quinta-feira, 12 de abril de 2018

Derrubada


Ah saudoso Jaguaribe, Rio de minha vida 
Águas imaginárias em que nadei...
Águas em que correm a força de Tupã
O sangue do trovão sem tempestade!

Queria ver-te mais uma vez cirandando, 
Sem o progresso da civilização 
Arco e flecha sem rumo de morte
A pureza livre de um verso inocente!

Dançam nas cordas o hiato das eras
Yamandú catequizado reza o terço
Empurrando as nuvens do céu 
Para dar sol às tíbías Caapongas 
Botões de cura em tempos negros...

Mistérios da língua Tupi, caraguatá
Para quem sabe da chaga e do luto,
Mitos que morrem entre balas e anúncios 
Mata derrubada, Adeus Poti...
Iracema é morta!
Rubra cor pinta as margens
Do saudoso Jaguaribe...

Bruno Borin

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Da pulcritude


Meu amor, quantos abraços me deste?
Navegando em azul oceano, sua luz,
Tão estimada! Foi meu grandioso leste;
Contra o destino traçado, nada opus! 

Contra mares avessos singrei corajoso
Tendo seu ideal como coloridas velas.
O "preparo do céu" se fazia bem jocoso;
A tormenta não abalaria as Caravelas!

Mas segui avulso ao país desconhecido,
Içei velas aos quatro ventos da inspiração;
Ao seu mundo adentrei e hoje, unido,

Persigo as ramagens etéreas da criação,
Onde a pulcritude ramifica absoluta;
Os gestos de amor são mais que conduta!

Bruno Borin


domingo, 1 de abril de 2018

Lembrança de Ostara


I

Viviam em uma época lúdica e antiga
Um pássaro lindo, de azul plumagem
E uma deusa amável, digna de cantiga;
Eles brincavam com crianças na folhagem

Pousada a cantar, a ave de tão mágica
Quanto a deusa, sua melodia de amores
a transformou em um coelho num átimo;
Todos celebraram o feito com clamores!

Passaram as estações, a lebre triste,
Triste ficara, nem a deusa podia ajudar 
Sem poderes durante o inverto em riste!

Quem sabe na primavera, a deusa forte
Pudesse de volta a ave transformar? 
Dito e feito! Floriu o tempo de sorte!


II

O lindo pássaro azul pôde cantar e voar
Novamente! E em felicidade real e suprema
Quatro ovos botara! Num ninho de alfazema,
Para cada estação do ano nunca se olvidar!

O pássaro, após algum tempo, em lépida lebre 
Retornara! Agradecido seus tenros ovos pintou 
Para os quatro cantos do mundo os distribuiu
A deusa tão enternecida, em seu trono de sebe

Reconheceu o ato danoso ao arbítrio dos seres
E tatuou no rosto da lua esta bela mensagem
E até hoje podemos ver estes belos saberes:

Uma silhueta de coelhinho, em nome de Ostera!
A Era de Ouro nos lega esta inocente imagem...
E Contar uma historinha destas, quem me dera!

Bruno Borin