sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Le sort des larmes

Sempre o vento de tristeza que percorre minha alma em mármore
Desperta uma singela lágrima a percorrer sinuosa
Até a ninar evaporada nas nuvens que sorriem culposas
Nesta época de literal e perversa imémore

E por firmamento ébrio constante das monotonias
O bom arquiteto de fantasia
Lapida calmamente sua obra que nunca atrofia
O oceano domado por pedrarias

O pêndulo inorgânico há de cobrar seu preço
É atroz e desumano, mas merecido fato
Daqueles cuja esperança se faz artesanato
O trapeiro que foi humano há de ser sucesso

Sempre digo ao meu gosto depressivo
Que a esperança é sinfonia a aflorar-se inglória e sombria
Aos corações inconquistados até das divindades mais fastias
Um desespero sem igual, de remorso abortivo

Posto que piedade é um desdém à dignidade
Falsa e desgostosa, fiel desonra
Não vê tamanho perjúrio quem não aposta no cinismo da humanidade

E façamos dançar à luz de um sol renovado
Uma decadência à nossa moda sediciosa
A criança ávida de sonho recém-arquivado
Ao sadismo, inconsciente e jovial tortura deliciosa
Eis a realidade, incoerente, não?

By: Bruno

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Elegia para a bailarina

Sob o leito de brilhosas flores amassadas
Observo a vossa dança quase entristecida
Sob o leito dos luares calmos, mas alienados
Vosso semblante apaga-se dos sentidos esmaecidos

Vosso peito, bem me lembro, era o remendo do infinito
Cheio daquele fogo demente que deu lugar ao progresso
Vossas visões, céu, liberdade, delas também me envaideço
Embora vossa dança sempre permuta, serei sempre maldito

E em meu sono feliz de menino mimado
Por vezes recordarei daquele tempo ido
Os sorrisos hoje partidos, o abraço prometido
Mas não guardo dissabor, ainda por mais odiada

Seja a lembrança que tens de mim;
Pois apenas colho o bem estar da fantasia
De sempre ter apreciado só o palor da vossa agonia

Posto que fora uma boa dose de emoção
Para minha estremecida ventura,
Do controverso elogio que me fez, o dom da aliciação
Eu sempre me embriagarei.

By: Bruno

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A espera


Folheando páginas e mais páginas
Procurando nelas a linha do horizonte
Perdido entre o que meus braços não podem agarrar
E o que eu não quero soltar
Mas antes que as ideias eu desponte
Saibam que o sol é de longe uma das coisas mais trágicas!

Eu não me importo em contar, embora não sei se devo
Que eu aguardo do tempo uma solução
Aguardo com tamanha prontidão
Enquanto aguardo, eu leio, estudo, escrevo

Os meus vários sorrisos oscilam involuntários
A causa é desconsolação do meu espectro tendencioso
Por muita vez deixei cair os braços sob o por do sol embaraçoso
Eu renego fortemente esta epiderme de medos desarbitrários
Em vão

Não sei que sentimento ainda inexpresso
Me aflingirá de modo sufocante e bem de repente
Munido de um cansaço exorbitante e incondizente
Com a disposição ausente mas com sorriso eu me subestabeleço
Suspiroso

A noite é dama antiquíssima
O ente que entende melhor estas máscaras
Seu xale franjado de infinito é de fato elegantíssimo
Prostramo-nos juntos a ouvir o som das cítaras

Vem solene aquele sono que austera
A dolorosa espera que é esta vida
Cheio de esperança vazia e partida
E a copa das árvores bebem a dolente primavera...

By: Bruno

sábado, 24 de setembro de 2011

A nau tecnológica

Refazem-se nas minhas mãos o relento daquele tempo no mar
Nos dedos um constante afago de modernidade
Luxo e luxúria misturadas em confraternidade
Ah aquele sol à janela, a maresia, que belo ar!

As moedinhas sacolejam nos máquinários
Consumimos a pouca fortuna
E seguramente bebemos, lemos, diferente da graúna
Livre a voar no horizonte toutinegrando sedentária

Sempre a pousar de volta nos mastros da nau
Perdida junto aos humanos lassos
De consumismos desenfreados e descompassos
E eu bebendo em Vinícius este pequeno sarau

Em seus salões finas músicas tocam
Emproando as pessoas finitas em grãos melódicos
Fluindo em seus cernes bebidas constantes e espasmódicas
A medida que diversas outras naus também desembocam!

