domingo, 1 de fevereiro de 2015

O dom da perda


Penso em todas as coisas que perco
E que jamais caberão em um soneto...
Que sei sobre a vida, a não ser o passar,
Onde os segundos, minutos estão a escoar?

Quadras e quadras distantes, a me levar,
Copos e copos a degustar, incoerentes,
Fazem do despir e da exposição um ente
Tão presente quanto o verso a rabiscar

Onde quero transitar? Por pontes invisíveis
Ao palpável desatino? Ou de mãos dadas
Ao infinito desconhecido? Ambas tão atadas
A uma coleção de tramas mágicas e intransponíveis!

Em um verão como esse, brancas são estas escolhas;
Fosfóreas luzes a bramir em uma noite sem estrelas.
Ponto-cruz, creio que seja o meu, e mesmo à desfolhas
Sigo derramando o bordado de um dia sem parcelas,

Desejando algo que tramitasse entre meu querer
E meu sentir, envolto em uma luz que o escurece,
Mas apenas transito entre pontes que esmorecem
Mesmo entre luzes, os artifícios não pavimentam o ser.

As silhuetas primaveris se esvanecem perante 
O banquete das vidas que me comemoram
E as inspirações que sempre férteis, se afloram 
Dançam no vazio do sentimento errante.

A lição das flores é bem clara, suas fragrâncias
São o presente de uma vida bem vivida.
Com o coração quebrado, não tenho saída,
A não ser semear na palavra, minhas infâncias...

Bruno Borin

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