segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Versos morféticos


                                                  A Augusto dos Anjos

Eu, porta-voz de Augusto
Todo sofreguidão e Andrajos
Não possuo asas de Anjos
Nem vergonhas em meu busto

Prostrado debaixo do Tamarindo
Sigo em passos tortos, apenas rindo
Na euforia numerológica dos loucos
Vendo os poemas correrem soltos.

No diapasão das verdades eunucas,
Ouvi tantas mentiras e putrefatos nuncas
Que à todas as hermenêuticas negativas
Me acostumei, tragando a matéria viva.

E como todas as imprecações, a poesia;
A verve anímica de toda experiência,
Verte sem qualquer anunciada prudência
O soluçar empolado de todas as maresias

Dos sintomas e assombros do século,
Da libido e seus proibidos ecos
E de um Deus morto e soterrado
Enquanto soçobram os erráticos

Passos, em madrugadas angustiantes
Onde o que resta é engolir as viciantes
E perniciosas águas amargas como a vida
Passando as idades de forma entorpecida.

É dentro da substância unívoca da alma,
No telurismo do ambíguo sentimento,
Que o mundo e seus arrependimentos
Desaguam em solstícios de pele alva,

Posto que a mais brilhante das luzes
É responsável por nos jogar nas escuridões
Mais escuras, onde os mistérios das cruzes
Se tornam a mais abstrusa ciência das multidões.

É no jogo de cenas e sombras que mingua-se,
A vontade de progresso e os ardis do destino;
Fazendo reinar fastidiosa, como um cassino, 
A fauna das crenças em extasiante melindre.

E aqui, na recitação da crônica do mundo
Não revogo minhas nevroses; convulsas
Abstrações e indolências e; ciente, as retumbo
Nestes versos trágicos, onde as avulsas

Ideações tomam formas verborrágicas
Para retratar a música disfágica
Que neste mundo sangra incontido
Nos blasfemos comportamentos vocativos
Para a desgraça e destituição do ser. 

Bruno Borin

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