, confesso
Pétalas de prata de um excelso
Carvalho, que em minha vida, jaz

Florescem com luz de progresso 
Embora o lustro das folhas 
Amarele um pouco, pobres tolas

Não atrapalham a magia das novas ramagens
Onde novos rebojos verdejam a imaginação
Oriunda de explorar o mundo, em flanagens

Incertas como os ventos de outrora
E o rumor do pensamento,
E da paz dolorida que assola

A eternidade que circula no meu sangue
E que coagula em versos
Como em um copo inverso.

By: Bruno

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Balada do lamúrio lunar

Ó plenilúnio, visto de uma janela com grades
Te maldigo! Assim como me torço por este Hades
Enquanto tudo que podes fazer é trazer-me
Recordações das quais doces dores tentam bendizer-me
Queres tanto assim consumir os sentidos poucos
Que tenho com todas as fragilidades roucas
Que uma voz dissonante usa cada vez mais
Para se apartar de um mundo de superficiais
Caricaturas, onde vãs tecituras permeiam
O caminho que com pedras, arduamente monto
E em prantos, sozinho e firme, percorro...

Céu, sei muito bem de tuas falhas
Mitologia embriagada de amarras
Não vais em tuas viagens me prender
Em Eldorados banais que hão de me arrefecer!

Soneto da realidade ficta

Num céu fictício, me perco do que sinto
Silêncio e brisa proliferam o ardor do mundo 
Em meu peito relativamente mudo
Banhado por derivados de absinto

Faz-se realidade o sentimento vivido
Enlace desprovido de norte,
Senso de direção amortecido
Com as mentiras da sorte

Lá, nas léguas das alturas
Se prende meu pensamento
Em defensivas escumas

E minhas quimeras, às escuras
Mordem minha carne em despovoamento
E sob grades, sinto renova a bruma...

By: Bruno

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sobre o mundo dos Bardos


Nuvens estriadas floram o cair da tarde
Enquanto a música entoa 
E a imaginação amontoa
A poesia da vida acontece sem alarde

Ramagem fibrosa, ora joio, ora trigo
Ao vigor das apressadas passaradas 
Ou no resguardo do gato constrito
Os versos são feitos de muitas alvoradas

Que mesmo lacrimosas, nunca vão ao Letes;
De súbito verdejam a gramática
Na opulência aromática
Das cançonetas leves

Não de harpas délficas
Mas de puro sentimento;
Apenas da mortalha o alento
Nada tão sintético...

By: Bruno

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Lassidão


Ó vida minha, não te importas
Se a sina de momento, é de além?
E se um tédio ebrioso me retém
Como o bater de inexistentes portas

Inaudito, envolto do riso 
Vertiginoso da madrugada;
Cujo pleno silêncio desalma
Os passos nada firmes com que piso

Este chão incoerente e sem mistério
Deste século nulo de euforias,
Cadafalso de inertes folias
Não, sei porque ainda permaneço sério

A espera da próxima tormenta
Que me ilumine, ilibada
Certeira e desprogramada
E surja a flama que me fomenta!

By: Bruno

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pés de bailarina


Eu vou dançar sobre toda a dor!
Raíla Barreto

A Terra cessa de girar para que você dance
Entre sombra e claridade, no sublime transe
Do silêncio astral, melodia onde eclodem
As inspirações efêmeras que, no corpo tremem

Assumindo a forma dos fenômenos que se sublevam
Fazendo os séculos transformarem-se em um instante
No corpo, planeta na alma imóvel, onde se revelam
Os infinitos, de forma tão simples e ondeante

Como o visitar de vagas lembranças 
Guardadas nas rodas da história
Dos homens comuns e sem glória
Cujas vidas inúmeras guardam manchas

As mesmas manchas que seu corpo
Cheio de fins e começos, secreto
Como um mundo de labaredas, repleto
De ardores e crepitações, mesmo morbo

Inaugura a máquina das eternidades
Como um símbolo caído no inédito
Fazendo o sofrimento não dito
Sob seus pés, fabular as imensidades 

Que divisam os sonhos e a memória
Entre força e elegância, traço a traço
No olhar que cria o mito baço
Do movimento da realidade transitória

Seu mito me embriaga e minh'alma, sacio
Mergulhando nas suas lágrimas, tenro rio 
De ondas que a dor traduzida na dança
Resguarda no olhar que você lança

Ao mundo que a vê e inerte, deplora
Sem compreender da dança, a maravilha
Tão viva e misteriosa quanto o agora,
De ter a lágrima da mesma cor da sapatilha!

