quarta-feira, 28 de março de 2018

Derruído


O pranto é uma dança morta
Cor sangrenta de artista
Altar dos sonhos catatônicos
Onde o corpo, sudário de pele
Demarca em gotas de fogo
O sentimento vago e líquido
De não se conhecer tanto assim...

Não sei se moro na chuvosa saudade
Ou na quente presença do amado
Não sei se é falência das coisas
Um eu sempre se esboroa
E dá forma ao poema incógnito
Laivando meu corpo de algo manifesto
Construído ao acaso, do não saber
Daquele precisar escrever 

Nada sagrado arranquei com as mãos
Apenas uma cacofonia metrificada
Que me guia até você
Me convidando para um baile às cegas
Onde nosso corpo real baila
Em procissão, bordados em oiro
Miragem aguada metida em lã vermelha
Desfolhando chuvas sem molhar

Ahh... Deuses do amor 
Dentro de suas estátuas derruídas,
Já sentiram tal saudade?
Tal amor sublime e vivo dentro de si? 

Redemoinhos do meu sentir
Me preencham de phantomes
Recuso a luz branca e vazia
Não me larguem de você, amado!
Porque não sei mais ser sozinho...

Bruno Borin