quinta-feira, 31 de julho de 2014

Esoterismo


                       À Abe no Seimei

Sinto saudade do tempo da espada
Onde os glamourosos samurais
Ensanguentavam suas lâminas
Com o sangue dos youkais

E escorrem as dores, cortes precisos
Dos ferozes embates, entre sombras
Ying e Yang, das esotéricas escolas
Mescla resultante em um ideológico inciso  

Nas atemporais vestes do presente
Cada carta lançada, um feitiço se ressente
Com as magias alcançadas, mistérios desvelados

Escrúpulos derrubados, vingança sem remetente
Sacrifico as manifestações do meu poder remanescente
Para alcançar a imortalidade, com marionetes alienadas! 

Bruno Borin

terça-feira, 29 de julho de 2014

Anástrofe


Por querer entender tudo por vocábulos,
Esqueci do marulho violento dos silêncios;
Por querer brincar sempre com arábicos,
Perdi a conta dos rumos numéricos

Que habitam em todos os cálculos,
Em todas as escanções, as marolas;
Partidas canções, são escolas
Ignoradas pelos ígneos âmbitos

Do deciframento, empilhamento
Vão das minhas utilezas, 
Desconhecidas sutilezas, 
Do maroto temperamento,

Meu gradual aniquilamento, 
Sórdido escoamento 
Das virtudes, um sacramento
E eu nem mais entendo

As abrasivas virtudes que colorem
As minhas almas quebrantadas,
Por nódoas que percorrem 
Meus corredores de significados 

Aviltadas pela possibilidade manchada
De um entendimento que foge de mim
Procurando à mil léguas o urdido estopim
Da contradição mais mascarada.

By: Bruno

sábado, 19 de julho de 2014

Andarilho


Nas trôpegas agruras que assolam a alma
O real mancha-se incognoscivo
Produzindo nos suspiros de cor alva
A agonia dos químicos nocivos

Doces dores tornam os Sóis salobros
Ao gosto do passar dos dias
Enquanto os peitos que bramiam
Em gaiolas ósseas tornam-se escombros,

Portando ainda os desejos cínicos
Dos sonhos desmanchados em alforria
Nos Tantálicos devaneios corroendo os físicos
Lumiares da lide qu' enfraquecida, se angustia.

O quadro de aflições se pinta decadente
Enquanto eu, almejando roubar a luz
Do sol que desponta, na indecente
Insônia que me obriga a fugir da cruz

Seguindo como Mefisto, contratando 
A grandeza da queda das estrelas 
A lidar com a eternidade que, me esmagando
Me faz rebelar contra, dos meus ideais, as Capelas

Das ambições; improfícuas historinhas
Fugazes como as medrosas fuinhas 
A compor os favos dos versos
Que se debruçam em depoimentos belos

Cerzindo com linha desconhecida
A vida unida à poesia que sigo,
Alheia ao relógio que, entristecido
Demarca o meu transcorrer indefinido

Como um Nauta, procurando no infindo
Oceano das ideias o vernáculo certo
Desbravando da tempestade o enxerto
Que suplantará a lacuna de absinto

Que surge entre as fortes dores
Do autoconhecimento, convalência
Dos eus em múltipla convergência
Formando o matiz das únicas cores

Que povoam meu corpo, alegorizando
A algazarra interna, a infâmia mental
Demonstrando o medo total
De ter o futuro prometido, agonizando;

Posto já estar por aí vagando  
E não encontrar réquiem para pousar
Jeito é continuar andando
E ter os enigmas na cabeça a vozear.

By: Bruno

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Meu mundo...


Meu mundo é um castelo de vidro
feito de cada palavra que eu sonhei
disse ou escrevi; suas rachaduras
são as linhas em que o sentimento
percorreu, preenchendo cada parede,
compondo as veias desde coração
moldado nos pergaminhos da vida
e lido por olhos pousados com ternura
em tão moucos gritos e silêncios misteriosos
até que, tijolo por tijolo, este castelo
se reforma e é inteiramente outro,
outros ornamentos, em tantos mesmos
corredores espelhados, refletindo
 a depuração das pulsações incessantes
que demarcam sua eterna transição.