As árvores já não ouvem o vento
A graúna desaponta-se, se sentindo sozinha
Saudosas férias que irromperam na marinha
Nos cassinos e no turismo sem endereçamento!

Naquele tempo eu fui o mar, eu fui!
Sonâmbulo e ébrio, bruxo velho
Corpo tão disforme quanto o silêncio fedelho
Sem dimensão, dentro da treva que me dilui
Despedaçado e infinito, e infinito, infinito, infinito...

By: Bruno

Does silence floats on water?

A aurora se fez toda grafite
Esperando a pátina noturna acomodar-se
Cobrindo a luz que o sol alucinado emite
No meio de um cristal de ecos a partir-se

Goteja nas feridas que palpitam
Puras lágrimas ao passo
Que as pétalas de corrupção habitam
Frios e cálidos estilhaços

A virtude é deturpada com sonhos de grandeza
Dorme no homem o silêncio do tempo nos parques
O frêmito no espaço e tempo se perde nos charques
É incorruptível este prenúncio de indelicadeza

A cor das folhas é uma vez esquecida
Sua autenticidade foi íntima
Substituída por concreto que desestima
Anestesiando o fluir das águas indefinidas

O silêncio, do contrário
Petrifica e oculta esta névoa mnemônica
Piares e entoares, composições antes orfeônicas
Subtraem-se do ambiente e do vocabulário

Até mesmo o som das águas é aquietado
Odiavelmente por sons das cidades
Por violências e atrocidades
Antropologicamente arquitetados
Porfiando maldições funéreas ao planeta
Descritas aqui nesta papeleta
Remexida pela putrefação do dia
Até o fim desta grande acefalia!

By: Bruno

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Fantasia

O clarão das lâmpadas me observa com sarcasmo
As fantasias derramam o seu frouxo encantamento
Mais uma vez, repuxando o tépido pensamento
E em breve as canções de verão me trarão o marasmo

As estrelas propiciam o ritmo certo para o vício
Que floresce no coração, fazendo sonhar a eternidade
Mas esta insânia me cansa, não passa de uma enfermidade
Irritante que persiste distorcendo o solstício

Os intemperismos derramam vida sobre as Hydrangeas dengosas
Deixando seus espíritos mornos com tanta bondade
Por mais que eu as observe, jamais conseguirei imitar sua simplicidade
Enquanto as gotas escorrem em meu rosto sorvendo langorosas

E o sorriso daquelas flores entontece
Seus perfumes mistos nutrem o ambiente que estremece
Ao canto do violino airado, enquanto:

O cansaço que se apodera do meu comportamento
Reflete a palidez e a indolência das minhas feridas
Na alma minha, avessa e de frontes emudecidas
Moldando em mim um sudário virulento

A vertigem que os dançarinos daquela valsa produzem
Transtorna nossas vértebras que meramente assistem
O garbo singular da desenvoltura da vida humana

A realidade é um grande sonho banhado pelo sol
Entremeado de alusões que as mentes ostentam gloriosas
A realidade é um fascínio suspiroso e pintado de cores artificiosas
Que eu nunca entenderei!
By: Bruno

sábado, 17 de setembro de 2011

Amor de mentira

Na pouca claridade de um pálido lampião
Meu coração vagueou breve por um romance
Ladeado por pequenos gravetos de uma árvore morta
Lembrando uma pureza calma, de relance
Andamos juntos, com passadas muito tortas
O vazio entre nós dois era uma espécie de anfitrião

O gramado era bem verde e enquanto sós
Éramos intensamente ingênuos
Dançávamos errantes nos perfumes da noite
E de novo a solitude era nosso açoite
Mas nossa força nos deixava muito estrênuos
E o fim do romance era previsto no canto dos curiós

Longe do cheiro da cevada o ar é tão doce que até fecho os olhos
O vento é meu testemunho contente
A paixão é uma chaga incompetente
Que nos cega da visão os vários tolhos

Enfim o tempo engole aquela coisa diminuta
Em que a esperança ardia sem fôlego e exaspero:
Antes mesmo de ser tornar o mais belo desespero
Antes mesmo de se tornar uma situação poluta

Eu tenho em meu conhecimento
Que seus soluços por vezes ressonam dentro do átrio direito
Mas na aorta eu não sinto nada, além de insuficiência no ventrículo esquerdo
Como um tambor rufando ao infarto cruento!

E serei mais um ao relento, abandonado
Com uma laceração idôneamente condecorada
Envenenado por meu próprio sangue, que ironia!

