sábado, 30 de abril de 2011

Piaf

Voam voam de árvore em árvore
De campo em campo
Desde onde a grama é verde
Para onde a terra oculta
O mortos que nós rejeitamos
Casca vazia se tornam
E jogamos fora

Voam voam
De onde as nuvens
Não enxergam umas as outras
Então choram as lágrimas
Que chamamos de chuva

Voam voam
Cegos e desnorteados
Pelas poluições da cidade
Por prédios sem saberem o que são
Selva de concreto e malhas ferroviárias

Voam voam
Pardais pelo mundo
Pardais em apelido
Pardais passarinhos
Que visitam o dia
Que a noite ausenta
Botam ovinhos de esperança
Na natureza destruida

Voam voam
Para a morte e para a vida
Para a incerteza e para a loucura
E que sejam almoço apetitoso
Que sejam veneno mortal

Voam voam
Cansei!

By: Bruno

Punhal do Diabo

Esperavam no chão
Um banco, uma faca e um menino chorando
E havia madeiras
Satanás proferia coisas em meu ouvido
Mas eu gritava: Eu faço o que quero!
E abafava a voz infernal
Tudo aguardava o fogo
O fogo, glorioso fogo
Que se incendiou primeiramente em minha alma
Em seguida nas madeiras
Carbonizavam agonizantes
E o menino implorava
E as chamas cresciam
A rua se cobrindo com o véu da minha peripécia
Os vizinhos preocupados
E seis, talvez sete
Vezes que eu me furava com canivete
Respingos espalhavam o carmessim em meu rosto
E o Diabo, que resolvera apenas assistir
Ficava extasiado
Só segurando um punhal desconfiadamente
E o menino quando entrou
Extinguiu o fogo disciplinarmente
Me senti num castigo
Mas acatei...

By: Bruno

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tempo de amar


O Sol por trás da lua, brilhará mais do que qualquer amor
A canção de inverno demarca a queda das pétalas de cerejeira
É tempo de celebrar os amores
Mesmo que escolhes somente amar
As pétalas cobrem o chão em que o amor pisará
A cada passo as árvores choram mais pétalas emocionadas com a pureza

A pureza que roubam de você
E eu escolho amar o amor
Porque ele me traz o pouco de você que nunca tive
O muito de você que nunca terei
E a coragem que sempre esperei
Mas que nunca me escureceu os olhos.

O quanto de você me é permitido lembrar?
A brisa que carrega as pétalas que se despreendem
Também carrega gentilmente o doce cheiro dessas lembranças
Em puros gestos esse novo tempo flui
Sob a lua cheia, festejamos
Encontramos entre a luz de um luar puro e o brilho das pétalas
O tempo de amar

By: Bruno & Maykel Paiva

Uma parceria entre um maldito e um ultrarromântico, me sinto lisonjeado por isso!
Obrigado tomodachi por essa oportunidade!!!!

O buquê horrendo

1
De todas as cousas
O aspecto singular da solitude
Em eternal voluptosidade
Recobre-se de animosidade
Desenham-se crianças à lousa

Retratos sem busto
Arqueótipos malemolentes
Trovejos valentes
Em vão escondidos no arbusto

Correm, fogem
Trôpegos, exaustos
Opulentos de um horror descomedido

2
Eis o caos
O martírio das flores sem nome
Termina a métrica, começa a horrenda partida
Quem teme mais, vive mais
A realidade embarca-me em escrita
Não posso, não posso
Escrevo fastigiosamente
Não me arrependo
Parto da métrica
Para o livre
Para narrar o medo dos seres
O enegrecimento das rosas sem abelhas
Não há o que dizer
Só há medo
Só há o horror
De participar de uma realidade sem ideias
Assassinamos o intelecto
Massificamos a mente
Há em mim a inquietude
Da jovem resistência
Ardência em vão
Pois nem o demônio bolou
Algo tão nefasto


3
Só humanos
Para plotarem contra humanos
Vergonha desalenta
Montantes enérgicos de palavras
Um poder jamais utilizado
Numa atualidade criminalizada
Não há mesmo o que dizer
Só há a revolta
Contra a realidade
Cruel, idiotizante
Imbecilidade amórfica
Um pré-modernismo exacerbado
Tentativa de crítica ao incriticável
Jaz na meia noite
Os vãos esforços
Que eternizam-se
Despretenciosamente
Intencionalmente.