By: Bruno

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Poética


Perdi meus passados acontecimentos,
Ao chão joguei meus grandes temas,
Ao descartar todos os meus dilemas
Percebi viver remendando meus pensamentos

Abdicar aos porquês e adentar no centro do real
É aventura criada, meu puro alimento
Onde movente, tudo se cria e, me invento:
De ofício, a sintaxe acolhe minha gênese virtual

Em todos os poemas, a hora passa igual, entrelaçada
Entre o visível e o invisível
Fonte abstrata da minha paisagem, sina aguada
Onde fanal não é somente o risível

Minha vida: problema sinestésico da Linguagem
Vê na eplepsia das sombras das árvores
Todas as possibilidades dilacerantes dos amores
E nos trópicos dos sonhos, a ébria dança da miragem

Me sopra os códigos e os clamores dessa arquitetura
De som e signo que içada nos silêncios da essência
Se faz vida, se faz universo, na medida da ranhura
De vossa unha no quadro negro da existência.

Como conclusão;
Na eternidade do presente,
Mordido pelo dente do tempo
Me fabrico numa folha branca.

By: Bruno

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Jogo de cena

Invasor de mim mesmo
Eu sonho que sou eu
Num ajuste de promessas
Com a vida impura
Que leva tudo que é meu.

Foi num ninho de sílabas
Que me percebi mero espólio
De inúmeras alvoradas 
Coligidas num pequeno mistério
De silêncios proferidos
Feito areia arrastada por vento.

Mesmo quando incógnito
Sei quem sou, número x
Da equação perdida 
Na apostila do acaso, 
Que me esmiúça mas não desfaz
O oceano escondido em minhas pálpebras.

Dia e noite passam no meu coração
Jogo de luz e de cenas espatifadas
Venço quando me perco
E perdendo sou infinito 
No terreio finito do eu mesmo.
Faço claridades para me divertir
No escuro que permanece intacto
Que me reintegra quando espalhado.

By: Bruno

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Alarde

Grita, grita, candeia de minh'alma
Antes que tu feneças e nada possas fazer
Para o mundo em teu peito reter
E esquecer o peso d'uma figura alva 

Que, do amor e tudo o que isto significa para ti
Possas guardar dos anjos, que com purezas
Tentam forjar as tentadas aventuranças
Para, dos suicidas extrair o aclamado rubi

Que figura sincrético no irrefragável desamparo
Enquanto a noite escorre entre as mãos vossas
E dilacere as plumas das frágeis asas

Com que tentas com tanto despreparo
Voar juntamente com as significações
Que em vão procuras em suas humanas ações.

By: Bruno

Evocação da pureza


Para as Estrelas de cristais gelados 
As siderações vão puras galgando
O turbilhão de memórias vai nevando
Docemente sobre minha vida, açucarados

Momentos tanto vividos quanto imaginados
Músicas vão suavemente traduzindo
Em ondas nevoentas, estes ritmos alados
Que, sem planejamento vão me conduzindo

Ah etérea brancura evocada
Como podem os desejos infinitos, 
Com tão vivazes bramidos

Num inverno inventado,
Serem como tua tez, lívidos, 
Numa eternidade sem ritos?

By: Bruno

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A ressaca de Hórus


Hórus impacientado
Que a tudo vê e sente
Preso no eterno repente
De onisciente emoldurado;

Que achas do mundo em que acordaste?
Confuso, imagino, com tantas visões,
Totalmente cerceado por inúteis razões
Num céu vertiginoso e sem estandarte,

D'onde ergueste as vastas pupilas
E os grandes glóbulos arregalaste 
Percorridos das trevas que tanto alastraste
Para prolongar teu grande Sono que sibila

Em nós, a magia austera da conspiração,
Dize-me, Hermes era tão ingênuo assim,
A ponto de dar a narcísica vasão
À estes vãos cultos e festins? 

Inda qu'em calmas mensagens o vento ermo
Te perpasse quando acordas, e traduza esta era
À vaga sombra do dia enfermo; 
No teu coração não haveria um espanto que reverbera?

Contrastando com a tua Graça, amarga e triste
Quanta melancolia se funde à tua vazia comunhão
Numa procissão de todas agonias que existem
A pedir o cessar, negado à exaustão

No espasmo da lembrança de áureos passados
Teu vulto não soma-se aos vagos letargos,
E tua eterna existência ao puro sarcasmo;
Conquanto de toda fé só restou o escarro?

Toda esta labiríntica nevrostenia
Dos ocasos ridículos das eras
Acumulando tantas inúteis quimeras
De plenitude, não o levaram à revelia?

