terça-feira, 30 de setembro de 2014

Versos alegres


Tudo quanto me dói, escrevo:
A alegria - gentil descamação da alma
Na poesia, urge como ramos de trevo
Jamais daninha, muito menos falsa

É o fog aclamado da verve
Plenilúnio do meu querido sentir,
Que às elevações fazem seguir
Mesmo nas abstrações nulinerves

Febril florescência, faz-me sonhar
Acordado, cerzindo a realidade,
Cavalgando nas Nues e Quimeras

Encarnadas de meus ideais a realizar;
Sob o manto das eternas e graciosas óperas
Como se pudesse exercer minha fanal multiplicidade!

Bruno Borin

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Dialética - Uma crônica dos sentimentos



Estalando na noite o crepitar que acossa o alvorecer
Laivando com o absurdo da neurose o ambiente
Sob a lua que se surpreende com o minucioso repente
Das intrépidas águas de um pluviosê adiantado, ao arrefecer

Suas torrentes sobre o negrume flamal, dardejando irreverente
A condição de inconstância do fogo, que crepitante,
Retrucava sobre a intempérie para a madeira emoliente:
- Eu, presente de Prometeu, como pude ser tão imprudente?

A água, apenas torva ficou, não revelando emoção alguma,
Diante da psicótica fogueira que plangia na floresta,
Mesmo sua interação inusitada sendo vista por qualquer aresta
Formando rasas poças ao redor do clarão que cedia às suas espumas

A flama não se deixava amedrontar pela vaga intrepidez do derramar,
Que bradava: - Achas que controlas teu vazio crepitar, afoita destruição;
Sou a Regente da vida e do clima, tudo depende do meu fomentar;
Enquanto tu, ó abrupto calor, só propagas a descomunal corrosão!

A vermelhidão juncada aos retorços, involuntária, se condensava 
Convulsa e sonolenta, praguejando o lânguido feitiço
Que cumulava sobre seu ignóbil âmbar inteiriço
Tragando a razão dos lábios que beijavam a lenha que carbonava:

- Eu, presente de Prometeu, ardo desde tempos imemoriais
No coração dos homens, não posso ser por mero evento, vencido...  
- Tu, presente? A vida é o repente que eu propiciei! És mero rútilo!.. 

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Antes que o diálogo pudesse terminar, os céus, como pulsação
De súbito clarearam, conquanto  da flama apenas brasa restou
Do calvário dos incógnitos amantes, o gravame silêncio os divisou 
Poças e brasas, pequenas ondas e vapores, estalares de mistificação

Onde fragmentados, os dizeres por assim ficaram, 
Odes ecoantes apenas aos seres da floresta reveladas;
E conquanto dissipavam o orgulho das dialéticas relvadas, 
Os sonhos das árvores, na fuligem findavam... 

Mal sabia a água que a flama é um grito do tempo
Contra ele mesmo, por acumular vidas demais
E também mal o feroz rubor conhecia das águas
Sua eterna transição; e que representa o alento
Etéreo do novo fôlego após o grande brado,
Pois como é sabido, do caos surge a nova ordem
Enquanto estes velhos amantes se colorem...

Bruno Borin

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Se eu fosse eu



Se eu fosse realmente eu

Arrancaria essa minha pele
De pudores e de morte gradual

Pegaria da primeira coisa que avistasse
E iria embora, simplesmente ir embora

Sem despedida; não seria reconhecido mesmo

Iria embora sem dar aviso, não importaria mesmo

- Porque o eu é um outro...
O eu é um outro?..

Pego desse pensamento, mastigo...
De quantos outros é preciso para formar um eu?

Um pedaço só de eu, inexato, dormente... Cansado
Casado com as vicissitudes de todas as personalidades

E com a virtude de todo o ascetismo possível
E muita, muita inquietação...

Sim, eu iria embora

Para onde?

Se eu soubesse,

não seria eu...

Bruno Borin

sábado, 20 de setembro de 2014

Rupturas


O próprio verso o diz
Mas o que realmente fiz
Foi mais que cortar-me
Foi perder-me.
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Sob matizes despigmentadas e esparsas,
Minh'alma corteja bailando, 
As cicatrizes que vão formando
As dezenas de rupturas em marchas.

De eternos e languentes amores
A cintilar nas inspirações,
Apenas senti efêmeros fulgores
Constituindo carnais contrações.

Diluindo-me em montantes,
Achados nos alheios horizontes,
Mas perdidos aos montes,
De meus próprios caminhantes.

Que amargas palavras procuro
Para descrever as doces dores
Que pairam em meu céu obscuro,
Céu desses encantados, amores,

Que de espontâneos martírios,
Discorrem eloquentes delírios
Que, de rima em rima me desmontando
Vão, na medida em que vou amando.

