segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Canção do recortado


Sou um recorte tirado
Das páginas secretas da vida
Rascunho revirado, remontado
Composto de letras perdidas
Incapaz de amar o amor
Surpreso com o misto torpor
Das entrelinhas envolvidas
Por estrelinhas enternecidas

Colocadas em discreto santuário
Imersas num imenso vocabulário
Quadras que conectam o desejo
De harmonia, em belo ensejo
De quebrar o sacrílego conforto
Da pureza em braços de vidro
Envolvida - Retrato do grito 
De horror de um anjo morto

Ah... Prelúdios de agonia
Como emoções tão justas
Podem nos revelar a apostasia
Das ambições mais augustas?
Vestidos de ecos, meus murmúrios
Borrifam os delírios vistosos
Como muitos oásis virtuosos
Que meus desertos tornaram tugúrios

Cheio de fins, as emendas se derramam
Em tantos sonhos, tantos gostos
Que um sôfrego reviver me é imposto
Diante das baças visões qu'emanam
Até que, o pesar dos lânguidos silêncios
Perturba meu pensar almejado 
Avultando a estéril flama de escárnios
A esgar meu aprendizado alçado

Meu único refúgio, ao se tecer 
Consome do meu sangue o alimento
Para, ao revelar os algozes, arrefecer
Sob o peso dos Hinos como meu alpendre 
As melodias que tocam nos templos
Do meu sentir, adornado com êmbolos
De um maquinário exausto de saudades
Decompostas por olhos imersos em escuridades.

By: Bruno

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