segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Minha Terra


Minha pátria é onde os prédios impávidos
Denigrem a vida dos homens, e estes nada sentem,
Vivendo em simulacros de sonhos esquálidos,

Tendo sorte no azar, ao negociar a vida
Nos bancos, consignando em suas hipotecas
O lucro dos capitalistas e seu desprezo por bibliotecas

Minha cidade tem um céu tão inocente
Que recebe as fumaças alegremente,
E nem imagina que está ficando todo asmático,

Continuando a mostrar uma ou duas estrelas
Guardando o resto delas em seu egoísmo infante
Reservando para si as musas mais belas.

Na minha terra, as poucas árvores apostam corrida
Com os metrôs lotados, numa manhã florida
Enquanto o sol mata de sede os vagões estacionados.

Num rigor planetário, os aviões nos perpassam
Pousando sua constelação parafusada
Nas lâmpadas que em seu caminho se avolumam. 

E nos alimentam, os supermercados
Com uma flora e fauna pasteurizadas,
Requinte químico da modernidade cancerosa;

E alimentados seguimos nossa jornada fadigosa
Perseguindo a eternidade - vagão sem trilhos
Que jamais alguém embarcou para ver frondosa

A paisagem cinzenta onde demolição e construção
Se confundem em um mesmo feitiço
Não podendo ser resumidos a um cálculo inteiriço,

Embora as pombas sobejem um firmamento reconstruído
Voando com suas penas sujas de graxa e óleo de motor
Tudo o que elas encontram são seus ninhos combalidos

Pelos homens que as têm como roedores praguentos
Sem ao menos ter semelhantes, qualquer traço ou odor 
Apenas bicos rústicos e pezinhos nojentos...

Nas feirinhas, todos compram uma Vênus de acrílico
Para dar de brinquedinho às menininhas, 
Antes que os fiscais confisquem os lucros fatídicos,

Enquanto muitos aguardam a permissão do semáforo
Para respirar novamente o monóxido de carbono
Que nos carbona as hemácias sem qualquer abono...

Na volumosa e líquida São Paulo, as estações
Não chegam a borrar as inflações do Real;
Os helicópteros patrulham os acidentes feito arribações 

E a vida é orgulhosa como um defunto putrefato 
No paraíso dos homens, o happy hour leal
De cada dia desprovido de sentido translato

Na metrópole, minha terra, eis o fato
Não passo de um punhado de algarismos
Sou um, sou todos, como dizem os meus aforismos

Amo, recebo, compro, como, sou estatística
Preencho um cadastro, passo a existir
Com ou sem metafísica.

By: Bruno 

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