Mas será pedra só pedra
Mesmo lapidada,
Não passando de Agedra
Na terra fustigada?
Sim! Uso da fórmula matemática
Para que meu tracejo reflita a aptidão
Da língua, que advinda da humana razão,
Trabalha de forma tão fluida e prática
Na boca do cotidiano e das gentes
No seio da vida, ao sol a pino,
Nas ruas sem destinos aparentes
Entregue ao relento do ensino!
Que me interessam os campos harmônicos,
Enquanto meu povo padece agônico,
Na singeleza de uma vida severina
Em que a criatividade atua tão sovina?
Uma faca que corta o corpo do poema
Assim espero, a partir do vomitado floema
Surgir as ideias digeridas, no osso e na língua;
Uma infecção ramificada na voz, na íngua.
Uma bala que rompe da voz e singra
No mar das palavras, à procura de concha
E flor, mas só encontra a matéria absconsa
e desamor, do desprezo e da náusea?
E o relógio que canta feito o galo
O ensinamento do tempo, que rarefeito,
Esboroa em duas pontas de uma corda estreita
Morte e vida, bebida socada no gargalo!
Este é o poema, nada de alma a pulsar
Sem escalas e compasso,
Só esqueleto trôpego a se movimentar
E uma faca só o aço.
Este é o poema, cadáver a remendar
Sem familiar traço,
Restando o corpo inerte a putrefar
E uma bala vertida no ocaso.
Este é o poema, nada a declarar,
Um relógio, eterno atraso,
Toda vida e lembrança a se ruminar
No omaso deste descompasso...
Bruno Borin
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