segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
L'amour
Florescendo em nuvens de âmbar
Uma flor do jardim de luz,
Que se transforma em asas brancas
E cai suavemente sobre os ombros
Escorrendo carmesim
Sobre cada quimera cancerosa
Contaminando-as gota a gota
Com o canto dos cantos
Uirapuru quase Irapurá
Das matas do coração
Gemido das folhas da floresta
Suspiro ditoso das estações
Febril êxtase langoroso
Cansaço amoroso
Singular aventura
Quixotesca e com certeza
Dantesca
Olhos turvos
Bochechas rosadas
Lábios selados entre si
Para cada jura sussurrada
Há uma pétala dessa flor
Correspondendo a cada rubor
Das faces, dos corpos
Acalentados, destinados
Ó flor que me move todos os dias
Flor que me dá poesia
Seda dos vestidos das donzelas
Rio das Náiades mais belas
És lírio, margarida ou camélia
Até mesmo pode se tornar raflésia
- Com quanto dos seus encantos eu sonhei
E ao acordar, em pranto me acabei?
Tens um nome, mas prefere os vários que te dou
Em minhas inúmeras idealizações
Que meu solitário coração de bom grado acalentou
Sem qualquer tipo de reclamações
Gosto do seu nome mas confesso que prefiro
O mistério dos seus espinhos, com os quais eu sempre me firo
Eis que vejo na minha trova confusa
O resultado desse feitiço arcano
Que cintila de além da sombra profusa
Emanado dos corações dos anjos profanos
No frêmito das suavíssimas belezas
Dos ponderados substantivos
Faz-se, trajando-os de ermos adjetivos
A tentativa metafísica de colorir a incerteza
Que desponta das minhas vogais
Extendendo-se às complicadas consoantes
Enxertos de sentimentos talvez banais
De venturas talvez não tão brilhantes...
E o aroma do chá que me surge na memória
Urge na sina merencória
De lembrar que o amor, como Camões falou
- Um contentamento descontente
- Uma dor que dói e não se sente
Se parecem muito com bipolaridade e lepra
Entretanto...
- É nossa fagulha, nosso combustível. Qualquer ser vivo sabe disso.
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