quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Dogma

Estes nervos são a minha morte
Sempre a privar-me de novas situações
Por força do hábito a acomodar as divagações
Os deuses me tiram a sorte

Vem a manhã e a vida social a marchar
O desassossego se apodera de mim
Não vejo futuro a não ser naquela tarde em fim
E posto sobre a mesa a fome banal saciada no jantar

Queria ser as várias gentes insípidas que vi
Trazer comigo suas seguranças e belezas
Ser apenas um humano sem certezas
E não sentir as coisas do jeito que senti

Quem me olhar, há de me achar bem feliz
Uma simples vidinha, um cabelo de adolescente
Mas uma alma irretroativamente decadente
As cores do meu sorriso não definem mais uma matiz

Tenho vontade de levar as mãos ao peito
Numa tentativa de conter o absurdo
A funda desilusão é um poço cujo eco vaza surdo
E ressona pelos corações com certo afeito

Esgueira-se a luz sobre meu corpo como minha sina
Como um mecanismo de desastres
Ornado com flores sem ostíolos e hastes
Sobrepostas com esmeraldas e adamantinas

Assim perco-me sobre meu cansaço
Que se debruça como um corpo acima do meu
Me abraçando, contaminando, como Asmodeu
Até que as linhas se pareçam um só embaraço

A vida a bordo deste planeta é coisa triste
Embora a gente se divirta as vezes
Mas todos à coleira da moral, como pequineses
Eis que o spleen na humanidade preexiste

O mundo não tem como eu o horror à vida?
As sensações confusas deturpam minha razão
Criando uma comédia em minha alma, uma verdadeira aliciação
A ausência de paz é algo que me trucida!

Gostaria de ser as coisas fortes, até uma catedral
Ter todas as personalidades e ser nenhuma
Ao mesmo tempo, devaneio insólito, tão real
Mas sou menos que um poeta, sou coisa alguma!

By: Bruno

Um comentário:

  1. Observo neste um subjetivismo mais intenso de modo a ser muito pessoal nas transpirações dos sentires e dos estados da alma, as inquietações, aspirações,

    muito bom poeta, um cordial abraço.

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