domingo, 28 de janeiro de 2018

Fly me to Zenith



Do ofício e do artifício conjugados
como o faro e os cães, no dia de caça,
resta a fronteira sonora que atravesso
transformado em sintaxe.

- Lêdo Ivo

Para além do mundo
Meu olhar tece uma vida
Firmada em imaginação
Uma fauna que não contém
Somente leões e tigres
Mas Quimeras e Unicórnios
Povoando florestas jamais visitadas
Porque meus milênios dissolveram-se
No pó dos poemas épicos do passado
Onde a história e o mito se confundem
E os deuses já corpóreos, lutam nossas batalhas
E o descalabro da vida vence as leis nefastas
Que se publicam com o aval do dinheiro
Vivo num horizonte expulso de expectativas
Primoridial como o Oceano, meu desejo
Se inscreve nas tabuletas do Eu 
Como os feitos de Gilgamesh
Foram escritos nos registros Acádios
Mas não esqueço de olhar com tristeza
Para este meu país palustre 
Onde multidões mastigadas
Se divertem enquanto a poesia ecoa
Muda, tetraplégica na alma dos homens
Porque se a poesia salva um afogado
Deixou morrer Li Bai, abraçado à lua
Me deixando desprovido de símbolos
Apenas eu e o céu vertiginoso da escrita
Navegando no fel da estrelas mortas
Zênite ou Órion, soletrando a ferrugem dos dias
Em lágrimas calcinadas pela chuva...

Bruno Borin 

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