Posto ser constante o pecado e longo o sono
O costume revogou Tuas potências supremas
Ao buscar sempre sensações efêmeras;
Concordo, vil foi a queda de teu trono!

By: Bruno

sábado, 2 de novembro de 2013

Para além da via férrea


Quantas tardes, cabem numa tarde?
Sem despertar o tenso alarde
Nas árvores que, pousadas nos pássaros
Abrigam a cidade em seus verdes escassos.

Coberta de nuvens e de fumaças carbônicas
A vida qualquer segue, trilhos adentro
Paralelas aos ventos soprando densos
Feito pianos dolentes e pirrônicos.

Nem onomatopeias mais carregam
As locomotivas, só a vida sofrida
Da cidade em seta de única ida,
Enquanto as corporações prosperam,

As rotinas condenam, aventuras lícitas
E o chilreio do lucro, sorri
Enquanto eu mil vezes morri
Diante dos trilhos que principiam solícitos.

A minha aventura, que existia sem mim
Partilhada pela teoria do macio capim, 
Efêmero e longínquo, campo sem fim
Hoje substituído pela trilha férrea

Muitos são os dias que cabem num dia
As tramas dos bichos urbanos, assim eu lia
Em seus silêncios vertiginosos 
E sombras, deduzivelmente telepáticas.

Com a morte misturada na garganta
As pétalas florescentes surgem 
E ignoradamente, fulgem
Sua pequena cosmologia de planta,

E um urubu, esgarçando-se nas nuvens
Não contrasta em nada com o mercedes-benz
Do executivo que negocia o espólio da morte
Do capitalista, que não teve da vez a sorte.

O que falar então das noites poucas
Para tantas horas de sono esquecidas
Enquanto nossos morcegos barganham
As vozes que preferimos tanto moucas,

Que a natureza fecha os olhos coloridos
E as neuroses se tornam nossos alaridos 
Tão perpétuos quanto seus bichos guardados
E seus córregos imobilizados.

Escorrendo de nossos vulgares dedos
Como se o tempo se misturasse ao medo
E ao cisco que invade o olho ardido
Dos que têm suas retinas vendidas

Ao processo de amanhecer amontoado
Nos trens que percorrem sem metafísica
Apenas o suor acumulado
Durante toda a vida tísica 

Da metrópole, onde a vida jorra
Arquitetura auditiva 
Eternamente remoldurada
Sem jamais pensar, na Via-Láctea
Essência latente da mentira humana.

By: Bruno

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Chamamento ao poema

Nos lábios do mundo
Silêncio e grito
Têm igual sentido
E mudam tudo num segundo

Nas linhas de um caderno
A luz e a escuridão
Se entrecruzam sem precisão
E traduzem o que será eterno

Os ciclos entre a vida e a morte
Não são para nós lições,
Meras viagens com ou sem sorte
Roídas pelo vento, fustigadas visões

A palavra não registra nada
Além da nossa rápida passagem
Por essas longas paisagens
E agressivas enseadas

E os sons que enodoam a vida
Perpassam o poema
Alegorizando o floema

Das cores que bordam sem medida
Os sentimentos, segredos de todos os momentos
Sempre escondidos nos grandes temas.

By: Bruno

domingo, 27 de outubro de 2013

Os conquistadores

Mais concretas que as asas dos anjos
As hélices percorrem os céus
Retirando das horas os véus,
Inúmeros como seres andrajos.

E como se sentissem que o tempo foi embora,
Sem a pretença vontade de substituir
As estrelas, que já não vão mais nos acudir
O céu claro os acolhe e com eles corrobora

Com sede de horizonte ou de lucro
Voamos como besouros por entre as nuvens mudas
Metalizados em nossos potentosos invólucros

E os que ficam para trás, são hipnotizados
Nunca com as borboletas e seu voo surdo 
Mas com os excelsos edifícios helicopterizados.

By: Bruno

Rimas de saudade imensa de ti

Trago o coração à flor da boca,
Pulsações despidas de saudade. 
O brilho das memórias é pura maldade 
Atracando-me a esta doce e fatal doca.

Melhor que o precipício dos meus sonhos
É a cidade que me grita a tua ausência
Pois o pranto agora não tem a dolência
Do equívoco, como acordes bisonhos

De uma guitarra desafinada 
Contida em uma garrafa de desilusão
Inarticulável, como a noite abandonada
Em um oceano em mansidão.

