segunda-feira, 29 de junho de 2015

Desfile


Saltando direto do deserto de betume,
O oceano de luto deposita fantasmagorias
Em meus olhos, como se a ausência de lume
Atraísse às flores atrozes, as decompostas árias

Da multidão em desfoque, fazendo desfilar,
Na possessão das aristocracias vocabulares,
Mnemósine, tecendo-me os rostos a vagar
Nos corredores arredios, aos milhares,

Em um mundo eternamente carbonizado,
Perto dos velhos refúgios e das velhas flamas,
Fazendo ouvir seu crepitar dissimulado
Ao degustarem as vozes restauradas

Das harmonias que compõem as inspirações,
E as experiências inéditas, com esplendores
Coloridos demais para estas multidões,
Que se espargem cinzas diante dos fragores.

Sem altar, a Memória, opulenta conspira
Sua ornamentação nas seivas do intelecto.
Tragando em claridades impassíveis o aspecto
Dos ardores da culpa que perfaz a Pira, 

Tão sólida quanto Sua flava Coroa. 
Embora, a inflexão da finitude 
Se ajuste ao meus ritmos, 
Já não me faz vítima dos algoritmos 
Caçadores da eternidade.

Bruno Borin

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