A taça da ventura, nem sei se a sorvi,
Só sei que bem-aventurado, sorri,
Mas conhecendo de Sua foice ambígua 
Sei que esta atuação me é contígua

E não adiantam grinaldas d'oiros,
A locupletar meu lânguido martírio;
Jamais escutei um único suspiro,
Dos variegados e idealizados Zéfiros

A habitar meus profundos silêncios
Se comportando como se fossem
Antigos moradores que se creem
Ser meus verossímeis Concílios...

Bruno Borin

domingo, 14 de setembro de 2014

Quando não mais puder


O que será quando não preferências
Eu não mais puder ter? Fico a pensar
Cheio do drama e da incoerência,
Pairando sutil nas palavras a bradar...

O meu nome? Não, não, este 
Ficará somente entre os escritos
Já não mais o carregarei, pendente
De epitélios a se desfazer, proscritos
Das saudades que, tonto senti,
Das chuvas que me sorriram
E em todos os dias que morreram
E que foram aquilo que vivi...

 Não mais importam - A mente absorta
No poema ou no qualquer agora 
Este ou outro poderão ser a porta... 
A definitiva Porta para o não agora.

Bruno Borin


domingo, 7 de setembro de 2014

Como é triste, chover e desfolhar sem endereço!


É sonho ou convicção, confiar 
nos toques do destino a se fiar, 
Por intermédio de minha vontade,
Com uma dosagem pura de vaidade?

O que é suficientemente sólido,
Para que eu chame de minhas forças:
Aquilo que me detém de ser mórbido?
Ou isto que me impulsa além das formas?

Ao Ser folha caída, temo sopear a mim
Todavia, ao Ser Vívidas pétalas, temor de Jasmim
Me apetece; e em longas dores, assim escureço.

Suplico, o que é Ser que tanto exasperam?
O que é este Viver que todos bem aparentam?
- Como é triste, chover e desfolhar sem endereço!

By: Bruno

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

About the nature of light


My burning soul
Full of dreams 
Gently swims 
Whithout whereabouts

Thrilled with impetuosity
I sing the enlightenment
Of being the assayed entity
For the Words of ravishment

Singing for no one
Brings everyword 
Every effort worth
Than to choose only one

The path within, 
True Light of the grimoire;
Life's ultimate soiree
Becomes, This Genesis 

From Darkness itself  
Becomes the sense of Myself
True inner lumen in exchange 
Of the World's rough spelling.

Bruno Borin

Juízo de valor

Com minhas mãos tão humanas como quaisquer outras
Qual metafísica poderia mover ao junta-las?
Com a finitude dos acordes de cítaras salobras
Que corações poderiam tais feitiços, conjura-las?

As sugestões que faço a mim, não são seguidas
Levo-as longe do patamar da dúvida, as arrasto
Para o pedestal da poesia e delas valho, me basto
(Tantas mensagens, somam o medo de torna-las lânguidas
Convicções);

E de tantas sensações, aflora o morno sentimento
Não de abismo, não de eterno, mas de mundo;
Do qual libertam-se narrativas como esta

Não calorosas façanhas ou gélidas decepções acometendo
Apenas o caminhar estável munido do juízo profundo
No qual emolduro-me em incógnito estro... 

Bruno Borin

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Andanças interiores


andando pelo vale profundo
de meu coração

na seca paisagem
do inverno 
a chuva tenta chorar

palavras derruídas
de significado

mas o meu sentir
só permite a ida
até a imaginação 

a volta, na escura vida
sou acompanhado 
pela lua

que através de meus passos
enxerga sua luz no mundo. 

Bruno Borin

Das minhas metáforas

Inverno do corpo,
Outono do pensamento
Primavera do sentir...

o chamado é morbo
Não respondo bem ao encaminhamento
Não sei se posso me permitir 

Meu interior absorto
Não sabe se quer o acontecimento
Da realidade a bramir

O repercutir louco
Não dos ideias contramovimentos
Mas do descontrolado sorrir

Pleno e fresco desassossego
Rompimento das verdades é aprendizado
A não conter vã a beleza

Do julgamento, livre é o córrego
Sinuoso do viver libertado
A despir-se em natural pureza

Demasiado para a fé o ego
Se rende ao concerto agoniado
Da fenda conspícua de clareza.

Bruno Borin

Shadow People


Não estamos seguros
eles entrarão pelas portas.
Quebrarão as janelas,
adentrarão em nosso quarto,
revirando nossas cobertas;
Lerão nossos livros,
escreverão em nossos diários
vidas apagadas em tramas banais.
Farão refeições em nossas mesas,
ventarão em nossa cortina, 
nos observarão em nosso íntimo
e esperarão, sim, vão esperar, dispostos
 nos acostumarmos com suas presenças,
nos fazendo acreditar serem partes de nós!
As coisas que vemos passarão despercebidas
até que esqueçamos,  de tanto conviver,
no corrido cotidiano.
Até um dia, um fatídico dia,
na súbita mudança de postura, 
na imperceptível penúria da memória
quando não forem mais do que meras sombras
eles assumirão nossas vidas.

Bruno Borin