segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O riso dos deuses



O vento errante levanta nas horas mágicas da noite
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha
Como uma força invisível a impor o seu desejo sobre a Terra
Antes que mentes que fingem consciência procurem significados diversos
Antes que examinem a elegância secreta dos atos soturnos da noite
Em um tão remoto antes que talvez achem isto tudo um absurdo inexistente
Mas ainda em um antes indefinido
Num sentimento inexpresso
Longe de caminhos e de metas senão a de errar
Numa lucidez sufocada por um riso escarnioso

E o som não é de vento! É apenas um som abstrato
Sem verbalismos;
 E sem verbalismos sobre a cor da poeira também,
Pois só o que corresponde a algo humano ali é desassossego
Nada foi sentido, nenhuma imagem foi arremessada aos olhos senão aos da noite!
Nada foi ouvido senão somente pelos ouvidos da noite!
Ó experiências sensoriais engolidas pela imensa ausência da noite!
Num só antes! Um Difuso, profuso, inexorável e imponderável antes!
Ó concupiscência inorgânica e arfante daquelas horas, tão efêmera!

Me disseram que todos perderam uma bela peça de estética sublime!
Também me disseram fatuidades sem propósitos, traços amórficos...
Dizeres irrecordáveis sob a luz cansativa da alvorada

Me disseram com vozes vagamente oscilantes
Como se seus sussurros se empilhassem em meus ouvidos
Pouco antes de abrir os olhos;
 Como se não pudessem controlar o desejo de contar
A alguém, alguém que também pertencesse a uma irrealidade latente
Alguém que já ouviu falar das assombrosas horas da noite

Horas impertencentes à qualquer memória senão a da própria noite!
E embora ela seja abstrata demais para apreciar tal diletantismo
Eu prefiro acreditar que ela ficou espantada com essa surpresa!

E sabendo disso, vertendo-se em apenas lumes azuis rodopiantes,
Os Deuses riem num misto de escárnio e tédio...    E sopram...

By: Bruno

Um comentário:

  1. Boas as imagens de expressionismo mórbido e mitológico neste poema, senti algo épico como se essa poesia remetesse a outra era apesar de também ser atual conforme as sombras do mundo em que hoje vivemos, vejo que continuas escrevendo com primor Borin e fico feliz, um cordial abraço.

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