Sou um recorte tirado
Das páginas secretas da vida
Rascunho revirado, remontado
Composto de letras perdidas
Incapaz de amar o amor
Surpreso com o misto torpor
Das entrelinhas envolvidas
Por estrelinhas enternecidas
Colocadas em discreto santuário
Imersas num imenso vocabulário
Quadras que conectam o desejo
De harmonia, em belo ensejo
De quebrar o sacrílego conforto
Da pureza em braços de vidro
Envolvida - Retrato do grito
De horror de um anjo morto
Ah... Prelúdios de agonia
Como emoções tão justas
Podem nos revelar a apostasia
Das ambições mais augustas?
Vestidos de ecos, meus murmúrios
Borrifam os delírios vistosos
Como muitos oásis virtuosos
Que meus desertos tornaram tugúrios
Cheio de fins, as emendas se derramam
Em tantos sonhos, tantos gostos
Que um sôfrego reviver me é imposto
Diante das baças visões qu'emanam
Até que, o pesar dos lânguidos silêncios
Perturba meu pensar almejado
Avultando a estéril flama de escárnios
A esgar meu aprendizado alçado
Meu único refúgio, ao se tecer
Consome do meu sangue o alimento
Para, ao revelar os algozes, arrefecer
Sob o peso dos Hinos como meu alpendre
As melodias que tocam nos templos
Do meu sentir, adornado com êmbolos
De um maquinário exausto de saudades
Decompostas por olhos imersos em escuridades.
By: Bruno
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