Não só o passado das espadas
Do sangue e da guerra
Mas aquele passado, onde a dor
Fazia a vida ser vista com mais primor
Onde o trágico era escrito por poetas
Que se doíam mais que a humanidade inteira
Era gente que morria, mas não importava
Mas se o amor morresse, sim morria a vida
É deste passado que falo, que sinto
Como dizer de um mundo líquido
Onde não se sente mais nada?
Tudo que quero é enterrar-me
Em sentidos, nem que seja
Em garrafas de vinho, mas não quero
A poesia sem dor, não quero uma vida sem amor
Sem o compartilhar dos dramas, das aventuras
A vida bruta e seca eu não mereço
Renunciaria a acordes finos
Por um verso quebrado mas verdadeiro
É dessa dor que falo, quando quero
Um passado no meu futuro
Pois sou responsável pela minha dor
E tão por ela vivo, que amo a poesia
Que amo quem amo, porque sem amor
Não se faria versos de dor
Não se viveria de todo.
Não, não é preciso falar de Deus
Porque se Ele existe, existiu sem nós
Sobreviverá intacto ao poder das eras
Que deveras criou
Mas é preciso falar do amor
Porque se não o sentir
Como confirmar que este corpo de carne
Sente mais do que a fome que o aflige?
Como viver sem querer junto aquele
Que lhe é parecido, ou que fala que sente
Aquilo que procuramos em nós
E que só o outro pode achar?
Porque é pelo poema que se morre
É pela voz que se cala
Que a vida se esvai
Até que só soçobre o branco
Que nos cobre como a primeira folha
Que manchamos com nossos primeiros poemas...
Bruno Borin
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