Meu único exílio é essa saudade,
mesa maciça que me separa
E totalmente me desprepara
À falta total da tua claridade

Só sei o que deveras sinto.
O trovão que, altivo brame, 
A chuva que, baixinho geme,
E a saudade que me percorre como absinto

Minha vida está incompleta,
Rosa sem espinhos,
Falta-me o fino linho
Do teu toque dileto

Para que eu deixe de ser rumor
Solto na inexatidão do mundo.
Para que eu me torne o verso profundo
Que sempre quis declamar com o maior clamor! 

By: Bruno 

À vivência

Eu sou o que sou, quando alvo
Dos raios refratados dos carros
Não passo de uma impressão esfíngica
Sem as imprecações de uma beca ou túnica

E, bombardeado pelas montras comerciais,
Pelo dia irradial, sigo
Sem proclamar meus profusos ais,
Claro, irrompem-se sonhos como tenros figos

E, minha sombra, lembrete do distraído
Escuro que permeia cativo, 
Pelo urbano bramido

Me remete ao que aprendi, conduzido
Sem cartilha, ao que é decisivo
E o que de momento, é difusivo.

By: Bruno

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sobre o eterno aprendizado



Somente os professores
Conseguem ver, em nossas dores
O eterno glossário
Do nosso aprendizado.

Dobrada é a aventura
Do ensinamento, porém 
Conquistada é a sina de além
Quando folheada com ternura,
E capazes ficamos, da moldura

Da existência preencher
Com o labor mútuo
Do professor e do aluno,

Posto que não é um sofrer
Viver com gosto, o duplo
Significado deste rumo!

By: Bruno

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Distância

Longe de ti
Sinto muito mais frio.
A cidade é muito mais vazia
Eu, muito menos povoado
Mas ainda sim, peregrinado.
Pelo amor que sinto,
Que transita entre os ventrículos.

By: Bruno

O dia mais longo

Após uma tarde de andanças
Chegamos ao terminal tietê
Tu irias partir de qualquer modo
Mas eu, ficando nesta terra,
Como recuperar a alegria
Dentre tantas chegadas e partidas
Dos metrôs?

By: Bruno

Exposição à linguagem


O coração verde dos pássaros me folheia 
sentimentos inéditos que me invadem
E a palavra que nas moscas se repoltreia
Em forma de zumbido, me são filmagens 

Tudo que é rejeitado pela razão
Chega ao poema, eu incluso
Pois o alarido de coisas em rejeição
Perfumam de jasmim o cantinho recluso

Ao qual pertenço, escondido por paredes
De sílabas, que me são paisagens
Como as frutas são pastagens 
Para as moscas que têm tanta sede!

Sou assim, enfio pregos enferrujados
Nos sonetos, oxidando os substantivos,
Fico olhando o fio de água da calçada
E percebo ali um tribunal sem alçada

De bactérias e protozoários embebidos em sabão
E na boca da vida, a palavra apodrecendo,
Desgostosa de ir na linguagem se revivendo,
Vestindo o terno emprumado do tempo em progressão

Que me mostra que ser chão depende da prática
De ser sozinho, atacado por árvores alienadas
No mesmo grau das pedras, vizinhas desejadas
Pelos musgos que as povoam da moda fleumática 

Do desterro que há nos capinzais,
Onde os vaga-lumes acendem estrelas 
E a lua secava as aquarelas 
Que a vida forma, com lutas corporais

Enquanto um rio escorre de nós
Em formato de fala e de cidade
Suja e amassada da hora veloz
Que passa com a maior frugalidade

E eu, que negocio com o vocábulo
Sua próxima aparição
Funciono só com o meu vernáculo
No altar que acho nas flores em botão.

Eu sou quando e depois
Da palavra manifesta
Sou, pois
Uma impressão de seresta.

By: Bruno


domingo, 6 de outubro de 2013

Estrelas...
Sei que nunca serão minhas
Mesmo assim...
Insisto em cozinhar um ensopado
Com todas elas.
Salpicando-as junto aos astros que fulgem
Na panela.
Como se esperasse a fome do céu
Saciar.

By: Bruno

Balada do céu nublado

Apoio a cabeça no mesmo céu nublado
Em que dois pardais, trocando bicadas
Percorrem seu caminho.
Vida pacata?
Não é possível em meio ao concreto 
E o vidro pinicado pelas gotas da chuva.
Com o relógio a ponto 
E o céu sempre a pino,
O que há de fazer senão escrever?
Os mesmos pardais que vi
Poisam agora no poste do semáforo,
Será sinal de trégua?

By: Bruno

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O choro da estrela...

A chuva pinga orvalhada dos caibros e das calhas
Como acordes de infinitude que bramem sons de mogno
De cítaras longínquas, enquanto o homem, daninho
Segue caricaturando as falhas de viver sem sentir
O sabor de uma estrela que chora sobre todos nós.

