quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Pigmento


Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?

Fernando Pessoa - Chove?... Nenhuma chuva cai...

I

Quando o azul do céu foi dado;
E em meu cabelo colocado
Até ser uma palavra do meu corpo
E o sonho descansar ondulado e absorto,

Passei a ser o abrigo mágico das cores,
E o deslumbramento, exilado do real
Que o muito oprimia, matando seu ideal
Aprendeu a tatuar, no silêncio das dores

A experiência da viagem que é amar;
Florindo mais brilhante a cada toque,
Onde os beijos, cetins de fogo, a bradar,
Cultivam os alicerces de um novo norte.

II

Se a liberdade for uma loucura 
E o amor um alienado devaneio
Quero me embebedar dessa cura
E me fartar de alucinações deste seio,

Pois agora que caminho diante da luz
E os dias não me são opressões cotidianas
Quero fazer invejar a notívaga Diana
Cujas caças não fogem das dores e da Cruz;

Quero de Hécate a magia dos dias vividos,
Para dar a quem amo a certeza de ser 
Tudo que poderemos juntos promover,
E que seja a poesia o leme por nós movido!

III

Que os céus se desfaçam, os governos colidam;
A moldura mortal crepitada por sagrada flama
Seja; em sonho acordado ou na paixão ufana;
Conquanto que faça de vida intensa, a urdida trama,

O cenário que se tece será de amor fati, fustigado;
E a Morte perderá seu domínio, sendo a primavera
A grande lei. As cores invadindo as copas austeras;
Os nossos corpos limpas telas para o futuro comungado!

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Quando o azul do céu foi dado;
E em meu cabelo colocado,
Flori, não mais corpo remendado;
Mas alvorada e crepúsculo,
Um Mundo todo, reinventado!
  
Bruno Borin

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