Hórus impacientado
Que a tudo vê e sente
Preso no eterno repente
De onisciente emoldurado;
Que achas do mundo em que acordaste?
Confuso, imagino, com tantas visões,
Totalmente cerceado por inúteis razões
Num céu vertiginoso e sem estandarte,
D'onde ergueste as vastas pupilas
E os grandes glóbulos arregalaste
Percorridos das trevas que tanto alastraste
Para prolongar teu grande Sono que sibila
Em nós, a magia austera da conspiração,
Dize-me, Hermes era tão ingênuo assim,
A ponto de dar a narcísica vasão
À estes vãos cultos e festins?
Inda qu'em calmas mensagens o vento ermo
Te perpasse quando acordas, e traduza esta era
À vaga sombra do dia enfermo;
No teu coração não haveria um espanto que reverbera?
Contrastando com a tua Graça, amarga e triste
Quanta melancolia se funde à tua vazia comunhão
Numa procissão de todas agonias que existem
A pedir o cessar, negado à exaustão
No espasmo da lembrança de áureos passados
Teu vulto não soma-se aos vagos letargos,
E tua eterna existência ao puro sarcasmo;
Conquanto de toda fé só restou o escarro?
Toda esta labiríntica nevrostenia
Dos ocasos ridículos das eras
Acumulando tantas inúteis quimeras
De plenitude, não o levaram à revelia?
Posto ser constante o pecado e longo o sono
O costume revogou Tuas potências supremas
Ao buscar sempre sensações efêmeras;
Concordo, vil foi a queda de teu trono!
By: Bruno
By: Bruno
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