By: Bruno
Eu te amo como amo a abóbada noturna
Tu que, minha vida, canção taciturna
Transformaste-a em lívida ventura
Com tua inesquecível e suave brandura

Eu, que sempre existi incompleto
Nos acasos cotidianos, fluindo,
Como um rio que ia se esvaindo
Nos intemperismos evaporantes do dialeto,

Acendia astros imaginários e neles me iludia
Entretendo assim o grito sem sombra do dia
Conquanto as noites, caíam irretratáveis
Ao véu gelado dos meus ventrículos irremediáveis.

Agora, mergulhando na sutil espessura da tua sensibilidade
Provando o real sabor do amor ao qual eu desconhecia
E, livre das janelas que me alvoreciam
Posso pensar, não em subir os degraus planetários da eternidade

E sim, em subir as serras dos dias, sem o desfeito
Das horas que pertencem ao tempo,
Apenas levando o doce alento
Do amor que depositaste em meu peito.

By: Bruno

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Projeção


Olhai sem convicções, sem surpresas, para a Musa Ciborgue,
Presa nas horas que fazem-se canoras, no pranto que escorre
Tesourando insensatamente o fervor de seus panoramas
Onde estão projetados seus tormentos em epigramas  

Poetisa nua das pinturas, entendo teus languescentes 
E venais pecados, teus esqueléticos sonhos e desejos
E vejo que, no súbito estertor de tua imaginação, há potentosos ensejos
À inspiração dos santos sem altar, dos corais triunfais e efervescentes

Do sangue profuso das maldições que nos adulam a porfiar o sentir,
Sim, minha Vênus Ciborgue, as nuvens flageladas que nos cercam,
As imprecações de mil estrelas que nos fogem das mãos, nos cegam
Enquanto as musas cantam a melancólica melodia, que, ao ternamente nos pungir,

Nos faz incrivelmente mais humanos, mesmo sendo meros puppets nas mãos do real
Com longos galhos langorosos, como os Pinheiros de Apollinaire,
A derivar sob o vento das artes, sonho acordado nos bulevares,
Imprevisível como o ressonar de acordes inéditos! Eia vossa sina astral!

Eis aí o espetáculo, estarás para sempre com a coluna partida e metalizada
Sempre com as artérias do coração, por amor, hemorrágicas 
Sempiternamente Projetada, tétricamente materializada
Numa Esfinge de eternidades devoradas!

By: Bruno

domingo, 22 de setembro de 2013

A vida em 2-D

No protoplasma estático da celulose,
No fóton irradioativo da tela
Vivo mil vidas e não dou pela falta da minha,
Leio no reflexo que não me reflete
Mais verdades do que eu poderia auferir
Sobre a físico-química das coisas que existem
E que pra mim não existem, pois não as sinto táctilmente
E porque não as vejo percebo que mentem, metendo-me
Nas realidades disfuncionais dos caminhos tridimensionais de ser bípede.
Sujeito e predicado são para mim a verdade por trás do objeto oblíquo
Das coisas que caracterizamos com palavras
Só para poder escrevê-las sem a culpa de não-nomeá-las
Sem a febril intensão de se ter febre ou resfriado
causado pela poeira das coisas inominadas ou esquecidas
Que na verdade, não nos guarda rancor por esquecê-las ou não nomina-las.

E quanto ao teorema do absurdo que jaz em todo funcionamento motorizado?
Foi uma tentativa tão abstrata assim de fazer do homem o paradigma
Para a poesia suprema, soberba do ato de existir sem se fazer nada?
E quanto ao lamentos dos Deuses que deixam de impetrar decisões fatalistas
Porque os trocamos por botões de acender luz e desligar coisas?
Há na alma ainda uma alameda com candeeiros prontos para acender e apagar
Conforme a música da vida que nos ressona desde a ponta dos pés aos ossículos auriculares?

Eu... Como sei que eu sou eu?
Preso nas configurações desconexas do sentir?
Liberto na vida por amarras invisíveis
E desfiado de mim mesmo, por mim mesmo todas as vezes
Em que não peço permissão às palavras e elas me invadem
Querendo ser escritas, seja no papel ou numa tela
O que importa é o caminho que interpela
A maneira não importa, nunca importou,
Posto que a vida é um imenso refrator 2-D
E o ciclo das emoções é continuo e avesso
Aos dentes de Chronos que nos devora lentamente
E sem qualquer tempero, sem qualquer cerimônia
De garfo e faca e sem guardanapo!
Sem guardanapo! Ele não tem a mínima vergonha
De se lambuzar do sangue do nosso tédio,
Da seiva da nossa alma, da água azeda em nossos corpos!
E a cada garfada, eu acabo percebendo que continuo sendo eu
Sem ser realmente eu ou outro. Ou sendo eu no outro, fatiados
Numa só salada de eus e de outros!

