segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pirografia


Na malemolência da fibrose cardíaca
Tamborila desde a infância
A rutilante e ininterrupta infâmia
Da alucinação piromaníaca

Imerso na bile de Chronos
Intendo transformar-me em puro carbono
E reinventar a hórrida matéria da vida
Assim, burlar o esquema de minha sina

Quadra a quadra, absorvendo a cifra
Das árvores me consolido povoado.
Mesmo com o sangue doído e escoado;
O enigma implementado entoa como mirra

Advindo dos alicerces do passado 
Tingidos de incêndio e neblinas,
Memórias doces e altivas
De invernos em versos fustigados.

E hoje, povoado também de barulhos
Eletrônicos, broslando-me ideias
Longe, longe das antigas falésias
A agitação dos passos afoitos, marulho

Me parecem, quimeras do destino
Que nos porfia caminhos distantemente
Juntos, rabiscando, vaga e dolorosamente
As páginas da vida em desatino

Com o inexato palor das estrelas
Inspirando da luz o esplendor
E da treva o maçante rumor
Atrelado a vagas distrações belas

E passam-se os dias, páginas 
Escritas lépidas como máquinas
Com o zumbido da melancolia
A tingir a solitária caligrafia

Aquecendo os fantasmas do futuro
No luxo anacrônico e noturno
Dos sonhos diamantinos e soturnos
Que nos prometem veleidades impuras...

E eu... prometendo a mim mesmo
Voltar à melancolia primitiva;
Desvairado de meus sesmos
Quase privado da inventiva 

Fórmula de minhas calamidades,
Perdido das minhas eternidades
Me pergunto, a que subúrbio fui
Internamente, sem ter sido eu que fluí?

By: Bruno

sábado, 28 de dezembro de 2013

Reaparecimento

Esta noite, por acaso
Tornei a ver meu gato Mingau
Em sua noite venturosa
Passeando com sua sinuosidade graciosa
Dono da rua como sempre
Pulava de muro em muro
Checando todas as casas de seu território
Reconhecendo o cheiro deixado em cada portão
Parando vez em quando para retificar a metragem
De seu espaço eternamente apagado pelas chuvas
Ou para contemplar alguma novidade que o tempo deixara

Presumi que estivesse vivo
E não num sonho ébrio de verão
Só me rendi ao seu desaparecimento
Quando não ouvi miado
Mesmo após termos nos cruzado
Trocando olhares vagarosamente
Então eu aprendi que o sonho acordado
E a morte são iguais:
A noite em que trocamos olhares
E não nos reconhecemos mais.

By: Bruno

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Observado


os olhos do escuro me atraem
para longe ou perto do que falta
de mim, para meu eixo de rotação
fugir à letra, fugir do avesso,
pegar a cor do vento e ir embora
sem orvalho, sem folha caída,
sem pedra e sem passo
porém no momento que arrumo as malas
me preparo para o salto 
recebo o submundo
fico limpo dos x e y...

não saio de mim!
me adentro mais
nos sargaços lacrimais
no frio chuvoso de minhas
internas ruas, inteiras e cruas
intermitências
confluências;
aqui estou
e lá também
observado
sempre 
por estes olhos.

By: Bruno

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As ideias


Como folhas ao vento
A mente se apodera
De ideias ao relento
Que a natureza delibera

Corolas sobre o horizonte
Possibilidades jogadas,
Panorama sem definida fronte
Suas concepções, coisas amassadas

São anúncios do momento e canto
Do questionamento déspota
Forjado na veia aberta à realidade,

Livre de amarras e do enquanto
Às vezes perduram, às vezes anedotizam,
Porém dialogam no tumulto da transitoriedade.

By: Bruno

domingo, 22 de dezembro de 2013

Anatomia do teu abraço

Quando teus braços me envolvem, teu alento,
Uma onda quente que toma meu espírito
Faz responder meu coração, como numa espécie de rito
Tentando à todo custo deixar o tempo mais lento.

Minhas pupilas, embora fechadas, sabem exatamente
Onde está o teu aclamado sorriso,
E meu espírito, vulto impreciso 
Ferve da alegria do encontro fulgente;

Contigo, esvaeço como o poente 
Numa floresta erma e escura,
Numa acolhedora e mágica bruma.

