domingo, 19 de janeiro de 2014

Esfinges

Nas orlas do meu pensamento
Hospedo meu olhar às estelares
Concepções, ao longo alento
Dos distorcidos mancebos e luares 

Não sei se por falta de dizeres
Ou se por ideias dispersas, 
Esfinges carniceiras, destas remessas
Se apoderam vorazmente, vis seres

Devorando os álamos frondosos
da duvidosa glória dos vinhedos licorosos
E as páginas grudadas da eternidade absorta

Sem perceber que se perderão nos lodosos
Cimos desta abortada horta
Que são as ideias mortas...

By: Bruno

Refúgio

Noite branda, teu vago segredo, 
Teu úmido lamento 
Me deixa tão sedento 
Quando refugiado do sol, do turvo degredo

De cores fustigadas por intermitência
Terrena e, por ele alentada
Falena por si só fustigada
Irreconhecidamente Frágil,  a existência 

Do raciocínio que se debate
Feito réptil agoniado
Ao iminente abate

Certamente, um combate
Do pensamento fatigado
Ao horizonte abrupto e escarlate.

By: Bruno

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Confissão a um sebo


–– Aqui, neste brejo de almas misturadas
Me confesso esconso à metafísica
Aos pés de tantas palavras saturadas
Desabo, cansado das forças místicas

E não sei que é este meu sono, que ceifa
A forma lábil das nuvens do meu devaneio
Me deixando completamente alheio
Como um mar ausente, que grifa

Apenas os sentimentos de mundo
Fendendo ainda mais meus abismos
E atiçando meus mitos profundos;

Dos quais, profanas vozes 
Ainda florescem em meus idealismos
O voo fecundo dos albatrozes. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Canto

Não vou cantar a doce sombra dos jasmineiros
E o voo incoerente das andorinhas; 
A lembrança dos chamamentos alvissareiros
É maior do que a rapsódia indiferente das vinhas
E o céu medieval de onde me escapam as rimas
Permite que eu me valha da fúria das epopéias
Para relatar o cotidiano exilado de uma época
Fixada no revoar das pombas e das paisagens ignoradas,
Fustigadas pelo olhar maquinal e utilitarista 
Que ao mesmo tempo redime e satiriza
As memórias em alardes confeccionados...

Não vou cantar a sagração das perfeições
Que arfam veleidades de um apodrecido Parnaso;
Uma vez que nasci para parar no meio de uma ode,
Porque minha eternidade não tem prazo 
E no ar que respiro, explode
A rítmica sensação de urbanidade
Que procuro na minha linguagem. 

By: Bruno