quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Faunafagia



Na relva alta deposito um sonho incerto
Que paira como um ignoto orbe,
Sob as folhas pontudas que sobem,
Ignorando as poucas nuvens do céu aberto

E embora talvez se cristalizasse em um verso
Escolhi dispersá-lo em etéreos clarões que fulguram
Os desejos que junto ao pólen emulsivo, a relva fecundam
Perfazendo a cerimônia cosmogônica reversa

Da magia alquímica Paracelsiana
Que hoje só doira a palavra transmutada
Quando cortejada com a própria alma ramificada,
E com o nevoento incenso da emoção soberana

Porém, quando as perspectivas clorofílicas das gramíneas
São drenadas pelas abstrações da troca de folhagem,
É esperado o tenuíssimo momento de escolher outra paisagem,
Fatiada pela ação altiva da imaginação espireínea:

É hora de procurar na silhueta vaga das papoilas,
Dos crisântemos, das cicutas e até dos cedros imponentes;
A torva realidade que apodrece os olhos impotentes.


By: Bruno Borin

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Aos poetas do nosso tempo



Aos poetas do nosso tempo eu dedico
Do artista o segregado alento
Do pintor a precisa pincelada
E para o leitor a magia lançada

Aos poetas de nosso tempo eu indico
Do esplendor, as cores do prisma carismático
Dos tempos de outrora, incluso o aforismático
Questionamento, e o rebuscamento eu enfatizo

Que – como o ferreiro que tece à marteladas
O formato Ideal de cada espada
– Como o artesão que cerze à agulhadas

O ferro em brasa, as linhas cruzadas
A ideia, fumaça da mente inspirada
Deve ser ousadamente esquadrinhada!

By: Bruno

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Diligentia Humanitatis


No âmago das hemoglobinas
Há a quintessência da língua
Resvalada e hibridificada às minguas
Do simbolismo pósmoderno da lamparina

Que alumia ríspidamente a vasta neblina
Do inconsciente primitivo
À busca do comportamento arquetípico
Que revele a forma abstrusa com a qual maquina

A mente humana, medula da civilização
Que de tão subjetivada, se vê alienada
Abruptamente açaimada

Pelo anelo corrosivo da incrementação
Do próprio infortúnio de pensar; gerada
E pelas neuroses fortemente impulsionada.

By: Bruno

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A marcha


Os impávidos soldados de terracota em seus tempos áureos
Tempos de exímia pontaria, tempos de sangue e medo
Combateram fervorosamente hordas de mongóis, em seu enredo
Magnânimo e mágico, hoje mero souvenir, guardado como em todo antiquário

Corbertos seus dorsos com a seda mítica e profana
Faziam pesar sobre o inimigo a fulgurante mão da derrota
E quando jogavam o olhar frio sobre o campo de batalhas ignotas
Não sentiam sequer dos humores a treva ufana

Continuavam em sua marcha instintiva
Procurando saciar a eterna sede de suas espadas
Passo por passo sem emitir qualquer sinal expressivo

De arrependimentos, muito menos temendo o abismo horrendo
Que os transformou em um monumento tão celebrado
Quanto a glória vã daqueles que acabaram por suas mãos morrendo.

By: Bruno.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A Marcha


    Os impávidos soldados de terracota em seus tempos áureos, tempos de exímia pontaria, tempos de sangue e medo, combateram fervorosamente hordas de mongóis e diversos outros inimigos do império. E em seu enredo magnânimo e mágico, hoje obsoleto como todo antiquário desfrutam de petrificada paz, emudecida e matizada pelo capitalístico ritmo dos flashes dos turistas ávidos por um bom ângulo, triangulando suas posições sem imaginar a glória deste magno exército, excelso em batalha, porém péssimo em seus lares, em que deixaram seus filhos talvez cianos, suas mulheres magentas. Filhos magros, mães desesperadas, procurando um método à moda de seu século, de ganharem seu sustento.

    Merecedor de pergunta é o sangue que tinge rubramente cada espada, cada lança, cada armadura vencida, será que esta é a origem de suas cores, meu pétreo exército? Ou é só a cor angustiada da terra que os cobriu, quando sua utilidade foi repensada? Relembrar seus tempos é como o ressoar do sopro de uma flauta. Seu lirismo épico é constituído das mesmas forças que atuavam nos campos de batalha, forças estas, que não permitem que a verdade seja extraída. Forças que perpetuam as lendas nas vozes dos bêbedos bardos que cambaleiam de vila em vila, espalhando este etéreo folclore.

    As dobras que o tempo acumula em seu lenho, demarcam as aspirações fantásticas, soberbas dos povos. Seu povo, Imperador Qin, não seria diferente, assistiram surgimento dos estados guerreiros, calados, apenas esperando a mão grotescamente fina da unificação deitar sobre os ombros do império e assim cessar a sua violenta conquista!
    
    Eis que perquiro novamente se as mesmas dobras temporais poderiam despertar de seu sono milenar os imortais Guerreiros de Xian tão logo o capitalismo feroz ruísse quanto a China assumisse o posto de maior potência do mundo. Pois não bastará a abnegação feita pelos continentes ocidentais, eles lutarão por seu superficial comodismo, seu lúdico controle mundial, enquanto, a população, ludibriada pelas inúmeras mentiras conspiracionistas, assistirá a renovada Ascensão destes impávidos Soldados. Por que há, nas monótonas pontas de destino o mesmo riso escarnioso que havia nas bocas sanguinolentas daqueles generais chineses de outrora, hoje eternizados nos livros de estratégia bélica, que muitos de nós interiorizam em seus jogos pessoais de poder. E enquanto houver esse riso tenebroso, essa necessidade arcaica de domínio. Haverá utilidade para os guerreiros de terracota.

By: Bruno