domingo, 13 de maio de 2012

Linhas


Odeio o movimento que desloca as linhas
Desordenando por vezes os silêncios das cenas
Gotejado pelas lágrimas das multidões que acenam
Como as marés que não se comovem com estas ladainhas

Dissolvendo a membrana que envolve a ilusão da sua voz
Eu tento não devorar mais uma vez o torpor deixado
Sem motivo ainda tento desvendar as cores do lume manchado
De cada estrela oculta por este negro estandarte segundos após,

Cada palpitação desta medrosa arritmia, abandonar-me cada vez mais
Ao langor da incuriosidade e do descompasso dos dias baços 
As exclamações tornam-se delírios distantes a perder-se de tão artificiais,
Toda vez em que leio nos raios de sol a harmonia do cansaço

Rindo com as vírgulas que brincam felizes tal como passarinhos
Consigo adornar minhas dores com a distração do cotidiano
Derreto o fogo docemente para formar um número palaciano
Até que as flamas sejam apalpáveis e rescendam os burburinhos

E os suspiros doídos dos meus maiores medos, na minha alma,
Aquietados, entretidos pela suavidade crepitante da madeira
À deriva dos transtornos das estações e das sepultadas caveiras
Das memórias já esquecidas que por vezes retornam, por vezes não!

Eu amo a cruzada que as bebidas geladas fazem em nossas gargantas
Tornando acessíveis as cantigas antigas e os versos mais modernos
A mim, a tortura sutil das pequenas alucinações; a elas, uma pureza santa!

Enfim, eu odeio o movimento que desloca as linhas
Porque a eternidade que nós tentamos conquistar 
É uma diva estéril cuja simetria é torta como uma igrejinha!

By: Bruno

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