terça-feira, 20 de setembro de 2016

Elegia para o ser amado



                                                                  À João V.

Me despi do meu céu até meus sonhos ficarem limpos
Larguei a máscara de carne manchada de utopias 
E andei com passos frágeis até alcançar o teu corpo
Sem medo de dormir nas garras do mundo.

Contei a razão de carregar lágrimas pesadas demais
Quando a minha vida roçou a tua vida 
E nossos corpos juntaram-se com tudo que sentíamos
Assim descobri o quente pranto de ser amado.

Meu corpo já não comporta antes ou depois
A fome de agora é a fome de tudo que há em ti
E na tua boca sou ave a cruzar um novo horizonte
No teu corpo sou horizonte a permear outra Terra,

E descobri a poesia de inventar a vida e semear sonhos
A apreciar a pequena morte que há na tua partida
Cultivar a presença na companhia da saudade tua
E a eclosão de um novo eu a cada contato com teu ser:

Assim, aprendendo a ser eu a cada dia, quero erigir
Uma só vida contigo, na cabana sonhada morar
Mesmo que eu não mereça o tempo; e a eternidade 
Me roubar da tua presença, quero ter a sorte
De morrer vivendo num mundo que seja habitado
Por teu mais completo ser, aroma, cor e identidade.

Bruno Borin

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Liberdade


Cenas de um mito,
Grilhões quebrados:
Livre voo inaudito,
Longe das muradas

Babéis, nos tumulares,
Sentires que pisam,
No sabor dos pesares,
Que presas transitam.

Que querer do sol,
Quando cada estrela
Cintila lá do arrebol

Uma nova e tão bela,
Canção de lira singela,
Nos povoando de cor boreal?

Bruno Borin