quarta-feira, 12 de outubro de 2011

(Des)sentido das coisas

I
O som da agua corrente
Me provoca um leve devaneio
Onde as copas das árvores em plêno veraneio
Florescem prateadas e sem formato aparente

Uma só luz sombreia esta manhã
O desdobre da memória marítima
E o sentido íntimo que legitima
Uma pintura artesã

A figurar no âmago como um vaso que se parte
Em mil saudosas imagens
Que saltam do além para o além como miragens
Sem justificar-me, deixo que minha alma delas se farte.

II

Que metafísica tem as memórias?
Se estas só duram enquanto há funcionalidade
Em toda parte do cérebro que tem por finalidade
Nos fazer os humanos pensantes, exploratórios
De toda a criatividade que nos colocou em civilização
Em organização e posterga nosso fim
De modo sem aparente esmo aos moldes do capitalismo
Minhas palavras toutinegram já sem ismos
Para a retórica que preciso para este motim.

O Tejo que percorre minhas veias
É o mistério das minhas entranhas
Que remaneja a cada gole o sentido das coisas
E me leva a pensar que as coisas são os únicos sentidos...
Das coisas, mesmo que sejam dispersas como a mordedura de um bicho
Mesmo que sejam finitas como nós
Mesmo que sejam oniscientes como Deus
Ainda que sejam vãs como alucinógenos
Ou acolhedoras como as flores e as ramagens

Me encontro praguejando algo que não tenho certeza
Como ter certeza de algo falso sem sabê-lo certamente?
Penso agora em grandes montanhas, grandes mesmo
Tão grandes que seu gritasse, elas não escutariam
Indiferentes de tão grandes, indiferentes e arrogantes
E eu cínico querendo ser visto, apreciado, sei que não sou
Afinal sou tão diligente quanto sou ébrio, então nem sei
Tenho receio, leitor, de que na dialética, perder o efeito
Pior, de perder o sentido, sei muito bem que falava do mar
Algo saudoso e tudo mais, mas agora inespecifico pensamentos
Pensamentos que constantemente bruxuleiam minha mente ébria
Como uma caverna preenchida pela maré
Dói erguer o olhar e o destino ser avistado como um leviatã apodrecido
Mosqueado de incertezas e pavores que nos rondam
Como rondam os delírios martirizando a sanidade dos loucos
Em busca do fim do efeito dos opiáceos
E assim bebo em cima de remédios e me repoltreio nos incêndios
Da minha inocência, da minha breve liberdade e da minha constante insanidade!

By: Bruno

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