domingo, 31 de outubro de 2010

Adeus oh luz solar

1
Para quê querer-te bem
oh infindável luz da vida
se você fere bruscamente minha visão?
Interrompe abruptamente os meus sentidos
oh inocente luz que se vai
devo eu partir antes da sua volta,
pois você não há de me fazer bem algum
Somente recobro os meus sentidos
quando aquela que durante a sua estada
neste danoso céu retorna das profundezas
É de meu agrado a ilustre compania e somente
dela oh gloriosa escuridão
Devo pedir-lhe gentilmente
que me mostre a modesta face
do abismo, sua morada
seu e meu luar?

2
Para que serventia se presta
ser humano?
Hei de enumerar os desprazeres?
Oh humanos, ando tão cansado de vós
não encontro motivos para amá-vos
nem para odiar-vos
Mas há o fastio acontecimento
de os desprazeres desta vida, desta espécie
e desse corpo superarem em demasia os
tais prazeres...
Humanos: apresentai um de vossa escória
e diga se não é uma maçada a luz solar?
Humanos: um último pedido
e então deixo de vos atormentar
enumerem os desprazeres e os prazeres
e tentai convencer-me!

By Bruno
Como seria ver teus olhos uma última vez?
Estancaria meu coração que sangra inesgotavelmente
não hei de querer outros amores
somente o teu me faz sentir vivo
somente o teu me atrai para fora da treva
me faz querer ajustar-me
hei de voltar um dia?
deixarei destrancada a porta
onde naquele passado luxurioso
conheci a felicidade
porém com a falta do ópio
percebo que não passava de alucinações
ao menos você como humano era real...

Como aquele sentimento embriaga nossas mentes
ludibria nossos corpos
entrelaça nossas almas
e não é real?
Permanece naquela lembrança enevoada
o reflexo dos seus olhos
um poderoso azul
avistado através daquele espelho
mesmo que por só uma noite
aquela visão dominadora
domina até a ação destas palavras atuais
obrigam a reescrever até mesmo
o que não passou de alucinações
sobre aqueles olhos azuis como o céu
e salgados como o mar....

By Bruno
Não há o que ser escrito
que já não exista em algum lugar
neste vasto, vago universo
multidimensional, tedioso
qual seria minha função então?
re-inventar o já escrito?
entristecer-me a base de
palavras e pensamentos
profundos porém pífios?
é certo, este grande tédio da vida
nunca passa, escrever só alivia
uma dor psicossomática, inexistente
mas essencial,
dor essa que aniquila a esperança
e enfeita a solidão.

Se estas palavras jamais te alcançarem
vou pegar meu corpo vivo e jogá-lo fora,
pois a busca constante por esses fragmentos
chamados felicidade, despedaça minha alma
Para que tantos caminhos?
você está em todos os lugares?
Então leve-me diretamente a você
já não basta o meu tédio
a minha dor? a minha função inexistente?
Mesmo que for tudo uma ilusão
quero perder-me nela
fazer da minha mente mil pedaços
guardar no meu coração a sua ternura
colecionar os sonhos que um dia foram teus...
Não quero fugir desse sofrimento
quando já estou suficientemente alienado
não me renderei, nem mesmo a luz poderá vencer-me
nesta escuridão, junto às cinzas
minha função não está obsoleta!

By Bruno

sábado, 30 de outubro de 2010

Façam um chá

óh mulher descabelada
faça um chá e penteie sua crina
que não rima
menino ajuda
menino morena
sua prosa é igual
a da mulher descabelada
faça o chá também
que rola vintém
óh menino morena
avisa se a água fever
fala ok
e rola vintém
ciclicamente
toma a escova
e entrega à mulher descabelada
quando aquela massa de cabelo se ajeitar
acabarei de escrever essa coisa
só riam
e façam de conta
que eu não zoei
vocês

By: Bruno

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cemitério de poemas

Por onde passo
vejo o vago
como algo inexaurível
como algo tão industrioso
pode estar neste lugar descartado?

Há vultos inexatos que
vagam inéptos
por essa vastidão indelével
olho para suas faces
me desaponto;
não havia rostos
só um vazio
por onde a ignorância flui inexorável
porém sem contaminar o meu ser

A cada paisagem desta indígna terra
pedacinhos de papéis voam e pousam
cíclicamente, inesgotáveis
pouso minha mão em um deles
e nada se pode extrair dele
inelegível, sincrético

Meu andar sincroniza cada vez mais
com o andar daqueles vultos síncopes
seus sibilos soam como lamúrios incoerentes

Percebo que todos e tudo
inclusive eu caminhamos para o desconhecido
vazio, morbo, obliterando
aos poucos
Não há ob-rogações, um fim múltiplo
nutrindo a ignorância absolutista obituária
da mente...

By: Bruno

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Balada do ataque cardíaco

1
Um dos meus eus morreu hoje
estava andando calmamente
quando caiu inerte
apenas observei
não falei nada
ri disfarçadamente
e um dos meus eus morreu
hoje, e ficou lá
ninguém reparou
foi um doce momento
mas era tarde
um dos meus eus morreu hoje
e ninguém saboreou a doçura daquele
momento, mas foi mesmo assim
só eu ri e fui embora

2
Aquele eu queria tanto
saber sobre outras vidas
agora o desgraçado foi
conferir pessoalmente
eu espero que ele não fique frustrado
nada é interessante nem nesta
nem em qualquer outra vida!
É tudo uma grande maçada!