Dissolvo-me entre as folhas,
Na sensação que aguardo sempre,
No languir do amor em inquietos orbes.

By: Bruno

Balada dos arbustos de blueberry


Compurgado na bruma
O sotaque azul das blueberrys
Abandona o olho de espuma
Dos pequenos colibris,
Furados de zunido e beleza,
E por intermédio da mão humana; 
São levadas para as indústrias de alimentos
A fim de serem condensadas em proventos
Através de barulhos eletrônicos e sem viveza
Para satisfazer minha sede infinita e tirana.


Porém, quadra a quadra, sei de seus eflúvios
De linguagem, e acredite, fosse eu imóvel,
Não suspenso a contemplar a luz ignóbil 
Que embalsama a fotossíntese desdes dilúvios,
Estaria a envenenar os negros cimos
Das estrelas e dos sonhos, primaveras supremas
Que sempre ostentam nossos queridos lemas;
Soberbia redigida em pequenos e condensados mimos
A gotejar a indolência redimida, na colheita arrefecida
Destas blueberrys há muito adormecidas,
Tal como as Cranberrys entorpecidas;
Dirimidas por nossos fervores caprichosos,
Mãos humanas escravizadas e capciosas
A colher e colher e colher, cansadas
Dos lábios verdes, estes frescores arroxeados;
Sem nada eu poder fazer, a não ser vontade ter,
Dos beijos mortos e petalícios, amanhecer!

By: Bruno


domingo, 15 de dezembro de 2013

Inversão


O que não faço pertence ao avesso.
Sei quem sou pelo som travesso
Do silêncio que o não-ter faz

As coisas como são, confesso
Pétalas de prata de um excelso
Carvalho, que em minha vida, jaz

Florescem com luz de progresso 
Embora o lustro das folhas 
Amarele um pouco, pobres tolas

Não atrapalham a magia das novas ramagens
Onde novos rebojos verdejam a imaginação
Oriunda de explorar o mundo, em flanagens

Incertas como os ventos de outrora
E o rumor do pensamento,
E da paz dolorida que assola

A eternidade que circula no meu sangue
E que coagula em versos
Como em um copo inverso.

By: Bruno

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Balada do lamúrio lunar

Ó plenilúnio, visto de uma janela com grades
Te maldigo! Assim como me torço por este Hades
Enquanto tudo que podes fazer é trazer-me
Recordações das quais doces dores tentam bendizer-me
Queres tanto assim consumir os sentidos poucos
Que tenho com todas as fragilidades roucas
Que uma voz dissonante usa cada vez mais
Para se apartar de um mundo de superficiais
Caricaturas, onde vãs tecituras permeiam
O caminho que com pedras, arduamente monto
E em prantos, sozinho e firme, percorro...

Céu, sei muito bem de tuas falhas
Mitologia embriagada de amarras
Não vais em tuas viagens me prender
Em Eldorados banais que hão de me arrefecer!

Soneto da realidade ficta

Num céu fictício, me perco do que sinto
Silêncio e brisa proliferam o ardor do mundo 
Em meu peito relativamente mudo
Banhado por derivados de absinto

Faz-se realidade o sentimento vivido
Enlace desprovido de norte,
Senso de direção amortecido
Com as mentiras da sorte

Lá, nas léguas das alturas
Se prende meu pensamento
Em defensivas escumas

E minhas quimeras, às escuras
Mordem minha carne em despovoamento
E sob grades, sinto renova a bruma...

By: Bruno

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sobre o mundo dos Bardos


Nuvens estriadas floram o cair da tarde
Enquanto a música entoa 
E a imaginação amontoa
A poesia da vida acontece sem alarde

Ramagem fibrosa, ora joio, ora trigo
Ao vigor das apressadas passaradas 
Ou no resguardo do gato constrito
Os versos são feitos de muitas alvoradas

Que mesmo lacrimosas, nunca vão ao Letes;
De súbito verdejam a gramática
Na opulência aromática
Das cançonetas leves

Não de harpas délficas
Mas de puro sentimento;
Apenas da mortalha o alento
Nada tão sintético...

By: Bruno