E mais uma vez chamo meus olhos a mim
A corruptela glaucômica da vida tenta sempre
Mas não desvia meus olhares de mim mesmo,
Pois há neles o ardor do mundo, então a diferença é mínima
E então clamo a vida que me ensurdece a alma
E que se refugia nos papéis que se espalham
Se mostrando mais viva nas telas do que na vida vivida
Mas todas estas vidas, épocas e valores
São inspirações mortais, são a arte que procuramos criar
E que no fim não pode ser criada, pois ela está aí!
Em profícuo estupor, incessante! Eia a civilização
Eia a todas as civilizações e sua mania de perfeição!
Os prédios em sua impávida forma denigrem-se a si mesmos
Ficando cada vez mais modernos e nos tornando verticalmente mentirosos
Enquanto as pirâmides, coliseus e todas as outras formas geométricas
Nos invadem em forma de passado, convidando, instruindo,
Modificando a falsa noção de todas as realidades
Que pensamos e teimamos tanto serem verdadeiras
Coitado do papel... Aguenta cada falácia
Mas a tela, ah a tela, essa é mestra, nos domestica cada vez melhor!
E gostamos, eis vosso ópio, garotada!
Gostamos da representação de nós mesmos,
Gostamos de não ser nós, gostamos, gostamos, gostamos
Afinal quem quer ser a si mesmo e não saber o que se é?
A tela nos mostra tudo! Tudo mesmo, basta apertar o canal, vai vai, aperta logo!
Mas o papel... Só o papel nos compreende como somos!
Eia!

By: Bruno

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Refração


Durante à noite, sob os sóis que me inundavam a face
Vi meu rosto no espelho de meu espírito,
Estático como o voo sem rito,
Dos pássaros urbanos em seu predestinado enlace.

Toda vez que me perco no montante de minhas cores
Eu penso em ti e meu convívio com as flâmulas é afastado
Como se não fosse mais à minh'alma, abastado,
O fogo que martelava em minhas pupilas, o ardor das dores

De um mundo quiméricamente melodioso, e que me configurava
A ponto de amalgamar o reino avulso da corrosão... 
Que sou eu senão linguagem? As vogais ébrias, serpenteavam; 
O que eu sabia ser, impetrou assim, sua arguição!

O sonho em que vivo hoje deveras, é a realidade
E não uma eternidade premeditada por degraus ilusionais,
Contingentes das profanidades fantásticas e sazonais
As quais me prendia sem me importar com a materialidade

Da minha vida, máquina cosmogônica de sensações
Relativas à ti, amorosamente conectadas,
Saborosamente puras, como camélias desabrochadas,
E não sol da noite, vasto em adorações.

By: Bruno

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cântico de saudade

Ao som da flauta 
As poucas folhas latejam,
Como meu coração
A tua ausência.

A chuva veio juntar-se à minha saudade
Gotejando um cântigo breve
Sob o asfalto despreocupado com os carros.

Me distraio com o susurro 
Das tuas lembranças doces,
Assim passo os dias 
Até ver-te novamente.

By: Bruno

No pêndulo de Foucault


Na forma pendular do movimento
Te contemplo, com toda liberdade
De oscilação que meus batimentos
Permitem; dominados pela tua suavidade.

Limpo do delírio, me deleito nos meigos traços
Dos fios do destino, que a ti me uniram
E sorvo o perfume astral dos lírios que floriram
Em minha vida acolhida na ventura celeste dos teus braços.

Descobri na bruma um novo aroma, na lua novo horizonte
Nas folhas e no concreto nova cor de alegrias aladas
Atrativas, altivas, volúpicamente adensadas,
Convergindo num sentimento radiante, a fonte

De leves canções à libações flamulares
Fulgindo em nossas almas e corpos
Em consonantes iluminuras singulares
Que a tudo vertem em um incensório torpor! 

By: Bruno

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Brevidade

no verso breve
há de se dizer tudo
rápido como a lebre

no tempo, tudo é breve
mas não só feito
de coisas leves

todas as horas, são breves
para não nos deixar esquecer
que tudo se subscreve

ao agora que manuscreve
apaga e reescreve
nossa vida e nossa morte

ao acaso que nos transcreve
todo verso é branco
como a neve

mas com algo que o eleve,
é terminado, como se quisesse
recuperar o semibreve

sentimento que nos devora
e que nos eternece
sem nenhuma demora

contra o tempo, não há greve
que o opõe e que o releve
ele vai e nós vamos e assim tudo esvai

natural ordem que descreve
como a vida sempre escorregando esteve
nas mãos do eterno transitório.