By: Bruno

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A redenção das pétalas

Minhas mãos gélidas procuram mais espinhos para se encravarem, não sei o que há neste hábito, mas traz o conforto da dor. Dor esta que alcança os limiares do psicológico. Por mais que meu sangue escorra por entre meus dedos, sei que na pequena poça que se formará envolta dos meus joelhos, estará o reflexo de um gesto puro.
A ausência da dor me causa náusea e estranheza, talvez seja a redenção das pétalas, que finalmente se notaram sem espinhos, portanto sem defesas. Elas aplicam uma leve mágica em meu morbo corpo, transportam-me para uma zona de imaginação morta, porém rica em vida e realizações. Me encontro atazanado, todavia purificado, diante de uma porta madrigal de esperanças renovadas e respirações tranquilas. A visão de um futuro sem caos.

By: Bruno
Acho que primeira no que diria "prosa poética" comentem ^^

A poça de Sangue


Sobem pelo ar
Bolhas sombrias
A cutucar os narizes carrancudos
O´h ar nefasto
Atravessais a tranquilidade
Como o punhal que o Diabo
Encravas nos corações virginais da humanidade

Sobe pelo ar
Bolhas esquizóides
Uma a uma, as pessoas são contaminadas
A poça se torna rubra
Coberta de sangue inocente

E sobe pelo ar
Muitas outras coisas nojentas
Até os anjos malquerem a poça

A poça, A poça
O que é a poça?
São os pecados descartados?
São os medos de morte?

A criança enlameia-se na poça
Mal sabe ela, que espalhas o mal
A cada gota do sangue em sua roupa
É um centímetro a menos de inocência
Mais uma alma corrompida
Para a minha magnânima coleção

By: Bruno

terça-feira, 26 de abril de 2011

Poète Maudit


O sangue negro que escorre pelas minhas artérias
Combina com a treva que cobre assombrosamente a lua
Vagando mórbidamente pela rua
Observo languidas no ar, estranhas matérias

Cousas atmosféricas roubam minhas histerias
A cripta infernal que sempre buscou a minha alma
Regozija dentro do meu coração em valsa
Enquanto seres em redor engolem-se em hipocrisias

O Rítmico soluçar da nascente
A liquidez demonológica do meu ser é um choque
Devo adquirir um silêncio abissal mesmo que eu me equivoque
Sobre a fatal realidade em ignorância fluente

Sou, afirmo e reafirmo
Eu sou um poeta maldito e confirmo
Tenho o direito a essa calamidade
Recheado de ambiguidade

Minha malignidade é minha inconstância
Aqui jaz uma ironia delével
Posto que sou antro de alucinações absurdamente indelével
Maquiavélico, eloquente, poeta e mortal
Não posso evitar, de ser eu!

By: Bruno

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Thanatos


Do amor que arde em meu ventre
De toda a paixão que escurece minhas veias
Tu és a fonte dos meus pequenos desejos
Fonte da minha luxúria egoísta
Tudo rola em um mistério revoltante
Aposto minha amaldiçoada alma
A ti óh personificação da minha gloriosa danação
Quero provar da sua carne
Da quietude do seu ser
Dos mistérios da sua mente
Cubra meu destino com suas asas manchadas
Beba do meu sangue
Suas palavras duvidosas me escravizam
Seria inebriante morrer por suas pequenas mãos
Mãos demoníacas e fastias
Porém delicadas ao meu ver
Teu perfume singido de rosas negras
Me intoxica langorosamente
Você mascara tão bem toda essa perversão
Com um sorriso puro
Isso me enfeitiça
Me mate
Não importa a moralidade
Não importa o pesar da sociedade
Apenas mate-me
Assim serei seu por toda eternidade...

