segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Sonho Embriagado


Tingindo num instante os ritmos lentos no clarão dos dias
Galhos secos compõem toda a pontuação e as vírgulas
Enquanto tento montar perfeitamente com asinhas de muitas libélulas
Junto a um bom cálice a escorrer na garganta velhas rebeldias

E com a folhagem seca teço um estojo verde de ouro manchado
Debaixo de esplêndidas flores onde o amor dorme
Onde essa pequena busca finda e se recolhe
Reconheço que estas luzes são um bom bordado

A acrescentar aos murmúrios surdos que despertam
Como pensamentos desgarrados pelo violino
Ao som do álcool mergulhado no verso paladino
Estalando aos céus cujos soluços as florestas adoçam

O horizonte corrompido por luzes elétricas
Adormecem os hipocampos que imóveis adornam-se
Delirantes vogais do subconsciente com tendências assimétricas

Até que o amargor do sol extermina a torpeza embriagante
Com que o amigo atroz da lua, Hipnos, tratou de perfumar o sono
Reconheço as manchas de vinho verde no alambrado que percorro
Levando o orgulho dos horrores místicos na melodia do verso entoteante

Ao infame sonho de portas pretas que guardam as velharias
Dos muros com florações leprosas por quais ao ranger
Coloco minhas mãos langorosamente, em busca das calmarias
Da gentil aspereza e dos pequenos astros mesclados a colher

Assim como a carne das mordiscadas maçãs
Deles sem lamentar; a liquidez do tempo
Que se esvai banalmente por incuriosidades vãs

Então vê que as trevas são elas próprias as telas
Onde são pintados os destinos mais desastrosos
Com sons indistintos a ecoar pelas capelas.


*Hipnos: Deus grego do sono.
By: Bruno

domingo, 27 de novembro de 2011

Dir-se-ia

Dir-se-ia os minutos que passam depressa
Refletindo a palidez do passado que se esquece
Imitando por muita vez a formosura do sonho que regressa
Subtraído do ID que sempre desobedece

Dir-se-ia os olhares que se cruzam
Para nunca acontecer novamente
Sutil movimento enquantos corações passeiam
Que o acaso os mostra nobremente

Dir-se-ia o mal que nos torce
À caminho de casa mas não é percebido
Rápidamente se apoderam do espírito dormido
Muita vez por satisfação torpe

Dir-se-ia pluviosê a afogar as terras
Aguando as ramagens secas
Afastando as arribações cerranas
Arranhando as rudes janelas mundanas

Dir-se-ia os desejos não cumpridos
Ao pé da cova semeando ruindade
Afagando a moral rompida
Sobrepondo-se a maldade

Dir-se-ia com tristonha voz
De fantasma friorento
O calor da vida em apodrecimento
Consumida por uma saudade atroz

Do tempo menino
Ou do amor perdido.

By: Bruno

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Noctuae

No dorso de seda da tenra noite
Ao olhar curioso da lua
O sonho que a inconsciência pactua
Me afaga com penas leves sempre após a meia-noite

A estrelar nas místicas pupilas ao dia
Febril meditação que as resguarda na escuridão
Aguardando imóveis o tempo de solidão
Onde estes amigos das trevas não sentem sua agonia

E quando esta chega espalhando assombros
Quando todo bom cristão seus olhos cerra
Sonolentos por esta vida de escombros
Ouvirão por vezes, os sonhos que ela enterra

Na hora que das límpidas estrelas
Vazam o sangue condenado dos que caem
Desfrutam os conhecimentos que absorvem
Da Árvore da Ciência, todas as universais grandezas

Assim mergulhando no infinito espaço
Calcando o amplo céu com seu incerto passo

Almejando a luz de um sol escuro e terno
Desde a presença do homem antigo até o moderno.

By: Bruno

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Projeto Baudelaire

Estou aqui pensando... Dezembro um mês em que vou colher todas as poesias aqui, organizá-las num caderno especial e tudo mais...

E se eu fizesse um post extremamente elaborado contando um pouco mais sobre esse meu mestre maldito? Seria ótimo e eu poderia amplamente falar sobre As Flores do Mal... este buquê tão humano e tão horrendo que é a beleza, o spleen não só do poeta, mas também dos humanos em si?