By: Bruno

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Felicidade

I

Feliz foi a madrugada,
Cingida pela ternura de nossos corpos enlaçados.
A brancura que sustentava estes instantes guardados
Sintoniza em minh'alma, a melodia da vida poisada

Em teus leves olhos fulgidos de sentimentos,
Onde encontrei um horizonte para descansar
Da incerteza que me negava o firmamento
E que hoje eu posso certamente confrontar!

II

Feliz foi a manhã,
O inverno foi ali dividido
Entre o sigilo de um novo amor
E, de um novo começo, o sabor
Das mãos vorazes e o desejo acolhido.

Arrisquei a inventar a realidade
Ao invés de sofrer a revelia
Dos sonhos impregnados de ingenuidade
E ouvi do silêncio uma perfeita eufonia!

III

Feliz fui eu,
Que queimei as residuais brasas
E renovei minhas folhagens
Nas baças paisagens
Que não são miragens
Mas sim amor.

By: Bruno

sábado, 31 de agosto de 2013

Poema à inexistência declamada


Surdas e translúcidas
São as montanhas abandonadas
Pela tua presença breve e lúrida
Nas grandes altitudes nevadas

Onde cintila a recente ausência
Dos teus passos sobreviventes
Às borrascas mas não à fremência
Do homem, criatura adstringente

E febril, que não distingue
O silêncio e o relento,
Pensando consumir da carne o alento
Da foice divina e onilingue

De Gaia, que assiste compraz,
A resignação das pedras empedernidas
Pelo tempo, que não se demora, atroz
Em emudecer a eternidade adormecida

Na imaginação que não pode ser admitida:
Pelos que não passaram por uma completa 
E inexorável aniquilação;

Pelos que não resistem ao atravessar
Desconexo do tempo, discrepante e secreto
Dos homens e dos habitantes do céu.

Bruno Borin 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Soneto metálico

Sob a excelsa forma do concreto
Lá estão sem alma, sem calor
Permeando o ambiente com o palor
Do aço dissecado, funcional e ereto,

Dispensando qualquer claridade
Seja do pasmado sol ou da antiga lua,
Ocupando da verve a sapiência nua
Espargindo o legado da artificialidade.

Máquinas, metáforas de nós mesmos
Traduzidas por mistérios devorados,
Em módulos de tempo e assiduidade,

Tentativa de repartir a solidão em sesmos.
Motor, serras tornam o caminho desarvorado 
E pronto para pavimentarmos a eternidade.  

By: Bruno

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Meu silêncio

Meu silêncio é o mais barulhento de todos os silêncios
Nele, há corredores imensos, como os de shoppings,
Com montras projetoras dos meus irrequietos desejos
E estacionamentos para as alegrias e sofrimentos
Com vagas preferenciais para as palavras mais fugidias,
Aquelas que insistem em não significar amplamente
Os ruídos convulsivos do epitélio do tempo
Que comprime estes meus corredores até deliquescer
O grito encantado, desta matéria descuidada
Que compõe o meu silêncio.

Entre chilreios e miados,
vou tecendo o inverno instável
Onde deposito minhas mãos cheias de tempo
E meus sentidos cheios de vazios
Na carne da ortografia
Como quem deposita moedas velhas
Afim de preservar o ofício de suas efígies
Nos cofres bancários.
E onde as minhas paisagens não se convergem,
As dicotomias inexas ao produzir em mim,
Facécias, moldam também a razão
Dos meus lábios cerrados,
Como quem busca a boca da sede
Porém jamais cede
Aos escrúpulos do vento
Que, diligente, irrompe o mundo
Trazendo histórias em folhas de relva
E pétalas roubadas.

By: Bruno 

Canção às árvores de cranberry


De manhã, as árvores de cranberry
São importunadas por mãos indesejadas
E o tremor da folhagem caluniada
Arranha o vento como um estandarte
Denunciando a inocência entorpecida
De todas as árvores frutíferas reconhecidas.

O único momento em que essas tolas árvores
Percebem um pouco da vereda da terra,
Já que a realidade dos homens as erra
De vista e de tato,
Ocorre quando seus frutos são retirados
E colocados nos mercados e nas greenstores

O sol que as lambe nas quentes tardes 
Sabendo que ao passar da primaveril estação
As árvores de cranberry já não lembrarão
Que um dia tiveram frutos, ri covarde
Enquanto elas se porão a romper novamente
O lucro carmesim dos agricultores hostis 
Que sempre ignorarão seus direitos civis
De trabalhadoras sazonais permanentes.