By: Bruno

sábado, 23 de abril de 2011

Je Te Veux


I

Firmo meus pés no chão
Para que os teus possam flutuar em um mundo de sonho
Tua tez é tão úmida quanto o saudoso vento da minha infância
É do âmago da sua carne que extraio meus mais valiosos sonhos
Tuas mãos inseguras seguram o fio da minha vida e nem percebes
A pálida luz alumia seu pequeno corpo de forma tão pura
Que me faz sentir menos maldito
Embora eu não mereça o céu, eu te acompanharia até lá
Se me fosse possível
Eu quero sofrer as piores torturas
Quero morrer mil vezes
Para te privar de sentir uma gota sequer do amargor da vida
Não há a métrica, não há mais palavras
Há somente uma tarde de verão imaginária
Em que passamos juntos
Durma, durma para que nossos sonhos sejam ligados
Enquanto eu pego as poucas estrelas do céu
Para forrar o chão em que você poria os pés quando acordasse
Cada suspiro seu me é uma respiração inebriante
Me sinto a um passo além da existência
Um passo para a alcova que me domina
Que me apaga sem me riscar
Que me desata
Sem a vida perceber

II

Eu sou uma pequena imagem borrada
Uma imagem que sonha com você dia e noite
Um clarão de poucas luzes
E um céu de poucas estrelas
Tenho uma rendição resguardada em minha sombra
Mas não posso usá-la
Porque eu não posso parar de sonhar
Eu quero sentir suas dores
Para que você não saiba que elas existam
Eu quero devorar o tempo
Para que você não o sinta passar
Quero bater minha asa
Para que você saiba o que é a brisa de verão
Eu quero desenhar as cores com a treva do meu ser
Para que teu mundo nunca seja incolor
Quero ser da chuva as pequenas gotas gélidas
Que tingem sua alma de uma alegria indescritível
Quero ser cada palavra que repousa no seu desconhecimento
E quando chegar a sua noite de rendição
Quero estar no seu lugar
Para que eu receba a sua punição
E assim sua alma regozige no céu sem amargor

By: Bruno

Pequeno Desejo

Acordo suspirante
Sua imagem percorre minha cabeça
As palavras embaralham na minha boca
Olho para o lado e confirmo ter sido um sonho
Cada vez mais versos se fazem existentes
Devido a você existir
A cada respiração tua
É um passo meu para a danação
Sinto que o tempo passa muito depressa
Quero roubar um dos seus sonhos
Para delirar com ele à vontade

Sem medo e sem confusão
A lua pára para assistir
A esse pequeno devaneio meu
Enquanto o resto continua fluindo
O sol lacrimeja sob o meu pequeno desejo
Que é morrer sobre o seu peito
Pois eu não consigo respirar mais
Você pode ouvir minha voz?
A voz que pensa somente em você
Em meio a chuva que insiste em me envolver
Em solidão

By: Bruno

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Lifeless


Eu nunca me tornarei uma memória
Quero navegar no cosmos da sua mente
Com este planeta como nave
Inundando seu inconsciente
Com meu estranho amor em perfeita danação
Aturdido com lágrimas que chovem em sua face
A lua nos lança um feitiço sublime
Do qual jamais me desfaria
Pois nos une de forma transcendental
Viverei para sempre esmaecido
Em sua respiração branca
E nos ecos dos seus suspiros

Em seus olhos refletirão minha imagem borrada
Até o meu último momento
Farei mil graças minúsculas
Até que você ache graça da minha fantasmagoria
E quando suas mãos fracas apontarem para o céu nublado
Dentro deste pequeno gesto encontrarei um conforto
E se os pálidos raios de sol surgirem aos poucos
Nos perderemos no nada que somos
Eternamente unidos

By: Bruno

Les fleurs colorées


No meu coração trevoroso
Só existe uma pequena luz
Que escraviza todo o meu corpo
Sim uma luz implantada por um olhar distante
Minhas lembranças se tornam delírios insuportáveis
O cheiro de flores da noite apenas incendeiam a dor
Ai shiteiru, seria a única coisa bela que poderia sair
Dos meus lábios ensanguentados
Eu desejo que meu sangue se espalhe
Pela fenda que há entre o fio de vida
Que percorre a morte
Para que você nunca seja ferida
E nunca mude
Nos meus olhos queimados pelo seu brilho
Meus passos ressonam as dores do meu peito
As árvores e suas gloriosas sombras
Projetam um momento ideal para te abraçar
Que flor desabrochará para competir com a sua beleza?
Queria ter um corpo inocente
Para ter a paz que procuro em seus braços
E assim morrer em uma velocidade anormal

By: Bruno

quarta-feira, 20 de abril de 2011

La danse macabre


O amor é um grande salão rubro
Emproa o casal em fúnebre desenvoltura
Por entre as rosas descubro
Tamanho rancor oculto a esta altura

O vestido abundante unido ao terno galante
Dançam caricatos em fúnebre fulgor
Eles tem o vazio da treva à morar na pupila vibrante
Ao canto do violino o asco inquieto acende o rancor

Belzebu expressa certo contentamento
Conduzindo-os ingenuamente a um poço de culpa
A trombeta anuncia sinistra ao distanciamento
Daqueles esqueletos perfumados em exculpa

E sob os céus a morte admira
Esta dança macabra
Em justa ironia
A insanidade se junta à ira!