Who would know who was Charles Baudelaire?

Comentem ^^

sábado, 19 de novembro de 2011

Le Grand Bleu



Encolho-me mais uma vez em minhas memórias
Aquele azul foi o meu sol por tantos anos
Que perco a conta de quantas ousadias
Me foi viver deste delírio ao som do piano

Percorri o longo caminho do devaneio
Incorrespondido porém completo
De toda alegria e olhares repleto
Mas o seu grande azul era o meu receio

Eu quis me entregar, estava no outono
Do pensamento, da vida, da inspiração
Guiado por aquela grande aurora de ilusão
Sempre sonhando a te encontrar após o grande sono

No entanto eu sabia que minha visão idealizada
Feneceria eficazmente, me transportando à realidade
E eu sabia que aquele amor seria todo breviedade
Morreria, certamente, sem nunca ser uma realidade realizada
Sem jamais passar de um grande devaneio dentro sem ebriedade.

By: Bruno

Urbanismo

O ávido turbante anil da cidade remoe em nossas cabeças o fosfóreo pensamento cosmopolita. As árvores envergonham-se enquanto isso, de serem meros organismos espalhados no concreto roído. Mas são realmente visões que conquistam os céus, verticalizando todas as novas ideias sob a égide capitalista.

A fumaça dos carros se dissipa sob o voo despretencioso dos passarinhos, enquanto a janela do trem se comporta como uma foto movente. Naquele caminho traçado, aquele confortável azul me escondia do ruído, do frio. E estranhamente logrei de São Paulo a ausência de anaforismos, pois o ar poluto é estritamente necessário, as chaminés, os cigarros, a pressa e talvez um coffe break...

Jamais muda, a cidade realmente devora nossa solidão, vorazmente, escarniosamente cacofônica. Verminosamente? Depende, por onde olho há possívelmente um lirismo deteriorado. Bom, ao poeta cabe as inspirações e a virtude o destinguirá seja no lajedo ou numa poça amarga.

Bom voltemos aos passarinhos que vi, uma vez que eles não se importam com páginas de livros, não se importam com a fumaça que os empesteia e nem com ideias de criação ou de destruição, apenas voam sem pontuação. Devíamos nos embriagar desta virtude!
E eu nem citei os gatos, que a tudo observam. Certamente nos julgam, sua atitude emproa magnificência, existir passa a ser sinônimo de elegância e dândismo. O que será que pensam?

Nota: Permitimo-nos certa vez um toque de modernidade, não? Pois também os malditos anteriores pregaram tal Maldição da modernidade, há na fala de Rimbaud a comprovação; "É preciso ser absolutamente moderno". Bom não creio tanto nisso, porém que mal há em nos embriagar de um leve toque de civilização enquanto nos deliciamos com boa virtude poética?

By: Bruno

A porta

Vagueando por um corredor
Encontro uma porta qualquer aberta
Apenas uma sala com luzes e cadeiras
Ainda sim a porta me foi tão convidativa
Sempre ali, a espera de alguém que entre
e fique lá com todas aquelas luzes.

O que será que ela já presenciou?
Ela se pergunta se um dia verá algum acontecimento extraordinário?
Será?
E quantos espíritos passaram por ela?
E para quantos ela se mostrou cruelmente trancada?
Será ela cansada de ser verde?

Será isto apenas um resíduo de um pensamento precário?

By: Bruno

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Regresso do delírio

Mesmo se eu não voltar a ver a face do meu delírio
Ainda estou distante do fim desta recordação
Enquanto pétalas de tinta embalam esta nova adoração
Na forma do veneno que faz das minhas veias um martírio

Eu deslizo meus dedos pelo ar estático
Procurando as esperanças que me arranham lentamente
Fazendo destes sonhos assintomáticos
O meu banquete congelado e indesfrutavelmente
Doce como os sonhos mais puros
Que o céu gentil nunca faz escuros

O mar orvalhou ruivo nas minhas memórias partidas
Enquanto o meu coração sangra negro a paz dos dias sonhados
A mente sobrecarrega-se e corpo decai devagar, cansado

Encantos jogados de relance
Ingênuamente e à qualquer luz impercebíveis
Embriagado percebo-me caminhando para um romance

Fantasias são plumas perfeitas, mas pesadas demais para carregar
Sob os perfumes de Jasmim ou de vinho
Eu silentemente me endemoninho
Com estes novos delírios à mente deturpar!

