Na tapeçaria do espírito
Não sei o que poderia bordar;
No dorso da melodia a porfiar
Singeleza ou rito, o pouco bramido
Me retira da moldura, de onde,
Pregado, seguia no ritmo cadafalso
Desta caligrafia, tinindo por algo
Áspero, como das grades ao fronte.
Os começos não mais se distinguem
Dos finais, onde as fitas se enlaçam,
E as lembranças perdidas me oprimem,
Tingindo os céus que se desembaraçam.
Ignoro flores e caminhos, absconsos
Pelo horizonte sombrio e latejante,
Entediado com o pouco que ouso,
Na linearidade da quadra jactante.
Solene é a decadência prostrada,
Dentro de um traçado projetado;
O que aqui nasce, nunca a estrada
Cruza, antes de ser caprichosamente alvejado.
Ao mirar no céu, aquele pequeno furo
Que tem solitariamente me acompanhado,
E comigo compartilhado delírios de futuro,
Mesmo sabendo de meu corpo fustigado.
Me pergunto o que tanto alumiava
Com a flama, senão eu mesmo?
Tentando ver o que atormentava
Ou apenas gritando contra o tempo.
(Lapidando com tanto esmero)
Se as coisas como as vi me esquecessem,
Queimado seria pelo que deveria ter sido.
Andarilho dos círculos que, ao se esvanecerem
Levam consigo o que têm me constituído.
(Configurando a exegese do exagero)
Bruno Borin