sábado, 25 de fevereiro de 2012

Um eco a espera de seu retorno...

Olhando sua face com uma expressão tão pacífica
Sem querer deixo uma lágrima escapar
Atingindo sua pele sem nem o escuro reparar
-Quantas cores você ouve dos sons lira?

Me pergunto em um pensamento espontâneo
Sucedido por mil outros vaporosos, provenientes;
-Será que seremos coetâneos?
Do meu mais reservado inconsciente

Nas muitas janelas, nas muitas paisagens
Nos infinitésimos rostos das multidões
Visitando e revisitando os inúmeros vagões
Dos metrôs, em tantas falsas viagens

Eu vejo seu rosto, vejo seu sorriso
Trocamos vários olhares concisos
Sinto seu palpitar adormecido
Quando dormimos aquecidos

Mas não posso tocar-lhe carinhosamente a face
Não posso sentir sua respiração ébria ou lúcida
O destino não permite que em seus braços eu me enlace
Porque não posso encontrar sequer seu vulto translúcido!

Porque meu futuro é avesso como um eco
Que espera ansioso seu retorno, mas entrisce-se
De saber que neste volumoso enquanto, num boteco
Tenho o duro soluço da solidão, o que me enlouquece...

By: Bruno

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Spleen 8

De uma perspectiva mais obscura da cozinha
O lirismo da chanson atinge meus ouvidos
E compartilho de uma lembrança que não era só minha
Era um tempo em que se somavam dez olhos fixos
Porém fixos em diferentes futuros
Mas temos todos em comum a presença desta mesa
Que nossa fome contraditória a preencheu de imaginários furos
Duas verdades inconvenientes: a fome e a incerteza
Surgem consumindo daqueles dias a pouca razão
Abrindo brechas para as morderduras da obcessão
As memórias por algum acaso ressonam
Com as ensanguentadas cores que preenchem
O ambiente e os ouvidos que agora escrevem
O que aqueles dez olhos uma vez sentiram.

By: Bruno

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Memória dos dias cinzentos

Quando os céus se fizeram cair em pequenos balbucios
Nos carros e no asfalto recém molhado
Me senti guiado por aqueles braços recheados
De minhas memórias representadas por vários vestígios

E mais uma vez naquele burburinho de gotinhas
Os delírios azuis se tornaram por poucos dias, cinzas
Embora não lembre com perfeição as pétalas surdas
Dos meses em que se sucederam o voar daquelas vidinhas

A mão que me pertenceu por aqueles lânguidos segundos
Era agradavelmente mesquinha em sua notável aspereza
Acomodava a minha como a enseada acomoda o mar com clareza
Dizer meu nome também foi o gatilho para inúmeros sonhos oriundos

Dos amores talvez inventados mais epiléticos
Hoje desbotados por uma tremedeira latente
Que antes fustigava o menor pensar e hoje, o luzente
Lamento, que toma por alvo o que antes floriu esquelético.

Minha afeição estreita e vasta me permite apenas
Imaginar como estariam coloridos aqueles traços que pintavam
Aqueles braços que naqueles inusitados dias, atenuaram
As dores e alguns lamentos sortidos, deste pequeno açoitado
Que agora revive a ternura remendada daquelas poucas cenas.

By: Bruno

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A lua entre nuvens, flores ao vento

Nas pequenas exasperações da vida diária
Os momentos oscilam nas condolências da lua
Que pranteia uma melodia descontínua
Em um momento cortado pelas flores solitárias

A passear ardentemente, guiadas pelo vento
Intrometendo-se nas eternas fulguras
Das nuvens que contorcidas tornam-se gravuras
Dos sentimentos que entremeiam a existência e o tempo

E então na conjectura destes incomuns falsetes
Notas soltas, brumas, árias, etéreos gotejos
Velhas religiões, amargas inspirações e roídos arpejos
A existência presenteia com tenebrosos ramalhetes

O tempo que acompanhava aquela carícia das flores
Ao luar ditoso, que envolvia aquele pútrido amor
Perdição esta, evidenciada pela vida e suas inúmeras cores.

