quinta-feira, 20 de julho de 2017

À Marquesa


À Marquesa de Alorna (1750-1839)

Quanta dor e delicadeza adorna
A vidinha da Marquesa de Alorna?
Viu perecer condenada a família; 
A infância foi de pesar e vigília;

Produziu na fantasia sua salvação:
"Quando sonhou, foi ditosa,
Dizia: Sem o ser em realidade"
Em sua dor, via-se horrorosa!

Amor não acalmava-lhe o coração.
Alcançava sua individualidade
Quando lia ou dormia, na ideação.
Escrevia a mágoa com credulidade!

Passou metade da vida enclausurada
No convento, floresceu bela na poesia
Tão forte quanto do inimigo jurada;
O vigiar de Pombal, ódio lhe incutia!

Quantas mulheres, em infortúnios 
Lançadas, por nascerem malogradas?
Embora, suas luzes tão bem apagadas
Ainda esperam paz num novilúnio!

Mal sabia a Marquesa, brilhava
Mais que qualquer saudoso luar,
Com o coração dolente, cantava
E fez das palavras a arte de amar!

Bruno Borin

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