By: Bruno

As garças

Pousadas no reflexo abjeto do rio
as pequenas garças são encarnações
da pureza das águas que criou asas
na tentativa de ganhar os céus
esquecendo-se de que uma vez vivas
ficariam presas ao rio, sua matriz
em busca de seu sustento 
bicando atentamente as memórias
presas na molecular verdade
que nos é inconveniente.

By: Bruno

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Movimento


Um verso repete
Uma brisa fresca
Na força que impele
D'uma aberta fresta

A melodia intérprete
D'uma vida romanesca
No labor daquele
Que lapida a aresta

Amolando o filete
Da linguagem que esga
A cada ramalhete
De vocábulos em seresta

Encantamentos da floresta
Povoando a mescla
Da cidade egesta
Aprumada em paquetes

Ardis de pura mágica 
Ou rituais elaborados
A vida é porção rica
De palavras intencionadas

Pipocando a ventura
Da linguagem, pátria
Da tristura ignota, pária
E da glória da cultura

Em puro sorteio
Alinhavando o gorjeio
Dos pássaros e dos homens.

By: Bruno

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Criação

Crio como se nada houvera
mas sigo observando como se tudo fosse
a inexorável curvatura da Terra
onde tudo acontece e tudo me comove
e do meu espaço, crio a pura expressão
das mudanças que assisto tão enternecido
navegando por espaços de contemplação,
esperando a metafísica me atingir da cadeira
de onde assisto os meus queridos mistérios
até que, um a um, como aparelhos tecnológicos
vão se assentando na grande montra
de meus olhos solsticiais, nada preparados
onde se imprimem divergências cognitivas
e estas cognições podem se misturar, marejadas
no ruído longínquo e próximo;
emaranhado de símbolos e pilares ignotos
que penso corresponder à minha alma.

By: Bruno

domingo, 6 de julho de 2014

Ingresso


Me sobressalta o ingresso de um poeta à eternidade
Sai da vida e entra na poesia constituindo trindade
Sem corpo, somente ausência em suas mensagens,
Somente seu legado é bem visto, caminho de imagens
Enroladas em um manto de frias horas 
Suspensas por escancaradas portas 
Abertas avulsas pelos experimentados
Sentimentos e, nas palavras depositados,
Encaixados nos emaranhados da vida
Compondo uma biografia invertida
Em ritmo e gestos marcados dos instantes
Do mundo em que se foi, sucedido vacante
Por outros e outros que assim o são
Cometendo a ousadia da unicidade 
Habitando a linguagem em pura expressão
De sua mais intranquila liberdade.

By: Bruno

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O amor deseja que tu cases

                                       À Edna Barrera 

Para quem vive e sente do amor
Seu poder, tornando sólido o espaço
Entre a Terra e o Céu misterioso e baço;
Esta alegria concede ao sonhador

Na sagração da vida em seu mágico vigor
A materialização dos sonhos mais vistosos
Em linhas percorridas com gestos virtuosos
Compondo a paisagem da vida em flor,

Pois é onde está, a poesia de cada dia
Sendo escrita dos silêncios embriagantes,
Da convivência formosa dos amantes, 

Do sentimento cultivado com toda energia,
E a vida vivida com um sorriso estonteante;
- É Neste amor que vives que está a poesia de cada dia!

By: Bruno

Soneto conflituoso

Aos poucos vou deixando de ouvir
Vou deixando de lado a minha voz
Vai luzindo chinfrim até bem palir
Embaçando, da magia a minguada foz

Vai sumindo, vai zunindo devagarinho
Feito cheiro de chuva, poucos dias após
Até mal restar o malgrado do burburinho 
Daquele clima ruim despejado à grós

Nos conflitos, nos questionamentos
Que marinam sem páprica até explodir
Estragando a receita da casa até confundir

Todos os sabores e nada restar dos condimentos,
Povoando de vozes inssossas a cozinha, a consentir
Os paladares apregoados de impropérios a desferir.

By: Bruno