sábado, 10 de janeiro de 2015

Vida de papel


Brincando com lonjuras
Perdi o gesto maroto,
Dilacerado com as loucuras
Da lucidez, deixei a pender
A alma livre de raízes

Revelando a faísca perdida
Que me aproxima do mundo,
Retirando essa terrível medida
De cacofonia absurda e sem rumo.

Viro uma rua, deságuo em saudade,
Cruzo uma avenida, atropelado sou
Pela fanal urgência de sobriedade,
Minguado pelo que das horas restou.

À noite todos os fatos são pardos
As certezas, despidas, são unas;
A verdade, esta é sempre nula!
E a vida a se levar? Sonoro fardo!

Ideias, equívocos, florescem em mim
Com suas formatações cruas, estranhas,
Corrompendo as vozes do meu latim;
E as tecituras das novenas tacanhas

Me percebem em tal ingênua natureza,
A de sugar das essências da beleza,
Suas diluentes espiritualidades
Para compor tais lágrimas de sinceridade:

No mais profundo borbulhar latente
De um neblinamento sulfuroso;
Do coração que feliz e triste sente,
Um temperamento eternamente chuvoso.

Bruno Borin

Nenhum comentário:

Postar um comentário