quinta-feira, 22 de maio de 2014

Vida de papel


Brincando com lonjuras
Me perdi de mim, afoito
Dilacerado das loucuras
Da lucidez, o gesto maroto
Deixa a alma livre, a pender

Revelando a faísca de poesia
Que me aproxima do mundo,
Me tira dessa terrível maresia
Da monotonia perpétua, sem rumo.

Viro uma rua, deságuo em saudade
Cruzo uma avenida, me atropelam
Com uma fanal urgência de sobriedade,
Sobre mim, horas sonâmbulas se desmontam

 À noite, todos os fatos são pardos
Como sei, as certezas, nuas, são unas
Posto que a Verdade, é sempre nula
E a vida a se levar, um fardo.

Ideias, equívocos, florescem e assombram-me
Com suas formatações cruas, estranhas
Deformando minhas rústicas entranhas
Tal o desdobramento de uma singular orbe 

Essas virtudes só enchem-me de sede,
O infinito dos caminhos me pesa
E a efemeridade me constela na sebe
Doentia da ventura, cultivando minha defesa,

Posto ser minha ingênua natureza
A de sugar das essências da beleza
Suas diluentes espiritualidades
Para compor lágrimas de saudade

No mais profundo borbulhar latente
De um neblinamento sulfuroso
Do coração que feliz e triste sente
Um temperamento chuvoso.

Na cadência da rima, me redescubro 
Vário, completo, nesta vida de papel
Cheia de latitudes difusas, futuros
A se perderem de vista, como ao céu
Fitar e se encontrar ao se esvaecer!

By: Bruno


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