By: Bruno

terça-feira, 19 de abril de 2011

A loucura decisiva

Nada ofusca minha perfeita clareza
De que me adapto bem à sua beleza
Todo o fogo que por mim flamejou
Parte da boca em que meu coração se afogou

Mesmo que eu morra em solitude
Injurio-te com minha asa rude
Pois meus prazeres e minha glória
Residem no ego e na memória

Toda vez que meu coração se embriaga por um mito
Perco-me em teu olhar em meu sonho infinito
Posto que delirante sou
Ígneo amante e de piromaníaco restou
Minha pequena parte lúcida
Onde jaz a fulgura pútrida
Falsidade - Medo - Armadilhas - Tristeza
Toda maldita torpeza
De ser um maldito louco
Com coração rubro e louro

By: Bruno

Don't try my heart..


Why do I feel so lost?
I stand behind a imaginary me
A person who bears a undead love for you
If just I knew you
This woudn't look so fake
For many times I looked around
Just to see if you were beyond the blue sky
My entire kingdom is projected around your big dreamer eyes
You, who just appeared by question of seconds
Óh Bearer of my heart
Please, don't break my heart
Spend your time with me
My words are ending... My breath fading...
But my suffering just grows
Because of you... Just you
And you don't have an minimal idea...

By: Bruno

domingo, 17 de abril de 2011

Sakura


As estrelas que estão diantes do rio sinuoso lamentam
O meu caminho penoso é feito pelas margens deste rio
A lua acompanha piedosa o meu andar
Ela me presenteará com a eternidade ao lado de quem amo
As penas de um grande pássaro agitam este céu
Deixando estes entes estelares inquietos
Há um certo esplendor em se perder no vale das sombras
Ouve-se uma pouca melodia abraçando o ambiente
Os sons de passos na mata
Traduzem que quero te ver uma última vez
Bem debaixo daquela magnífica copa de cerejeira
Eu realmente desejo isso
Bem debaixo da cerejeira
Ver seus pequenos olhos sonhadores
Uma última vez

By: Bruno

sábado, 16 de abril de 2011

Koe

Minha visão deturpada mostra um futuro sombrio
As respostas que procuro não podem ser avistadas agora
Mas sei que estão em algum lugar da sua mente labiríntica
Não sei o que posso fazer sem meus sentidos em totalidade
Estendo a mão e agarro um pouco do nada
Admirado com os vultos transitantes
Seus olhos cruzam-se com os meus
E sinto uma pequena ânsia, mas ainda tateio o gélido ambiente
Sei que me olhas por uma janela imaginária
Não custaria nada gritar o meu nome
Não vou confundir sua voz com a gritaria abundante
A chuva goteja calmamente no chão pisoteado
Apagando meus rastros
A cada passo me distancio do eu que você costumava admirar
O quanto será que me perdi em mim mesmo?

By: Bruno

Monophobia


I can't see
I can't hear
Onde, onde estou?
I'm dead
Preso em um oceano de caos
Já nem consigo contar
Quantas agulhas furam meu corpo
Eu sinto o caos dentro de mim
Meus sentidos são um redemoinho
Uma imensa espiral de uma asa negra
How much day light
Do I have to wait?
Neste decorrer de tempo
As trevas agora parecem erradas
Cingido de um fulgor negro
Meu coração já não pode mais ser habitado
A menos que você me ressucite
Traga toda minha morbidez à tona
Veni veni dilecte mi
Encontre meu corpo nos escombros queimados
Encontre minha alma no ópio existencial
Me mostre que com emoções humanas pode-se viver
Veni veni dilecte mi
Reconheça meus lamúrios diante dos profundos cortes da minha alma
Ressucite-me

By: Bruno

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Love Dealer


Seu sorriso é como o céu
Um luar que contém meu desejo
Meu coração fraco e triste é um véu
Que esconde em constelações flutuantes o manejo
Do leve amor além do meu alcance

Mudo pouco a pouco
Abandonando manias e adquirindo outras
Remova tudo o que transborda de mim e deixe solto
Ao relento e que a brisa carregue em ondas envoltas
De sorrisos silenciosos

Eu não disse nada, apenas olhei para a noite
E para você, enquanto me segurava
Dolorosa e puramente
Meus complexos e coisas ruins simplesmente não existiram
Meu coração por aquele instante foi nobre
No mais doce e profundo dos sonhos


By: Bruno

terça-feira, 12 de abril de 2011

Amor...

