quinta-feira, 29 de março de 2012

O lázaro sonho


Apodrece um Behemoth ao pé da montanha
De onde deslizam fétidos os inúmeros percevejos formados
Da constituição das larvas perante à carne e ossos desalmados
Vi a fermentação excêntrica da carcaça que se acanha

Tenebrosa visão combinava mais com o céu que estalava em raios e tormenta
Do que com a inocência e talvez incoerência das flores que ao redor, tentam
Aglutinar-se sem sequer imaginar o miasma oceânico e asmático
Que afluia espantosamente, tal qual se borrifassem um frasco aromático

Sonhei numa noite surpreendida por esta visão estarrecedora
Sem pensar em coisas luminosas, tampouco em trevosidades
O que eu gritava, perseguindo a agonia desta alucinação arrebatadora
Era o pavor hediondo de um pesadelo sem notoriedade

Morba constelação que empalidece bêbada
No silêncio pasmo de uma sonolência empoeirada
Furor precedido de um riso dopamínico
Que acalenta a noite inda a seguir maníaca

Agoniza a catedral aurórica, o vento uivava
Um caos medonho, infinita algazarra perpetuava
Pobre madeira cortada aos poucos, crepitava

E então desligo-me da alucinação refulgente,
Pois cintila o dever de partir da cama
Quando acordo daquele pesadelo recorrente,

Eis que desaparecia vaporoso
O vulto estranho e langoroso
Que me devorava tão obcesso e obsequioso

By: Bruno

terça-feira, 27 de março de 2012

Tentativa Metafísica


Mesmo que o céu e a Terra troquem de lugar
Eu sentirei as formas tão suaves quanto agora
A incerteza sempre me agarra como o luar
Agarra firmemente uma pequena amora

Manchando suas puras mãos com o licor ideal
Sem nunca poder escapar, sem rendição
Mas como as velas de um castiçal
Que embora aprisionadas, incendeiam-se com perfeição

Nas mais vastas e profundas claridades
Eu procuro minha destruição em suas mãos
Mesmo sua inexistência compondo minha fragilidade

Foge ao insípido olhar, as falhas dos respingos da chuva
Desenhando dezenas de espirais nos recantos dos olhares
Escondendo a eternidade em inconfiáveis altares

Ainda não sei extrair do verão o pesadelo previsto
Embora sempre consiga, em vão, extrair o amor imprevisto
Do cotidiano moroso e por vezes inconveniente
Mas com um horizonte brilhante certamente conivente

E então, que vejo o céu nublar-se tenebroso mas fantástico
Despencando sem cuidado seus ventos nas telhas resistentes
Mas ao mesmo tempo sussurando baixinho porém estático:
"-O amor, aquele que vos arrebata em gotas, jamais estará dormente!"

By: Bruno

terça-feira, 20 de março de 2012

Quando fecho os olhos nestes dias vagarosos


Você empurrou para longe os espinhos que bloqueavam a luz
Que caíram em forma de pétalas sob os seus pés descalços
Enquanto a chuva se tornava uma névoa e transbordava manchando o horizonte
Eu sou um espelho, refletindo a flor da noite perdida na luz dos dias solitários
Ziguezagueando por uma estrada repleta de nomes que não tem donos
E conforme meus passos se apressam, um a um eles vão desvanecendo

O sol gentil sob os arvoredos é um cenário que sempre sorri do mesmo modo para mim
Não importanto se o canto dos pássaros diferem em algumas notas
Eu por vezes escuto o agudo da sua voz entremeando as tristes marcas que fincaram em meu [coração distorcido
Onde as flores estão enterradas no mar em ruínas, insonoramente amassadas
Eu me pergunto, vivendo imerso nesses dias vagarosos
Eu sorrirei ao lembrar destas memórias macias?
A resposta adormecida não pode ser acordada agora
Como um pardal cansado do alvoroço de seu cotidiano
Que acorrenta-se a um galho e só desperta de seus sonhos
Se não tiver caído do galho ao som das avenidas e dos passos

Mesmo que essa nódoa de poesia seja uma paisagem imaginada e fustigada pelo vento
Eu não o cobrirei de nomes dos quais me encantariam momentaneamente
Eu cobrirei dos seus doces silêncios que estejam cobertos com o meu sangue
O meu pranto, deixado nas mãos das noites incertas que vivo
Formam suas imagens vivas dentro de um despertar inspirado no cotidiano
E então eu caminho olhando para um sol pesado demais para meus olhos
Não apenas por mim mais, mas por sua visão salpicada de nervosismo
E carrego a única certeza de que você não leria tudo isso que lhe escrevo.
Assim como não olha nos meus olhos nas manhãs bem aventuradas
Assim como nem sei se você é a real incerteza dos meus sentidos
Ou se você é a mentira que colore meus olhos diariamente.