By: Bruno

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Dogma

Estes nervos são a minha morte
Sempre a privar-me de novas situações
Por força do hábito a acomodar as divagações
Os deuses me tiram a sorte

Vem a manhã e a vida social a marchar
O desassossego se apodera de mim
Não vejo futuro a não ser naquela tarde em fim
E posto sobre a mesa a fome banal saciada no jantar

Queria ser as várias gentes insípidas que vi
Trazer comigo suas seguranças e belezas
Ser apenas um humano sem certezas
E não sentir as coisas do jeito que senti

Quem me olhar, há de me achar bem feliz
Uma simples vidinha, um cabelo de adolescente
Mas uma alma irretroativamente decadente
As cores do meu sorriso não definem mais uma matiz

Tenho vontade de levar as mãos ao peito
Numa tentativa de conter o absurdo
A funda desilusão é um poço cujo eco vaza surdo
E ressona pelos corações com certo afeito

Esgueira-se a luz sobre meu corpo como minha sina
Como um mecanismo de desastres
Ornado com flores sem ostíolos e hastes
Sobrepostas com esmeraldas e adamantinas

Assim perco-me sobre meu cansaço
Que se debruça como um corpo acima do meu
Me abraçando, contaminando, como Asmodeu
Até que as linhas se pareçam um só embaraço

A vida a bordo deste planeta é coisa triste
Embora a gente se divirta as vezes
Mas todos à coleira da moral, como pequineses
Eis que o spleen na humanidade preexiste

O mundo não tem como eu o horror à vida?
As sensações confusas deturpam minha razão
Criando uma comédia em minha alma, uma verdadeira aliciação
A ausência de paz é algo que me trucida!

Gostaria de ser as coisas fortes, até uma catedral
Ter todas as personalidades e ser nenhuma
Ao mesmo tempo, devaneio insólito, tão real
Mas sou menos que um poeta, sou coisa alguma!

By: Bruno

terça-feira, 13 de setembro de 2011

11

Asas, falta de firmeza, ironia debilitada, fumaça
Choro desconsolado, sem significado
O fogo aos livres céus herda, emulsificado
Prédios ao chão, lágrimas a escorrer pela vidraça

Uma cor morta invade a alma
A paz está esgotada
A emoção desorientada
Caos profundamente eterno se espalma.

By: Bruno

domingo, 11 de setembro de 2011

Is it safe to sleep alone?


Quando os anjos se resguardam da profundeza sombria do mistério
As baratas tornam-se mariposas vermelhas a rondar a lua
E os movimentos do fauno se tornam imprudentes, a noite extenua
As forças precisam repor-se, é momento de se apagarem as luzes sem critério

Cobrir o corpo com inúmeros cobertores para reunir os sonhos
Desejando todas as coisas que a realidade não permitiria
Afinal noite após noite, nenhuma mente aguentaria
Flamejar entre todos os negrumes medonhos

E dentro do sonho os bosques verdes tomam uma forma monstruosa
Os lagos tornam-se sangrentos e o céu se cobre com trevas vertiginosas
Esbanjando a mais obscura das luzes sob o adorno de tristes assombros
Vertendo esta como a mais fúnebre das noites, que infames escombros!

Ávido é o coração de desejos e mágoas
Mas nada que a solitude confirme, arrebatadora
O amargo perfume da finitude humana, embora
Todas as manhãs, o despertar é natural como o fluir das águas

O céu uma vez esplendoroso, agora trás em meio aos lampejos
O medo que os galhos à janela se tornem entidades
A completar com a clássica aversão à claridades
As lâmpadas não acenderão, mas que horrível malfazejo!
Não?

A valsa habitual dá lugar a um som fantasmagórico
Nada consegue prosseguir de forma lógica
O medo que domina encanta o espectro que cobreia
Trazendo tal perdição, uma maldição que deixa a alma cheia
A questão é, a esfera do medo, deixa de ser antológica
E passa a ser tenebrosamente eufórica

O desejo pela alma chega a ser tão voluptoso
Que é difícil a euforia ser contida
A alma do humano há de ser consumida!
A escapatória é agora inexistente, quase aquosa!

Não há aqui anjo cruel o bastante
A crueldade humana fala por si, é nobre
Ultraviolenta, paradisíaca, amarga, pobre
De mentalidade, bom só o ódio responde, outorgante

O terror descomedido é arfante
Pobre alma que perseguida
Perderá sua inocência, num ato tão desplante
Só pelas trevas irriquietas será acudida
Vorazmente devorada, com tal rancor pronfundo
Querendo reproduzir a forma brutal, que assassinato imundo!