3
Depois que aquele eu morreu
fiquei só, foi estranho
nunca fiquei só na minha mente
não sei como lidar com isso
será que invento outro eu?
É divertido conversar um pouquinho
e depois ver meus eus morrerem!
É como um copo que cai
e se espatifa e se torna milhares de pedacinhos
pedacinhos de memórias
que eu recolho e moldo
com um novo rosto e um novo assunto
Um dos meus eus morreu hoje
nem me espantei, apenas ri
e voltei ao ócio diário.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Trecho interessante do "Cidade e as Serras."

"...Não se sabe quem vai, nem quem vem. A gente vê os corpos, mas não vê as almas que estão dentro. Há corpos de agora com alma de outrora. Corpo é vestido, alma é pessoa... Na feira da Roqueirinha quem sabe com quantos reis antigos se topa, quando se anda aos encontrões entre os vaqueiros... Em ruim corpo se esconde bom senhor!"

Citação da personagem Tio João do Cidade e as Serras, achei particularmente interessante esta pequena divagação sobre reencarnãção, da pequenina aparição de um velho fictício na minha vida.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Poema aos amigos!

Gean traze-me folhas brancas
hei de fazer uma poesia
Muyoi amiga, desenha tu
uma personagem bonita
hei de fazer uma grande poesia
alienada, subversiva
Cida, alerta tu sobre a chamada
Mingau observa tu a tua rua
se acontecer algo interessante
por favor vem me contar, pois
não quero que meu tédio
contamine a minha poesia
Aninha vamos ler?
Haverá de ser a primeira
Gean cadê minhas folhas
quero começar agora, pois
meu tédio fica mortal!
Cida já chamaram?
Mingau, e a rua?
Chama tu se acontecer alguma tragédia
Quase esqueço! Muyoi e a minha personagem?

By: Bruno

A mulher que canta

Calai as crianças
Emudecei os velhos
Pois quero ouvir
a mulher que canta

Bocas que mastigam
Olhos que giram
Mãos que seguram
Pés que batem
Stop!
Prestai atenção
à mulher que canta

Bocas que falam
Olhos perdidos
mãos ao ar
Parai!
Prestai atenção
à cor do batom
da mulher que canta
Divinamente...

Vai e vem
Zumzum
Would you Stop?
Dai pausa e ouvi o refrão
pois é lição de vida!
Quero ouvir mais uma vez
a mulher que canta
Que me encanta!

By: Bruno e cida!
O cara do pão passa
chama as pessoas
elas vão;
lhes são fornecidas o seu alimento
come-se, bebe-se
mesma frieza incalculada
mesma monotonia rítmica e imprevista
acalentadora e rotineira
de uma segunda-feira
o cara do pão se vai
as coisas já não são as mesmas
agora se tem o pão

By: Bruno

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Me identifiquei com essa poesia:

O Falso Mendigo

Minha Mãe,manda comprar um quilo de papel almaço na venda
Quero fazer uma poesia.
Diz a Amélia para preparar um refresco gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram,não falem,fechem todas as portas a chave
Quero fazer uma poesia.
Se me telefonarem,só estou para Maria
Se fôr o Ministro,só recebo amanhã
Se fôr um trote,me chame depressa
Tenho um tédio enorme da vida.
Diz a Amélia para procurar a Patética no rádio
Se houver um grande desastre vem logo contar
Se o aneurisma de dona Ãngela arrebentar,me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.
Liga para vovó Nenen,pede a ela uma ideia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
Se eu dormir,pelo amor de Deus,me acordem
Não quero perder nada na vida.
Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme de vida.
Minha Mãe estou com vontade de chorar
Estou com taquicardia,me dá um remédio
Não,antes me deixa morrer,quero morrer,a vida
Já não me diz mais nada
Tenho horror da vida,quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.
Fala para o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não aguento mais ser censor.
Ah,pensa uma coisa,minha Mãe,para distrair teu filho
Teu falso,teu miserável,teu sórdido filho
Que estala em fôrça,sacrifício,violência,devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Saber ser o melhor,o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.

De: Vinícius de Moraes

domingo, 10 de outubro de 2010

O homem vendia doces
nesta noite docemente fria
este homem abordava gentilmente a todos
murmurando surdamente uma palavra aleatória
mostrando sua cesta, a palavra devia referir-se a ela.
No momento em que mostrava-me sua cesta de sortidas cores
pensava, eu, na minha desbravadora desventura
neguei rapida e pequenamente, com um gesto da cabeça
Em outro momento não tão distante
uma mulher pergunta ao próprio imaginário
sobre a possível abertura da porta
a moça se vai e a tinta terminando
esta pequena coisa, com relutância talvez
tentando colocar mais detalhes sórdidos e superficiais
mas a mente pede um basta por agora!

By: Bruno

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mosquitos

Msquitos imaginários contorcem-se
esperneiam, fazem barulho
interrompem a concentração de meu amigo
parecendo alucinações, sendo alucinações
de um alucinógeno e rico imaginário
que é a mente humana
ou seria apenas uma dança tecno?
Mistérios, devaneios, alucinações
o ópio nunca foi presente, mas está presente
como se existisse, como se habitasse seu cotidiano
assim como aqueles mosquitos imaginários
e a música tecno.

By: Bruno