quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ode imoral (O sangrar das feridas remete à figurações daguerreóticas)


A sombra que tenta imitar a postura caprosa do reino caído
Não tem a inconstância do firmamento atmosférico da ionosfera
Mesmo assim, como mão que com seus dedos lentamente se apodera
O vulto vicioso dos pecados quer me enterrar no solo carcomido

Os meus olhos a pousar de soslaio nas coisas terrenas só remetem à inerente tristeza
Nos sonhos que cavalgam com os pássaros por um campo de fresco gramado
Logo tomam a ígnea forma da desesperança ao defrontar-se com o descamado 
Epitélio da realidade concomitente com reverências e despedidas sem belezas...

Então eu espero o sangue de Cristo secar da boca de seus servos
Para que eu não sinta o ulular rubro daquele sangue exorcizante
Que em meu coração dança como velhos e lascivos amantes
Ah como ultimamente tem me doído bastante a central do nervo!

Eis que foge o meu coração do mundo terreno, procurando mesmo esgotado
Uma voz vivaz o bastante para aguentar o espetáculo das bruxuleantes
Biwas tecendo calmos sons sobre o cair das pétalas de uma assombrada 
Cerejeira e sua personificação cambaleante...

Ah sinistra demência, queria a paz que tu proporcionas
Com o olhar experimental e daninho,  afastando toda a penosa realidade
Vertendo todo o castigo dos crimes incomensuráveis em inimputabilidade...

Porque os sonhos que caem sobre minhas pálpebras fechadas sempre se relacionam
Com a ebriedade latente das camadas mais espessas de loucuras dos infames astros
E com o efeito placebo deles, me envolvo numa espécie de eplastro
Afim de tentar açaimar os gritos imundos, dolorosos e sem rastros
Do meu desespero.

By: Bruno

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fragmento inconsciente (O lamento da subjetividade é a objetividade)


Pessoas só existem na memória de outras pessoas
Por isso há tantos tipos de mim
Não que haja de fato vários eus...
Eu só estou dentro de pessoas diferentes
Só existo dentro de pessoas que sabem que existo
Então minha existência não é vaga o suficiente para ser chamada de memória
Nem real o bastante para me fragmentar em várias partes
Eterna verdade vazia e imperfeita!
Porém esta pequena verdade é conectada ao céu
Formando uma única consciência inconsciente e coletiva
Na mesma ressonante frequência da Terra
Sináptica frequência magnética
Equiparada a uma rede neural, rede atemporal de informações
Memórias devaneadas, realidades falsas e tótens...
Meros mecanismos de identificação e formação de protocolos
Sensações impressas arquivadas, incoerências mútuas relativizadas
Arquétipos escondidos em álamos adormecidos
Imagens pré-dispostas pregadas nos mares loucos
Desajustes nos gritos agonizantes
Eterna recriação do sentido eterno
Biológicamente monstruoso
Personificadamente humano
Como o poente místico
Coagulando os impulsos e manifestações
Escondendo os sentimentos nas sobras de personalidade
No delírio familiar conjecturado
No devaneio rudimentar dos infantes
Para sempre alienado, inacabado
Religiosamente sacrificado
E salpicado uniformemente
No despertar das desesperanças
No ressonar dos desesperos de todos os eus curvilíneos
Que clamam por algum traço impalpável, em vão
Na linha metafísica do destino...
Do Desatino...

By: Bruno

To Alice


If I were you my little Alice, my sweet Alice
I never have left Wonderland
Now that you're back, you've been caught by the fangs
Of so much destruction and Malice...

What's wrong, Alice?
Don't you know that Madness is not a state of mind?
Don't you know that sanity is nowhere, here to find?
Oh God! You where swallowed by so so so much Malice!

Yes I can se behind your pretty face
I can sense your very dark lace
Crushing you bit by bit everyday
And you never needed to say...

Strolling all alone across the corrupted Wonderland
I see that several visitors are also gathered here,
having an idle, little saunter on this old graveyard... Just like you

("The dead are furious with you!
As you're wasting your precious time!") 

Poor of you! Being guided by the Devil's hands
How can you longer in this timeless hell? Why did you go back there?

Well, everything I see, its a distorted hallucination
It's hard to guess the future in the short-sighted world.
You are damned to repeat this cicle endlessly in your reincarnations
And the only thing left for you was the bloody Vorpal sword! 

Ah Alice... We can't go home again. But it's not a surprise, really!
We are not among the few ones who knows their paths
Trapt in the eternal search for the most terrible truths 
I see now, how is convenient dissociate from a reality that you can't rely!

By: Bruno!

sábado, 10 de novembro de 2012

O ruído


A redundância progressiva do som que arranha a madeira
Percorrendo todos os cantos da minha mente,
Raspando de uma forma bem rente
Como que incomodando o crepitar de uma pequena lareira,

A minha consciência já aturdida e ramificada.
Em sucessivas roeduras, ronda o misterioso vertebrado
Atraindo as orelhas sagazes dos felídeos igualmente incomodados
E assim a agitação interjeita-se em minha noite mistificada

Vá e te esconde na tua antítese de animal 
Que a racionalidade precária de muitos abomina
E vê se teu futuro assim não se determina

Como comumente acontece, porque a morte que te apetece
Significa o fim do meu inusitado incômodo
E a tua volta ao ciclo do carbono!

By: Bruno

domingo, 4 de novembro de 2012

Natura


O manto do verão cobre os céus
Sem a manchada cor das chuvas
Nos apalpando como emborrachadas luvas,
O vento seco escorre, anunciando os vários escarcéus

Que desmancharão as flores descuidadamente
Transformando-as em canções perdidas
Sobre uma primavera moderna e suicida
Que mal lembra de suas árvores ressequidas costumeiramente

Ah transitória aspereza, tu assumes tantas formas 
Tens tantas harpas a teu serviço, há tantas carícias 
Ignoradas, mas ainda existentes, benéficas eufonias

Teu ciclo a ser seguido como velha norma 
Não achas que tens ficado repetitiva?
A coruscar tua luz e teu céu azul com tanta alegria?

By: Bruno

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Poema da reforma


Mozart tocado com um serrote
Beethoven recriado com o bater de panelas
Num sobressalto: Adágios
Numa martelada: Allegros
A mazurca de Chopin ecoa estraçalhada com a lixadeira
Schubert apregoado numa madeira
E a Clara repartida com uma maquita
Faz-se juncada ao resto ao virar de uma ampulheta quebrada
No concerto em dó menor regido pelas tintas e pincéis
Que percorrem as paredes, trazendo a nova cor das nuvens da imaginação
Fazendo o infinito rolar ametista no contorno das superfícies da minha realidade
Enquanto as orquídeas descansam sem florir no quintal
E o sol despeja sua luz sobre os telhados como uma torneira
As airosas gotas de chuva iluminam o horizonte violinístico
Tornando difícil respirar em meio ao forte gosto da tinta
O alçapão ganha então novo solo envenenado
Para que sob minha cabeça toque uma valsa arremedada
Como água que escorre e lava
A roupa suada do verão antecipado
E sem vivenciar as inundações do sono
Me sinto uma lua sem acordes
Contentando-me só com os guturais
Até minha sede voltar voluptuosa
Sustida pelos ares artificiais
Vertido pelo vinho levado aos lábios
E a melodia me mostrar as serras floridas novamente
E as libéluas que roçam a água de um lago
Nem imaginam que num vago começo de novembro
Paganini encerra a entoada destas palavras desconexas
Enquanto eu penso nas revoadas de andorinhas
Que de semente em semente, reformam uma floresta inteira!

By: Bruno