Bom dê uma olhada, os vivos são engraçados
O seu ballet de medo é tão cego
Belial há de se divertir sádicamente e sem apego
Coisa que eu não posso fazer, eu me sinto atordoado
Não à dor que sentem, mas ao desespero
Meu enjoo é verdedeiro, juro, estou alcoolizado!

E cá entre nós, hei de levar um bom número de humanos
Comigo, independente de qualquer Onryo* presente
Que não tem noção do Rimbaud em mim, ainda crescente
Será que aguento este acúmulo de enganos?

By: Bruno

Onryo: Fantasma que busca vingança, comumente apresentado em lendas japonesas

sábado, 10 de setembro de 2011

Ruined Castle

Atrás de uma colina vulgar
Encontra-se meu castelo pavimentado
Com fantasias lapidadas em pedra e sonhos perdidos
Sob os delírios de uma lua inocente, este langor é incrementado
E minha mente, meu corpo, se tornam muito doloridos
Mas já não tenho objetivos com os quais o poema adjetivar

No jardim onde as flores choram rosa
As minhas dores se tornam inquestionáveis
Realmente objeto a ser olvidado
Nunca para as pessoas é algo elucidado
E meus atos eufóricos são sempre execráveis
Concluo que a solidão é a desgraça mais viciosa!

Naquela cozinha onde os demônios preparam meu alimento
Sim, sim é a loucura, a completa loucura
A catatonia dos esquizóides, a respiração mais psicótica
Sempre deixo claro também, que odeio fritura
E quanto à bebida? Ordeno sempre a taça mais narcótica
Enquanto sento a calmamente observar a lenha tornar o céu muito cinzento

Os meus diversos quartos, sempre à meia-noite
Quando meu espírito fragmentado repousa
São rodeados por amaranto em todas as jardineiras
Na cama de madeira, há o meu corpo. Ah, tão descartável cousa
Que irritante, esqueço sempre que estes aposentos tem muita poeira!
Mas são prodigiosas habitações para a morte admirar o silêncio da noite

E por fim, as alamedas que o contornam
Sem nenhum parque importante
Confesso que são mal iluminadas
São só para espíritos errantes
Aqueles que buscam somente o mais saudável nada
Aqueles que tem uma única certeza: A de que jamais retornam!

By: Bruno

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Spleen 4 em quadra

O dia ilumina-me com seu ardor
A natureza se faz de obscura
Mas de longe seu brilho me rompe em torpor
Com sua rudeza de espírito vencido e ode que nada cura!

By: Bruno

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Marcas da infância


Mesmo andando pela rua com tanto atraso
Eu exploro tão atentamente o cotidiano por entre os edifícios
Carregando minhas várias dúvidas pelas muitas portas dos ofícios
Mas jamais caminho por entre as vias do acaso

Olhando por entre as janelas as pessoas em seus escritórios
Tão envolvidas em seus afazeres, será que elas ainda tem sonhos?
Eu sei que eu nunca fechei nenhuma porta para algum desejo, e eu sempre justaponho
Eu jamais serei apenas mais uma pessoa procurando entre as placas o seu ofertório

Porque eu sempre sorrio rodeado de palavras e versos
E sempre vou a estação ver o trem passar
Cheio de pessoas com os seus sonhos a almejar
Como um balão que carregam junto ao peito, com aspectos diversos

As ruas com seus muros de pedra se tornam tão pensativas
Cada casinha tão bem ornada com seus vasinhos
Lembro da minha infância, perdido por estas frestinhas
Atravessando por entre os vultos com trejeitos tão instintivos

Os sabiás-laranjeira, meus amiguinhos
Sempre avisavam-me que este tempo era perfeito
Mas como uma criança diferente eu apenas os admirei por suas belas plumas
Nunca por suas verdadeiras mensagens que em meus sonhos se tornaram espumas
Ah saudosa infância, que por ruas jardinadas e multicolores andei, meus passarinhos!

Jamais esquecerei daquela rua, que eu retorne antes do último trem
Para uma última visita, àquele tempo em que os livros e os balões eram desnecessários
Porque hoje, ébrio, por entre o cimento e os carros isso se torna tão confessionário!

Eu lembro que tinha brinquedos muito brilhantes
Que voavam da minha mão para as estórias da minha cabeça
Num movimento tão surreal, tomara que esta lembrança nunca desvaneça
Posto que para mim valem muito, muito mais que todos os diamantes!

