À Bocage
Não logrei cantar meu amor
Tão bem quanto os trovadores,
Já a saudade, quando flor
Cantei-a tão bem em ardores;
Não glosei da vida, o mote
Mas bebi do cálice servido,
A cantiga seguiu sem nome
Na alvura dos dias vividos,
Não logrei viver a mocidade
Como os velhos cancioneiros.
Eles construíam vastas cidades
Em seus finos romanceiros:
Vicejaram os frutos vindouros
O Vate ganhou o amor professado,
Os ais não foram mais de agouros;
Contudo o medo não foi translado!
Não rebentaram os versos d'amor!
De que vale roubar de Camões
A Aurora a despontar das monções,
da carcaça do gigante Adamastor;
Se dos altares dos afetos, registro
Não possuir; e em nobres acordes
A cítara não sucumbir ao estro
Dos mais bonitos e reais recortes?
Já que em livro Celeste, meu nome
Tenho proscrito, caberia em versos;
Em mote e glosa, mesmo sem renome,
Ter dedilhado meus dias dispersos...
Bruno Borin
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