By: Bruno

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A barata me fustiga 
Toda e qualquer esperança cômoda
De assepsia
E a possibilidade de voo
Em seu zunir, me assovia
Um fadigoso tremor
Sem o leve bramir,
De imaginar tudo isso
Que causa ao somente existir.

By: Bruno

As horas


O reflexo da luz é a aura da hora
Condicionada à numeração incerta
Do relógio no pulso da pessoa certa;
O dia se deita e o encontro fica em mora.

O inverno esconde a minha vida
Cheia de eus impacientes 
Todos tão hermeticamente cientes
Que a eternidade é uma dívida vencida,

Porque, trêmulo na noite, é o breve alento
Da flama acendida à isqueiro, no intento
De imitar a mortalha do firmamento
Num breve e sórdido momento 

Sob a tutela do fogo, empilho meus eus
Imigrados de cantos distintos do meu ente
Esfacelado e fingido de doente,
Barco ébrio navegando aos léus,

Missal de mãos estendidas 
Como folhas trementes
A que são tão tementes?
A Deus? Não, Ouroboros,
Medo dos retornos eternos!

By: Bruno 

Estilhaço


Com olhos para o céu, me procuro,
Me perdi no meio de tantos eus
Nascidos do rumor das árvores
Que, frisadas pelo vento
Gemiam de frio, sugavam seiva
Fofocavam eriçadas, farfalhavam
Embriagadas com suas próprias toxinas

E eu? Tantos eus... Passeata
Manifestação em prol da esfinge,
Sentimento esfíngico manifestado,
Porta escancarada ao eterno retorno
Ancorado silábicamente ao epitáfio
Do sonho acordado, onda além-vida

O silêncio dos passos,
No horizonte de concreto,
Zumbe a verdade dos meus eus
Perdidos na claridade sombria
Das lâmpadas fluorescentes,
Constelação elétrica, suspensora
Das eternidades, metáfora dos negócios
Imaginativos, vozes de tantos eus calados
No sonho fragmentado,
Forjado pelo idioma das efemeridades.

By: Bruno 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O buquê horrendo


Ó florações ebúrneas, leprosas
Sangue coalhado, espargido nas pétalas
Negra nevrostenia a percorrer as cabalas
Dos estames minguados, sinuosos;

Delírio convulsivo, errante a se prostrar
Nas almas seduzidas por este buquê
Deletério, com novas ramagens a dissimular
A efervescência do caos hediondo e sem porquê

Ó ócio do espírito a arrigar lágrimas através
Dos espinhos projetados para porfiar 
As imaginações sidéreas gelando, deleitoso revés,
Constritas por estes malditos caules, a nos manejar

Mouca floração, envolta em asqueroso sudário
Pensas que está mesmo tão oculta;
A desmoronar mundos, como um velho templário?
A Despetalar doridos corações, como um tépido vulto?

Fatigado farfalhar imerso em falso mistério
Volúpia do deslumbramento, clama febril a flama
Para o incêndio derradeiro, assombro gaudério,
Anseia ter o lenho a crepitar; e o poema proclama

O tenro encanto das brumas fumosas
Alentadas por névoas de pólens serpentinos,
A contaminar nossos pulmões meninos,
Que uma vez me despertaram sensações danosas! 

By: Bruno

domingo, 11 de agosto de 2013

For you, my lost friend

A gentle breeze upon my shoulder,
Sight the poor cherish of the city
That I'am linked with, soft insight
Of my pointless eye of traveller

So I look at the dark sky gleam
In my lonesome search I have seen
The multitude of hidden vault 
Eternity among the mistful clouds

I'ts you, It's you, I just know!
Some sharp claws and blue eyes 
O eternity, how rude are your lies!

My lost friend, my devoted moon howl
As a cat you did much indeed
So a separation was a motion in need...

By: Bruno 

Soneto da ambivalência

A luz jaz nos lábios do mundo
O silêncio e o grito, embora opostos
Remetem ao mesmo sentido imposto
Da dicotomia estabelecida no abismo

Dos desencontros, foice nunca cega
Da vida e da morte, amor e ódio
Fogueira que urde, aclamado ópio
Dos poetas, que sempre negam

A ausência da eternidade, efígie
Da reciprocidade alegada em tudo,
Até no ateísmo mudo

De Deus, perante sua próspera espécie
De deuses, criadores de criaturas,
Fazedores de plenas caricaturas!

By: Bruno