Quando os anjos se resguardam da profundeza sombria do mistério
As baratas tornam-se mariposas vermelhas a rondar a lua
E os movimentos do fauno se tornam imprudentes, a noite extenua
As forças precisam repor-se, é momento de se apagarem as luzes sem critério
Cobrir o corpo com inúmeros cobertores para reunir os sonhos
Desejando todas as coisas que a realidade não permitiria
Afinal noite após noite, nenhuma mente aguentaria
Flamejar entre todos os negrumes medonhos
E dentro do sonho os bosques verdes tomam uma forma monstruosa
Os lagos tornam-se sangrentos e o céu se cobre com trevas vertiginosas
Esbanjando a mais obscura das luzes sob o adorno de tristes assombros
Vertendo esta como a mais fúnebre das noites, que infames escombros!
Ávido é o coração de desejos e mágoas
Mas nada que a solitude confirme, arrebatadora
O amargo perfume da finitude humana, embora
Todas as manhãs, o despertar é natural como o fluir das águas
O céu uma vez esplendoroso, agora trás em meio aos lampejos
O medo que os galhos à janela se tornem entidades
A completar com a clássica aversão à claridades
As lâmpadas não acenderão, mas que horrível malfazejo!
Não?
A valsa habitual dá lugar a um som fantasmagórico
Nada consegue prosseguir de forma lógica
O medo que domina encanta o espectro que cobreia
Trazendo tal perdição, uma maldição que deixa a alma cheia
A questão é, a esfera do medo, deixa de ser antológica
E passa a ser tenebrosamente eufórica
O desejo pela alma chega a ser tão voluptoso
Que é difícil a euforia ser contida
A alma do humano há de ser consumida!
A escapatória é agora inexistente, quase aquosa!
Não há aqui anjo cruel o bastante
A crueldade humana fala por si, é nobre
Ultraviolenta, paradisíaca, amarga, pobre
De mentalidade, bom só o ódio responde, outorgante
O terror descomedido é arfante
Pobre alma que perseguida
Perderá sua inocência, num ato tão desplante
Só pelas trevas irriquietas será acudida
Vorazmente devorada, com tal rancor pronfundo
Querendo reproduzir a forma brutal, que assassinato imundo!
Bom dê uma olhada, os vivos são engraçados
O seu ballet de medo é tão cego
Belial há de se divertir sádicamente e sem apego
Coisa que eu não posso fazer, eu me sinto atordoado
Não à dor que sentem, mas ao desespero
Meu enjoo é verdedeiro, juro, estou alcoolizado!
E cá entre nós, hei de levar um bom número de humanos
Comigo, independente de qualquer Onryo* presente
Que não tem noção do Rimbaud em mim, ainda crescente
Será que aguento este acúmulo de enganos?
By: Bruno
Onryo: Fantasma que busca vingança, comumente apresentado em lendas japonesas