sexta-feira, 24 de maio de 2013

Nova teoria de pássaros


Alguém me gritou de dentro de uma poesia
Que a vida é breve e cabe inteira e completa numa pétala

Vi-me, então, compreendendo desde cedo o idioma secreto
Das lágrimas, vedado ao berro regressor e prepotente

Mas no caminho, me perdi na fronteira entre sonho e realidade
Onde é tudo azul  e ninguém mais tem adjetivo de morto ou vivo

Só o vício de ser orgânico combinado com inorgânico;
Ter nas mãos a eternidade mas não ter matéria para segurá-la

Eis que uma pomba, portando a procuração do céu
Zomba de mim, itinerante cartorária dos seres voantes

Não me importei... A lembrança do grito me fustigou a visão
Conectei isso ao signo que as folhas me desenhavam

Então tive um norte provisório, carimbei no passaporte
E bebi do vento a direção, me juntei aos que voam

Porque os que andam me entediaram, me rejeitaram
Não se pode ter duas pernas e uma asa só

Só se pode ter pernas ou asas, desejo aqui é infungível, viu?
Só vogais e consoantes se misturam, asas e pernas, jamais!

Mas sabe? Eu já quis ser árvore, quis abdicar da leveza
Quis raízes fortes e impregnadas do lenho pivotante do legado

Mas, me resta a metamorfose, ante ao ocultismo da palavra
Ou à sobra da revelação do texto diante dos leitores

Resumo a transparecência do meu desejo
Numa singela camélia, bailarinística Camélia, confidente flor

E em meus braços, não cabe a ruína aurórica de tudo 
Que eu quero preservar, de tudo que eu não queria abandonar

Me resta então arguir à fogueira que queime brevemente
Toda a metafísica que há na fábula que sonhei

Porque há na fábula a exatidão da mensagem
E eu prefiro a incógnita incipiente

Do polinômio oligofrênico,
E da ignorância sem freio

Daí nasce a experiência somática
Das dores do mundo, sem a pressa do tempo

Eu sei, eu sei! As corujas devem escutar muito bem
As irregulares batidas do meu coração

E pensar cada besteira dos meus pulsos 
Queimados pela purgação da mora da minha eternidade

Eternidade que eu sempre negarei
Com passos errantes de menino

Porque eu nego o tempo! E com os olhos que tenho
Não distinguo o que foi do que virá!

Bruno Borin

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