Mas saiba, eu nem lembro quando tudo isso se tornou tão poeirento
Nunca jamais percebi que relacionava todas estas cenas a um simples clipe
Sempre ignorei tais imagens, difamando-as em minha mente, mas antes que eu antecipe;
Me dei conta que coloquei meus sonhos à mostra e sem querer eles se tonraram tão rebentos!

Porém o branco céu sempre esconde um mar de fogo em suas madrugadas
As minhas lembranças alegres tinham uma luz vermelha que sorria
Entretanto eu sempre me perdi entre os meus primeiros passos por aquela estrada que partia
Porque meu amor de criança estourou feito bolhas cutucadas por rudes ferroadas

O quão longe as minhas pernas me levaram para longe daquela rua?
Se eu tivesse permanecido estático naquela visão o que eu teria visto?
Você pode dizer porquê esta distância sempre se acentua?

Eu não quero esmagar estas palavras até se tornarem pequenas luzes
A serem tragadas pelo negrume do meu coração
E removidas sem chance de retorno à este momento de arribação!

By: Bruno
Eu nunca pensei que o que me emocionava num clipe da Tsukiko Amano fosse justamente uma lembrança da minha infância, quando me dei conta disso, tive de descrevê-la, eu sempre quando ia para a pré-escola percorria inúmeras ruas, uma delas era bem arborizada e colorida, realmente fascinante para a memória de um infante! Realmente foi imprevista a vinda desta memória através desse clipe, mas foi muuuito bem recebida e descrita, certamente!

Para quem se interessar pelo clipe: http://www.youtube.com/watch?v=1VR2tByQH1g

O que se pode ter como amor

Já estou cansado de procurar por algo tão abstrato. Meus olhos já estão cansados de sempre procurarem em vão o jogo de luzes que o encobria nas encruzilhadas da vida. Meu corpo dói, está abatido por realmente se esforçar tanto para apenas iludir-se. Quando se é jovial as ilusões mascaram o cansaço, mas depois é inevitável o desgaste. As emoções vão perdendo o brilho, os sentidos esfumaçando aos poucos. A busca insípida por algo maior que nós, que possa carregar nossas inseguranças e lavar nossa ansiedade é constante, mas logo cessa, e severa. O langor das suas ondas certamente é embriagante, o frescor da sua brisa é largamente proveitoso, e quanto ao aroma, que é leve e fracamente temperado ao nosso gosto. Hoje para se conseguir isso, devemos ser absolutamente modernos, nada de cântigos, serenatas, embromações antes valorizadas, é seguir o passo sem soluçar a inocência perdida. Porém muitas vezes quando se cansa, quando o barco atraca em uma ilha fúnebre e os homens abrem os portões para adentrar no marasmo, é com olhos cansados que se enxerga a ternura verdadeira. Bom, nada se cumpre em nome da vaidade, apenas em nome do suplício mais verossímil.

By: Bruno

sábado, 3 de setembro de 2011

Delirioso, sozinho, autodestrutivo e inexistente


I
Os desenhos inacabados mostram uma cena relativamente comum
Por vezes traços teimosos davam lugar a uma calmaria romântica
E por mais vezes o jogo de luzes era dominado pela escuridão
O reflexo das asas era encoberto de uma névoa alva
E sob o luar esvoaçava gritante, aquilo
Um esboço diabólico, indecifrável e desalmado
Cingido de um passado negro e um futuro aquém
O presente certamente é tormentoso
Porém é tirado das minhas poucas forças
E de recursos escassos e dores, muitas dores
A peçonha deste vulto me corrompe dia após dia
E persisitirá por não sei quantos mil anos

II
As estrelas adormecem numa onda calma e negra
Enquanto a minha pequena folia ébria acontece
As felicitações com as quais me permito envolver
Não passam de um véu escasso e desbotado
Os sopros de esperança constituem pequenos ruídos
Que embalam meu espírito sonhador num grito louco
O infinito terrível assusta os meus castanhos desesperos
Quebrando meu seio de criança despejando-me na realidade crua

III
Eu quero buscar no sonho derretido a fogueira mais visionária
Colherei flores em delírio que caem como neve dos raios das estrelas
Para deitar-me pacificamente por entre os juncos flutuantes
E desvanecer como a doce Ofélia*.

By: Bruno

Ofélia da literatura de Shakespeare, se suicidou se atirando num rio.