Sua luz
Produz uma mancha mesquinha em meu coração
Não tenho o que dizer frente a um límpido sorriso
A longevidade da luz pára o tempo sobre nós
Eu recolho continuadamente estes fragmentos mnemônicos
A fim de montar o quebra-cabeças chamado felicidade
E você até ri desse meu desleixo
Em enormes delongas as sensações percorrem meu corpo
Se eu me esquecer de você
Provavelmente ficarei corrompido
Prefiro a morte à mudar seu coração
Usando essa corrupção adquirida em sua ausência
Dado ao sentimento contínuo
Tão mais contínuo que o fluxo do próprio tempo
Eu vivo deste amor...

By: Bruno

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A vizinha naturalista

Vive numa estreita rua, rua esta que é cheia de seres particularmente estranhos, certa mulher esnobe, que se acha a dona da situação. Mal sabe ela, que essa postura é realmente ridícula, posto que tem um corpo ressecado de magreza obsessiva, hábito de usar roupas vindas dos manequins das vitrines mais psicodélicas, e um vozeirão digno de animais que grunhem e gemem horrivelmente.
Há episódios em que esta mulher aparece cada mês com um carro diferente, mesmo morando em uma casa que possui teto de quadra de escola pública, mantêm incoerentemente um comportamento de alto padrão pelo visto. É possível ver também os familiares da mesma ostentando algo imaginário perante os vizinhos, e durante a construção de uma estrutura, a que me referi como teto de quadra, o tal marido, também portador de uma estrutura vocal vergonhosa, falava explicitamente sobre valores irrisórios, que para os vizinhos causava espanto e admiração.
Os ruídos da chuva se tornavam irritantemente amplificados por causa do teto, mas isso não impediu que uma de suas filhas procriasse, tendo após dois meses um baby, o qual muito irritado chorava muito, particularmente nos tais dias chuvosos. Parte de mim narrador, sente pena daquela infanta, crescer num lar tão ruidoso.
Mas o inimaginável estava para ser testemunhado ainda, a mulher que andava esnobemente de pijamas na rua, com um cachorro, exclamava para outra das vizinhas medíocres, que este sabia ler.
-- Eu que ensinei, latia mais que o cachorro, afirmando esta frase o mais alto possível, para que ficasse evidente suas habilidades educacionais. Leitor, há de concordar comigo que se houvesse um cachorro que lê, provavelmente haveria outros animais oriundos das mais diversas fábulas, presentes em nossas vidas, receberíamos conselhos de uma coruja, por exemplo. Ou mesmo, haveria um gato que calçasse botas e lutasse habilmente esgrima não é verdade? A realidade pode ser tão cruel a ponto de ser apenas um sonho delirante, onde cachorros falam? De acordo com aquela mulher, problemas temos nós, que pobres e antissociais somos, como um dia a mesma falou isto de mim, um poeta, ainda que maldito, mas não deixo de ser. Bom, nem sei mais o que pensar disso tudo.

By: Bruno

Rotina

A copa da árvore
Desenha com sua delicada sombra
Pequenos detalhes que são apagados
Pelos passos dados no mármore cru
São Paulo formiga
E São Pedro lamenta
Há mais gente aqui
Do que há no inferno
O passar rápido do maquinal movimento
Me é incomodante aos olhos
Tantos detalhes em tantos vultos fragmentados
Formigando num metrô eternamente
A inércia da rotina corrompe tanto ou mais
Que o ópio ou o absinto
Que tanto me admira em não existirem mais

By: Bruno

Quando penso em você

O papel está branco
Isto não é significado de pureza
O olhar é brando
O gesto amado é dotado de beleza

A chuva caindo no meu queixo erguido
Combina com as curvas da lua minguante
Eu vivi desaparecido
No seu primeiro olhar, durante um instante

Eu me perco nas minhas memórias
Enlatadas nas dobras do meu coração distorcido
Lotado de ilusões e estórias
Eu me pergunto eternecido
Em minha profunda ilusão
Se as flores que são predestinadas a murchar
Porquê elas nascem afinal, como se destinadas a uma crucificação?

