domingo, 29 de julho de 2012

As flores choraram negro


Como borboleta voando em fim de Julho
Uma menina agachada se lamenta
E cheia de tristeza, se levanta
Sob horríveis olhos, sem orgulho

Com os seus fitando o céu tropeçando
Sentindo o frio deste crepúsculo perfumado
Deixando no pequeno riacho maculado
Um barquinho amassado, fustigando

Com um pequeno delírio as cinzas vogais
Ultramarinamente, sem pretenção
De aniquilar os tédios fatais
Como pássaros sem ambição

As orquídeas choravam orvalhos negros
Enquanto circulavam suas seivas espantosas
E então vi destilar nos gestos íntegros
Da menina, as mesmas feições infecciosas

Manchadas de lumiares elétricos,
Dos ventos saudáveis de inverno
Que embalam o sono terno
Das bonecas de olhos severos

Dos que por delicadeza
Deixam de se amar
Dos que por esperteza
Deixaram-se abandonar
Em noite qualquer

E então, formando este crepúsculo perfumado, em estreita luz
As orquídeas choraram suas últimas lágrimas
Durante o fosco bater, das asas de estranhas libélulas.

By: Bruno

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Divagações insones


Eu me arremeço na cama escorregando na finitude de um sonho fantasioso
O céu parece transbordar um laranja desagradável
Meio que alegre e triste, por vezes interrompido pelo tempo nebuloso

E apesar dos selvagens pingos de chuva mancharem ruidosos
Uma visão completamente irreal e transfigurada
Injuriada por odiar o dia e arremessar-se às noites nebulosas

Na desconsolação de uma febril solitude 
A lua vem me dar um pouco mais de tragicidade
Observando diretamente a amplidão da minha quietude

Os símbolos, os rituais e as meditações se tornam então
Apenas estranhas formas de lamuriar uma esperança mastigada
Conquanto o esquecimento que se cristaliza parece-me um irmão

Volúpias, seduções e demais feitiçarias são o embalçamento
Das convulções da carência que emerge como um oceano 
Tão nauseabundo e tão eloquente, que é dos demais o seu firmamento

E nas desfigurações dos meus sentimentos, as auréolas do assombro
Sempre deram lugar à essas ondulações nervosas, que
Me forçam a andar assim perdido, na vastidão interminável dos meus escombros

E então vejo meu requiem em um punhado de olhos constelados
Me vestindo de fantasias que me direcionam a diversas salvações
Porque insisto em poematizar todas as coisas que brilhem mais que eu.

By: Bruno

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Borboleta Invertida

O inverno pesaroso inverte as asas das borboletas
Voando através da condolência do ar
Apenas esperando o céu se equilibrar
Entre as tonalidades de suas silhuetas

E o seu cinza habitual, sempre ignorado
Como aquele vulto presente sempre
Como um rápido vislumbre
A passar nos cantos dos olhos minguados

E uma vez o sol também pesando nas asas já invertidas
Deixando a eternidade encerrar mais um coração remendado
Obriga os reflexos dos vidros a devolverem as recordações inventadas

Repartindo um subconsciente suspiroso 
Enbebedando a alma com doce veneno
Num tenro assoalho lamentoso 

Enquanto os monótonos sons das memórias vividas
São levemente borrados, reorganizados e comprimidos
De modo a dar abrigo àquelas imaginárias idas

Das asas invertidas, que renascem apenas
Para ter suas puras asas invertidas novamente
Num mergulho sem fim, ao desencanto, às centenas.

By: Bruno

terça-feira, 3 de julho de 2012

Carma



Quando a cerejeira vai desabrochar?
Quando a vila da montanha se abrir.

Quando a cerejeira estará pronta?
Quando a sorridente menina de sete anos brincar.

Quando a cerejeira irá dançar?
Quando a cantante menina de sete anos dormir.

Quando a cerejeira irá apodrecer?
Quando a menina de sete anos voltar da morte.

...

By: Bruno

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O desabrochar da flor, o desembainhar do destino.

Capítulo 2 - Melodias sob o vento de outono.


A grama seca carrega desistente
Os sons dos passos
Amassando-a de forma penitente.
--
O mar se estica para aqueles que navegam
Para as longas asas
Ele apenas as olha e as renegam.
--

Cantava meio em transe, em face da multidão que curiosa se aglutinava em torno daquela inocente boca, naquele fim de tarde, das quais saíam frases tão maduras e talvez mal interpretadas por quem abandonasse o local desdenhando os acordes falhados. Não era o momento e não estava preparada ainda para cantar sua dor, sua dor poderia derrubá-la a qualquer minuto e lugar, por qualquer súbita coisa que se assemelhasse aos momentos de desespero que passou. Os ventos de nada atrapalhavam o cair das moedas modestas na caixa de sua biwa, as pessoas talvez precisassem mais do que imaginam de uma pausa para distrair a mente com cultura de rua. Para a pequena, isso significava uma estadia numa pousada e talvez até um ou dois vegetais acompanhando a tigela merecida de arroz que podia pagar. Dos muitos rostos que via passar, nenhum ainda chamava a devida atenção, então a cada fechar de olhos, um alívio para sua introspecção, que não podia dar ao luxo de soltar-se por um segundo sequer. Devia continuar o show. Do contrário as pessoas iriam embora e então ficaria sem jantar.
Ninguém o vê
Mas seu som por todo o bosque ecoa
É em sua silhueta que o povo crê
--
Fazendo despencar
O fruto maduro desejado
Que as árvores refutam-se em dar.

A última canção da noite lançava nas mentes um ar misterioso, mas ninguém se ocupava de adivinhar que youkai poderia ser. Acredito eu, agora com um pequeno livreto em mãos, que mesmo naqueles tempos, gente da cidade não acreditasse mais em criaturas místicas. Será que tais criaturas importam-se com tal duvidosa credibilidade?

By: Bruno.