By: Bruno

domingo, 13 de novembro de 2011

Inanição


Nalguma parede de um hospital abandonado
Encontra-se um cansado crucifixo bruscamente
Por orações e por prantos incessantes atormentado
Olvidado ao desespero e corrupção simplesmente

Almas desgraçadas seu sudário roubaram
Em busca de uma gota de luz que temperaria
O sabá tão esperado e que nunca os reviveria
Porém eles nem sabem que morreram

Apenas continuando suas súplicas
Sua faminta obcessão como borboletas a flamejar
Sob o êxtase, o grito, o choro a ecoar
Naqueles corredores em ardentes soluços

As aves mortas cantam umas canções bastardas
Que os distrai e que ao pequeno crucifixo
É de alguma forma um pequeno capricho
Representando a alucinação das coisas há muito tempo ignoradas

Este abismo tão cheio de estórias e blasfêmias sem fim
Por entre estes muros onde não houve nunca a luz
São para o peito humano um ópio e um florim
O mais negro spleen rompendo da morte todos os tabus

Goya* aos pés da eternidade;
É tão invejado pela forma como alimentou
Saturno com suas crianças, com tanta dignidade!
Até que o último pavor suspiroso findou!

Goya: Pintor do quadro "Saturno devorando seu filho.
By: Bruno

domingo, 6 de novembro de 2011

Yume

Eu sinto minha inconstância se distanciando
Quando eu colho gentilmente minhas memórias
Tentando proteger um pensamento qualquer
Da escuridão que decora o meu peito.

A eternidade passa por mim é apenas um sonho
Uma pequena sombra em torno da lua
A eternidade que passa pelo mundo
É uma brisa incorreta
Uma faísca em torno do sol

Nem toda lembrança é variegada de dor
Fluindo pelo tempo como um jardim colorido
A espera de uma colheita ou de um gentil fim
Que as abrace solitáriamente

Num ato mais profundo que qualquer gentileza
As estrelas iluminam o tempo incerto
Em direção ao amanhecer que se esconde
Com uma quietude abandonada
Nos enlaçando ao destino que nunca para
Sem nunca passar de um sonho...

By: Bruno

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Além da Solidão


A sombra por trás do sorriso que eu mostro
É uma gentil descupa para evitar que
Mesmo Ocultando os fantasmas que carrego em desfalque
Liberem todos os segredos que eu devoro

Dentro dos confins da minha falsa esperança
Sinto cada vez mais frio através das minhas feridas
Afagadas somente por minhas próprias mãos estremecidas
Imaginando um mundo colorido como uma criança

Subindo uma escadaria imaginária e vazia
Portando apenas uma máscara cada vez mais translúcida
Enxergando com olhos sem brilho através de uma escuridão lúcida
Sou forçado a encarar com toda insegurança a vida mais fastia

Nas minhas alucinações, onde eu posso ser eu
As trevas se tornam sons únicos, até as cores se desfiguram
O céu se torna apenas uma mancha escura
Onde deveria ser estrelado se mostra um coliseu

Nas flamas que eu imagino serem perfeitas
Tudo desmorona se corrompendo, perdendo sua vida
Partindo para sempre frágilmente liquefeitas

Olhando por uma pequena fresta agora
As cinzas inocentes deixadas por aquela chama
Que perdeu lentamente seu calor na aurora
Enquanto eu me escondia em um anagrama

Cada dia é uma rachadura na minha pequena máscara
Feita por minhas lágrimas sanguinolentas
Servindo de alimento para estas flores agourentas
Pavimentando os esqueletos que jazem ao som da cítara

Vagando com uma razão silenciosa
Por entre a grama amassada, mas ainda verde
Carrego algo que não se encaixa, porém não se perde
Tento indelicadamente entender sua utilidade luminosa

Antes que imagens embassadas
Se tornem as obcessões dos meus medos
Adoentando minhas emoções já conturbadas
Distorcendo minha percepção deste grande arvoredo.

By: Bruno