Eu não posso me livrar destes ruídos
Eles estão presos em mim
Quanta esperança me impede de desistir?
Não decidi como será meu momento final
Mas certamente pensaria em você
Antes de jogar meu corpo vivo fora
E me tornar apenas um vulto
Entre as sombras do concreto

By: Bruno

domingo, 10 de abril de 2011

Hisui

Me vem ao âmago da carne
A sensação de estar contigo
E não te conhecer só enaltece meu desespero
Se meus braços fossem um pouco maiores
Eu poderia carregar sua forma dionisíaca
E jogar fora todos os sentimentos ruins
O pânico não pareceria tão enfermo
Você voa tão longe através do meu olhar mudo
Minha face envermelha-se despercebidamente
Foi uma escolha inconsciente
Remenda meu coração afundado
Com seu sorriso atencioso
Eu desvio meu olhar
Para que eu desista de todos os encontros pintados com adeus
Me sinto impossibilidato
Com um breve aceno
Ao custo de diversas lágrimas
Deus... eu nem tenho um lacrimatório;
Onde guardarei cada lembrança molhada por essas lágrimas
Você transforma a dor da despedida
Numa jóia cintilante
Não é preciso contar as palavras ditas ou escritas
Só peço que não jogue fora os míseros segundo que nos vêmos
Porque você desaparece em tempos brilhantes
Para desenhar meus milagres...

By: Bruno

domingo, 3 de abril de 2011

Uma estadia no inferno

As armas já riscaram todo o ar com sangue e esplendor
As almas remanecentes aturdidas não têm escapatória
Podemos banir o remorso e o torpor?
Algum anjo de lãs louras já conheceu o pavor?

O Diabo em meu quarto um dia
Falou sobre homens que matavam uns aos outros
Diversão fatídica, um fato monstruoso
Daí meu ódio surgiu em vários reflexos
Toda a parte negra e rósea desanima

Quero sepultar-me nesta terrível paisagem
Que jamais olho mortal fitou tal imagem
Num raio cristalizado
Minha alma deve ser devidamente obliterada,
Pois é demasiada grostesca
Para ser aturada por um mortal vislumbrado.

By: Bruno

sábado, 2 de abril de 2011

A mansão

A mansão...
Deve sempre existir no passado
Minha consciência vive no presente
Eu vivo no presente
Mas a mansão maldita
Pertence à época dos malditos
Devem residir nela apenas os irremediáveis
Os inconsoláveis e os suicidas
Jogue fora os enfermos
De nada vale uma alma improdutiva
De nada vale o pensamento otimista
A obra abrange a beleza da morte
O encanto dos lamúrios e o brilho do pranto
A amplitude da ilusão
Saboreiem-se em literatura
De um jovem amaldiçoado
Um fatalismo em tempos modernos
Só adentrem na mansão os impetuosos
Almas corrompidas
Audaz mente a que tenta interpretar-me
Sagaz inebriante entrada a terreiro pútrido
Tinjo meu corpo de vinho e meu coração de branco
Digo-lhe e repito sou um maldito e pertenço ao passado
Não hei de herdar modernidade inculta e infame
Me abstenho da realidade
Edifico-me na mansão maldita e poética
Aeternum...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sepultura

Fardo tão grave é o de alçar-me à vida
As litânias recorrentes cegam o entendimento
Minha alma é luz apagada

Não mereço a humanidade que ostento
Não quero o conhecimento que sublima
Uma mente mística e opulenta
E um coração sepulcral e endêmico

Exteriorizo toda minha angústia
Em forma de raiva desenfreada
Todavia recuso nutrir um rancor reluzente
Pelas amargas lembranças de paz ausente

Quero me abster do amor
Da felicidade e do ânimo em vigor
Porque são coisas abstratas e ilusórias
Nas solidões e agonias me encontro em perfeitas harmonias

A arte é longa e o tempo é breve
Toda essa angústia célebre
Faz do meu coração um cemitério isolado
Em meu lacrimatório jaz guardado
Meu carinho e inocência oculta
Enquanto as trevas sepulta
Minha corrupção alegórica

By: Bruno