quarta-feira, 16 de maio de 2018

Agrypnia


Em formas turvas, tentaculares 
Estranhos entes de sonhos cruéis
Manifestam-se em terríveis dosséis
Ao concretizarem os meus azares!

A luz verte em ignóbil aura trevosa
E olhos fosfosrecentes me devoram
E eu navego nesta turba horrorosa
De onde as insônias que apavoram,

Nascem em noctívago, vital anelo  
Uma Eterna noite, que mataria mil sóis
E me trancaria em goticismo flagelo:

Aristocrática a sinfonia do pesar:
É Solitude da mente mouca de heróis
Verbos que libertariam do fantasiar.

Bruno Borin

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Derrota


A aprendizagem que me deram? Eu desci dela pela janela das traseiras da casa
- Álvaro de Campos - Tabacaria


Perdido em pequenos timbres de ouro
Navego no sonho com um luar errado
Eu sou o que falta na paisagem cristal
- Amontoado de vértices em verso branco
Onde singra rubro, o tropel das vibrações 
Em ritmos iriados como mandamentos...

Ó luar errado, queria acreditar  na ciência cosmopolita dos signos
 - Mas esse cansaço, como uma súbita e inexplicável ternura
Bruma o meu entendimento desgraciosamente!
E como num grande espelho quadrangular, vejo-me
Sentado a sorver o pior da humanidade, e um punhado de @@@@

Que vértices cegantes! Que calor desumano! 
Caiu um prédio na minha vida! Ninguém nem reclamou!
Eu só lembrei de baloiçar o pasmo de minha alma
Estirar uns tapetes para mais um assombro, como outros que receberei!
Mas o que sempre quis era vomitar a minha própria carne
E ver o Jaquaribe da minha vida escorrendo pela calçada

Que erro, eu nunca mais me imaginei enroscado nas serpentes do sentir
Mas estavam lá todas as mambas, Álvaro estava certo o tempo todo!
O Cansaço desbota os cetins do nosso espírito...
Ainda lembro das minhas garras de marfim e do sonho branco
Que me levavam para um êxtase infantil e prateado
Um Lord reduzido a imagens e montras com a minha dor estampada!

Hoje choram em mim cores perdidas, rimas rejeitadas
Todo um estilo de ouro esquecido, arrancado de memórias tristes
Dos poetas de outrora, gente desquitada da vida
Gente que queria virar gramaturas cansadas e arfantes
Acordes de uma Paris ainda viva e cintilante,
A latejar cristalizações enevoadas e difusas, e um cansaço
Um espasmo cardíaco que dói mais na alma que no corpo
´
Ó lua errado, me desculpe! Não tenho rituais a oferecer
Porque não há nada que possa fazer pelo Tehom do meu Vocabulário!
Veja, toda essa beleza inatingível... Não é para mim!
Eu que sou um punhado de cordas partidas 
Queria atapetar uma escada, apenas para rolar nela o meu corpo torcido
Porque mesmo se levantasse da cadeira e vivesse
A Beleza passaria por mim, mas eu jamais me tornaria a Beleza...

Bruno Borin