quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Poema da reforma


Mozart tocado com um serrote
Beethoven recriado com o bater de panelas
Num sobressalto: Adágios
Numa martelada: Allegros
A mazurca de Chopin ecoa estraçalhada com a lixadeira
Schubert apregoado numa madeira
E a Clara repartida com uma maquita
Faz-se juncada ao resto ao virar de uma ampulheta quebrada
No concerto em dó menor regido pelas tintas e pincéis
Que percorrem as paredes, trazendo a nova cor das nuvens da imaginação
Fazendo o infinito rolar ametista no contorno das superfícies da minha realidade
Enquanto as orquídeas descansam sem florir no quintal
E o sol despeja sua luz sobre os telhados como uma torneira
As airosas gotas de chuva iluminam o horizonte violinístico
Tornando difícil respirar em meio ao forte gosto da tinta
O alçapão ganha então novo solo envenenado
Para que sob minha cabeça toque uma valsa arremedada
Como água que escorre e lava
A roupa suada do verão antecipado
E sem vivenciar as inundações do sono
Me sinto uma lua sem acordes
Contentando-me só com os guturais
Até minha sede voltar voluptuosa
Sustida pelos ares artificiais
Vertido pelo vinho levado aos lábios
E a melodia me mostrar as serras floridas novamente
E as libéluas que roçam a água de um lago
Nem imaginam que num vago começo de novembro
Paganini encerra a entoada destas palavras desconexas
Enquanto eu penso nas revoadas de andorinhas
Que de semente em semente, reformam uma floresta inteira!

By: Bruno

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