By: Bruno

terça-feira, 13 de março de 2012

A bela visão

Sufoco-me com o meu pensamento
Nunca soube de pensamentos tão discernentes
E de pernas tão complacentes
Ao que sentiria agora tão sem firmamento

O lânguido observar desperta o desejo
Membros tão moventes realçam a ansiedade
Meus olhos eram guiados por aquele irreal cortejo
Ah como eu quis a fuga daquela realidade!

Através do meu lampejo de inconstância
Minha agonia flui através daquele andar
Como uma brisa no horizonte irrelevante
As manhãs agora vertem em um magnetizante olhar

Um misto de infante desejo e de delírio maduro
Na visão de pernas que como duas feitiçarias exorbitantes
Desfilam nobres configurando delicadezas excitantes
Rítmicas, mas instáveis ao passo que enclausuro

Minha alma que se agita e se farta
Destrutiva e mundana
E em uma aurora de sonho aparta

Meu corpo, meus pobres sentidos!
Prófugo remoedor das asas celestes
Caminhando cada vez mais consumido.

By: Bruno

segunda-feira, 5 de março de 2012

A desprezível

Safo com intenções de deflorar a própria carne
Soluçando secretamente os partidos desejos
Somente em sonhos via realizados seus profundos arquejos
Incapaz de verter as algemas da singular solitude em seu escarne

De pálpebras abatidas porém vivas
Sempre retira suas culpas através de seu martírio
Mascarando com um sorriso tensões excessivas
E em seu leito acalentado com a sedução dos lírios;

Regozija enquanto as visões misteriosas do mar
São os delírios mais indulgentes do pensamento humano
Safo não consegue separar-se dos mornos palores mundanos
Sombreando-se da tradição blásfema, seu sustento, sonhar

Safo contaminada como uma maçã mordida
Sob os lençóis a ruminar o desejo imoral
Todos os dias levanta-se com um luto descomunal
Lamenta não poder entregar seu coração ferido

Aos suplícios implora a uma Vênus indiferente
E esta sabe que Safo deseja até mesmo seu corpo ideal e ardente
Mas nenhum Deus diante do desprezível se torna clemente,
Olhando do céu com um riso debochado e indiferente!

A volúpia, o coração, naufragam cínicos porém purpurados
Quando notaram-se distantes daqueles paraísos perfumados
Que poderiam alcançar mesmo tristes, mesmo artificiais
Pobre Safo de desejos fracassados e superficiais.

Safo com intenções de deflorar a própria carne
Salva em sua imortalidade culposa
Resume-se em adorar letárgica as desejosas
E vastas ancas das hetairais
Na lassidão quente do eterno reencarne.

By: Bruno

sábado, 3 de março de 2012

O elevador

Um elemento realmente precioso nos dias de hoje é o elevador, pois que desgraçado subiria talvez dezenas dos melhores andares de um prédio, numa tentativa frustrada de não precisar de um maquinário para tal? Ainda sem mencionar circunstâncias especialíssimas como um incêndio ou uma espantosa rachadura em uma viga? Percebo que até mesmo algo tão preciso nos abandona nos momentos dificultosos da vida. Em muitas das minhas realidadades me pego utilizando deste meio facilitador, para alcançar andares que meu fôlego cardíaco teria um custoso desempenho, talvez mortífero.

E, numa destas realidades, numa aventurosa entrada num desses púlpitos tecnológicos, conforme as portas do elevador se fechavam a luz estreitava até encontrar seu fim nos deixando em um escuro carregado dos meus risos e do grito talvez irônico de minha amiga. E então langorosamente ele subia, numa viagem opiácea até a biblioteca, onde íamos com o intuito de procurar livros jurídicos. Nenhuma entidade mitológica nos atazanara, nenhuma coisa estranha ou coisa estupefata eu creio, nada além de nossos próprios medos modernos, transferidos dos animais predadores para o maquinário potencialmente psicótico e desemotivo. Mas mesmo assim houve-se gritos.

By: Bruno

sexta-feira, 2 de março de 2012

O imprevisto

Percebo que me deixando persuadir por trevas tão honestas
Deixo à mostra, num ato tão desprovido de lógica
O meu sofrimento, que para tais olhos deve ser como cobalto

A luz me pisca uma verdade desonesta
A mesma verdade que persegue cáustica
As folhas mortas abandonadas no asfalto

E quando sinto, é uma coisa bem inspirativa
Vozes incertas, como em uma alucinação auditiva

Pois então cada vez que bebo, ergo um templo em meu peito
Reconhecendo assim a arfante respiração dos satisfeitos

Surtos bastante comungados, das minhas agonias
Cultuando uma missa negra tão feliz

Dotados de esperançosas fantasmagorias
E do orgulho humano que sempre me diz;

Advertindo-me que nado em infinitas imprudências
No sacro anoitecer das muitas semanas invividas
Ou nos profanos amanheceres serelepemente escarniosos

E então dissolvo a ebriedade nas várias cadências
Que o tempo obriga a serem acolhidas
E pois que os mecanismos de defesa elucidam nestes versos fantasiosos!

By: Bruno