By: Bruno

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Frustração

Na forma pendular do movimento
Eu vi o mar da janela de um ônibus
Das florestas a fatigar o sonho, e um Incubus
Surge nefasto a roubar ao sutil relento

A alma que respira púrpura
Os vapores e os ares artificiais
Os sóis esquisitos dos horizontes nacionais
A natureza mais esmeralda e sua frágil arquitetura

Enredado pela vidraça daquele maquinário
A visão ambulante tendia também para a neblina
Onde resquícios daquela memória cristalina
Envolvem apesar dos rancores o meu imaginário

Nas asas azuis dos pássaros que eu acabei não vendo
Premedito a estética da felicidade, sinal onipresente
Do céu que mesmo devorado, se faz futuro do presente
Das adequações dos pensamentos que concluo lendo

E assim me conduzi incerto àquela altura incomum
Acostumado com o sombrear das quilometragens
Meu delírio se fixava estranhamente, naquelas metragens
Retilíneas, apenas com a firmeza dos céus, sinuoso era o desjejum

Do simples esperar pelo que viria
Resolvendo transpor qualquer limitação
Desacomodado pelo que não acontecia

Incoerente nos gostos e pensamentos
Noto haver incompatível comodidade
No aproveitar daqueles estranhos momentos.

Levando em conta estas ambiguidades
Noto também a perseverança da natureza
Que sempre evolui a partir de desacomodidades.

By: Bruno

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O maltrapilho e o zombeteiro

Aos passos curtos de uma escada de três degraus, um maltrapilho, destes com um grande saco nas costas foi subitamente agarrado por trás, creio eu tomado por algum satanás zombeteiro, e desde sua queda, para o susto dos transeuntes, ele balbuciava berradamente uma canção não identificável. Seja devido a sua embriaguez ou devido a ausência de percepção daqueles que assistiam ao coro dos segundos desvairados que se seguiam.

E nesta inquietude de um êxtase perpétuo, eu percebo ao olhar rapidamente no relógio e relacionar isto ao tempo do acontecimento, percebo que o crepúsculo excita os loucos e naquela harmonia de uivos havia algumas distinções imaginárias que o punham cantando à mesa de um sabá dos mais festivos, em que há instrumentos e melodias ao gosto dos demônios e também o colocava em uma condecoração de algum grão duque da terra dos loucos. E assim é engendrada a reinvenção do crepúsculo, que agora é uma figura ditosa a dotar qualquer criatura de toda a infame glória dos talentos mais culposos.

O crepúsculo ao me explicar as tristezas das cantorias me faz entender a zombaria que tudo isso acaba se tornando aos olhos do demoninho sombreando a aura curvilínea do maltrapilho. Se fazendo causa, ato e consequência daquela alegria súbita que se torna um aleatório passatempo para quem é pego de surpresa ao passar por uma das numerosas estações de São Paulo.

By: Bruno

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Irremediabilidade

Objetos religiosos corrompidos
Determinam a ascenção do demônio
Este inexprimível heterônimo
Dos atos mais inabsolvíveis afligidos

Que dizer então, do fluxo constante de heresias?
Que comentar, da doce sinfonia das negligências mais frias?
Apesar de todo o sangue, jamais os humanos se saciam
Causa que faz os céus rirem dos joelhos que se martirizam

Como o mais meigo animal a destilar-se de orações
Na deserta imensidão onde os incensos e castiçais
Estupros, punhaladas e desastres, porções abissais
Cuidadosamente escolhidas para suprir as abstrações

A morte desde os primórdios sorve languente
A vida como um delicioso chá num parque outonal
O verdugo austero das guerras e do despotismo eternal
Dos mais fortes a retirar da bolsa dos párias a vida existente

Os ossos roídos daqueles que não veem a maldição no horizonte
São como as crianças ávidas para o espetáculo
Onde as impacientes mães colocam um doce em suas bocas, um odiento obstáculo

A resignação de obedecer a ordem da faláscia
Imposta para calar a pequena criança
Que mesmo ausente de perspicácia

Intenta a fúria da mãe e esta, rigorosa
Lhe lasca uma bofetada vigorosa!

By: Bruno

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Errante


Arrastado por grandes clarões lúcidos, desgastado
Acabo me tornando, de tanto vagar pela imunda cidade
Solitariamente sem cantos, ventos, apenas a crua mocidade
Sem nunca esbarrar em algum paraíso perfumado

E os encantos furtivos dos amores primeiros
Brilhando como uma pequena opala
Encontrada por um pobre canoeiro
Que tenta com as mãos em concha aprisioná-la

Se mostram tão fugidios quanto o vasto mar
A ser pintado por fraquejantes pinceladas
Assombros de mãos esforçadas e calejadas
Na vã tentativa de suprimir o desejo do ar

De adentrar nos pulmões arfantes
Retirando a vencida asfixia
Amornando o espírito ardente

Este a pensar que engole o tempo
Enquanto o tempo é que engole
Sua diminuta vida com um véu cinzento.

By: Bruno